No dinâmico mundo empresarial contemporâneo, a crescente
conscientização sobre a saúde mental no ambiente de trabalho destaca-se como
uma necessidade premente. No entanto, ao direcionarmos nosso olhar para as
experiências específicas das mulheres, complexidades adicionais se revelam.
Ainda em 2024, enfrentamos a falta de consciência das narrativas subjacentes,
dos preconceitos e vieses que formam parte e perpetuam o paradigma atual. Problemas financeiros, jornada de trabalho
excessiva, pressão estética, responsabilidades desproporcionais nas esferas
domésticas, cuidado de filhos e pais idosos, pressões hormonais geralmente
silenciadas ou ignoradas são algumas das causas de adoecimento mental das
brasileiras hoje.
A jornada das mulheres exige resiliência diária. Segundo
pesquisa divulgada em outubro de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), o 65% do trabalho de cuidado, não pago, em
média para todo país é realizado por mulheres.
A discriminacao de gênero se manifesta na falta de
oportunidades, nas barreiras para o avanço e desenvolvimento, o desgaste
emocional em ambientes de insegurança psicológica, a diferença salarial
persistente, obstáculos como a síndrome do "piso pegajoso" – um discriminatório que mantém os
trabalhadores nos níveis mais baixos da escala de empregos, com baixa
mobilidade e barreiras invisíveis para o avanço na carreira, além de outros desafios que permeiam
esse cenário.
A chave para abordar efetivamente a saúde mental feminina reside
na construção de lideranças verdadeiramente esclarecidas. Não basta oferecer
benefícios ou políticas inclusivas, é necessária a modelagem genuína de
comportamentos desde o topo da hierarquia. Os gestores, homens e mulheres, devem
compreender as fases da vida das mulheres, promovendo uma cultura que respeite
e celebre a diversidade de experiências. Deve ser parte da conversa. E tudo
isso sob o guarda-chuva da segurança psicológica, ou seja, da criação e
sustentação de um ambiente onde as pessoas conseguem ser elas mesmas sem medo
de serem castigadas ou ridicularizadas por isso.
Já é hora de avançar da conscientização para a ação, criar esses
espaços seguros onde compartilhar vulnerabilidades. Tomar ação requer uma firme
intencionalidade por parte das mulheres e uma profunda conscientização por
parte de toda a sociedade, homens e mulheres.
Segundo a pesquisa “Esgotadas” da ONG Think Olga, 45% das
mulheres lidam com depressão e ansiedade e outros transtornos mentais, como,
devido à sobrecarga de trabalho, contribuindo assim para o aumento dos níveis
de estresse e burnout. Nesse sentido, a educação sobre saúde mental e o fácil
acesso a recursos, são medidas que
não podem continuar desatendidas se queremos maximizar as contribuições dos
colaboradores nas empresas. Não há sociedade que se beneficia quando as
mulheres não conseguem se desenvolver e contribuir.
Enquanto avançamos, é crucial aprender com as armadilhas do
passado. Treinamentos engessados e obrigatórios, foco excessivo em cotas sem
atenção à cultura organizacional e práticas que ignoram a diversidade de
experiências podem minar os esforços de inclusão. Sendo assim, o
compromisso contínuo da liderança, métricas claras e uma abordagem diferenciada
e orgânica são cruciais para driblá-las.
Em conclusão, as mulheres não estão apenas no mercado de
trabalho, elas moldam e sustentam o próprio tecido do ambiente corporativo. Ao
reconhecer a responsabilidade compartilhada, podemos construir um futuro onde a
saúde mental feminina não seja apenas uma pauta, mas uma realidade. A cultura
de uma empresa que quer ser saudável e ao mesmo tempo lucrativa só pode se
construir e sustentar com a contribuição de todos. Quando as mulheres sofrem de
problemas de saúde mental no lugar de trabalho, não conseguem contribuir e
co-criar essa cultura, acaba sendo mais pobre para todos.
É hora de alavancar e acelerar os aprendizados para chegar em
uma inclusão efetiva e real, não somente no discurso. Criar ambientes que
apoiam e sustentam as mulheres junto com uma mudança de mindset para que as
organizações não percam de se beneficiar da riqueza e abundância que elas trazem.
Veronica Magarinos - head da Hyper Island Habla Hispana, consultoria global especializada em jornadas de aprendizado e transformação
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