Juízes anulam decisão da Suprema Corte do Colorado que tornou o republicano inelegível na disputa. Especialista do CEUB avalia risco aos adversários
Por decisão unânime, a Suprema Corte dos Estados
Unidos decidiu que o ex-presidente Donald Trump tem o direito de concorrer nas
eleições presidenciais deste ano, anulando as decisões de tribunais estaduais
que tentaram responsabilizá-lo pelo tumulto no Capitólio em 6 de janeiro de
2021. Danilo Porfírio, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário
de Brasília (CEUB), avalia os desdobramentos do caso, com vantagem potencial
para Trump, colocando em risco a reeleição de Joe Biden.
Qual é o impacto político e legal
da decisão da Suprema Corte permitindo que o ex-presidente Donald Trump dispute
as eleições presidenciais?
DP: É possível que a Suprema Corte não ignore a
gravidade do ataque à democracia, porém, na prática, ela não condenou
diretamente Trump neste caso. Ele continua elegível e competitivo, o que sugere
que a campanha presidencial será acirrada. Os democratas precisam estar
atentos, pois Trump mantém uma vantagem potencial. Biden corre o risco de
perder a reeleição.
Como essa decisão pode
influenciar o cenário político nos Estados Unidos e as perspectivas para as
eleições presidenciais de novembro?
DP: A situação dos democratas fica um tanto
complicada, até porque o governo Biden não é bem avaliado. Sabemos que nas
pesquisas eleitorais o Trump está em vantagem, o posicionando como candidato
altamente competitivo. Então há chances de retorno dos republicanos, mais
precisamente de Trump, à Casa Branca.
Qual é a precedência legal para a
decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos em relação à qualificação de
candidatos presidenciais com base em eventos passados, como a insurreição do
Capitólio?
DP: Voltamos ao cerne da questão: Trump está sendo
acusado de minar o Estado Democrático de Direito e a República Americana. No
entanto, até o momento, não houve nenhuma condenação efetiva contra ele. O que
a Suprema Corte considerou é que os princípios garantistas e constitucionais
devem ser respeitados. Isso inclui o processo legal, o direito à ampla defesa,
o contraditório e a exaustão de todas as instâncias judiciais. Até que esses
procedimentos sejam seguidos, não podemos afirmar que Trump seja inelegível.
Não há precedentes porque não houve um processo legal completo. Portanto,
dentro do princípio da presunção de inocência e da ausência de uma condenação
definitiva, Trump estaria apto a se candidatar.
Considerando a natureza política
e polarizada do país, como essa decisão pode afetar a confiança pública na
integridade do processo eleitoral e na imparcialidade do sistema judiciário?
DP: No contexto da polarização, é comum questionar a idoneidade, a integridade e a imparcialidade. Isso faz parte do jogo político. No entanto, cabe questionar retoricamente, sem agir de forma contrária ao estado democrático. Deve-se respeitar as opiniões de todos, mas não permitir que se transformem em ações de confrontação, pois isso levaria a repetir o que está sendo atribuído a Trump.
Se a maioria da população apoia Trump e,
consequentemente, corrobora a decisão da Suprema Corte, haverá insatisfação por
parte dos democratas. No entanto, em nome da ordem republicana e dos princípios
democráticos, é crucial obedecer à decisão da Corte. Caso contrário, os
democratas correm o risco de se assemelharem aos republicanos seguidores de
Trump.
Levando em conta que a decisão da
Suprema Corte foi unânime e que a maioria dos juízes é conservadora, como isso
reflete o equilíbrio de poder dentro da corte e quais são as implicações para
futuros casos relacionados à política?
DP: A decisão unânime indica que até mesmo os não
conservadores reconheceram a validade do argumento jurídico que sustentava a
elegibilidade. Argumentar a favor do conservadorismo não justifica uma decisão
tendenciosa. Isso só ocorreria se a minoria divergisse da suposta maioria
conservadora. O que podemos observar é que o critério utilizado, foi jurídico,
processual e garantista, e isso foi em benefício de Trump.
Além das implicações imediatas
para a corrida presidencial de 2024, que impacto essa decisão pode ter nas
interpretações da Constituição dos Estados Unidos relacionadas à elegibilidade
de candidatos e ao papel dos estados no processo eleitoral?
DP: A Suprema Corte Americana desempenha papel
semelhante ao do Supremo Tribunal Federal no Brasil e às Cortes Constitucionais
Europeias. Sua função é uniformizar interpretações da Constituição por meio de
precedentes e jurisprudência. O que prevalece não é apenas a Constituição em
si, mas a interpretação compartilhada de seus princípios constitucionais, sendo
a Suprema Corte a instância final de decisão. Portanto, é provável que, após
essa decisão, os estados que impediram a participação de Trump não repitam seus
posicionamentos.
Como essa decisão pode moldar a
estratégia política de Donald Trump e do Partido Republicano para as próximas
eleições e além, considerando seu impacto na percepção pública e nas dinâmicas
partidárias?
DP: Certamente, Trump aproveitará essa situação ao máximo, alegando que estava sendo perseguido. No contexto do neopopulismo e, mais especificamente, do populismo americano à la Trump, a ideia de martírio deve ser explorada, assim como a percepção de vitimização. Além disso, o candidato provavelmente destacará sua capacidade de superar essas adversidades como líder potencial.
Em outras palavras, ele vai enfatizar a confiança
no sistema legal americano e sua habilidade de superar as perseguições impostas
pelo sistema. Também tende a explorar essa narrativa em relação à sua oponente,
Nikki Haley, que será retratada como associada ao establishment, uma candidata
que representa os interesses do sistema. Enquanto Trump se posicionará como
antissistema, o representante da América autêntica, da sua essência profunda e
dos valores do americano comum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário