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No Dia Internacional das Mulheres uma profusão de flores é entregue por todos os lados. Antes mesmo de levantar-se da cama, certamente uma mulher já recebeu uma mensagem de parabéns acompanhada por uma rosa virtual, senão por um buquê real e bem florido.
As flores, sem dúvida, têm papel garantido para
representar esta data. O que não podemos esquecer é que o 8 de março vai além
da celebração, deve lembrar que graves problemas de gênero ainda persistem por
todo o mundo. E que, para além das flores, as mulheres merecem um tipo
diferente de buquê, que deve ser entregue todos os dias.
Um buquê de respeito. Grande e florido, com pétalas
de igualdade de direitos, ramalhetes de cumprimento às leis de proteção à vida
da mulher, botões de reconhecimento florescendo, folhas largas de valorização e
o aroma marcante e reconfortante da dignidade. Sem as ervas daninhas do
machismo, da misoginia e da violência. Um arranjo forte para afastar as piadas
que, mesmo feitas sem perceber, diminuem e constrangem. Que seja forte para
deixar longe o silêncio que incentiva tais comentários, quando tudo o que se
deseja ouvir é uma voz de defesa. Sim, somos fortes, corajosas e lutadoras, mas
também queremos ouvir outras vozes ecoando nossas lutas.
Um ramalhete de flores tem o seu valor. Mas em uma
realidade na qual milhares de mulheres sofrem violência diariamente, esse não
pode ser o presente para esta data tão representativa. Enquanto mulheres ainda
recebem salários inferiores, são abusadas, violentadas e culpadas mesmo sendo
vítimas, as flores não podem vir desacompanhadas.
Em um país com a quinta maior taxa de feminicídio
do mundo e onde 35 mulheres são agredidas física ou verbalmente por minuto, o
buquê de respeito precisa ser entregue antes das flores. Não é fácil colher os
elementos de um buquê tão valioso quanto esse. É preciso apurar todos os cinco
sentidos e acrescentar mais um: a empatia. Pois só nos abrindo para ver o que
vai além das nossas vivências, olhando para o outro e suas dores, é possível
colher a preciosidade que é o respeito.
Jéssica Chagas - baiana, mora em São Paulo e
escreveu A história de como eu morri
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