Nos últimos dez anos, 51% dos lares
brasileiros passaram a ser chefiados por mulheres. Ao mesmo tempo, elas ainda
precisam lutar mais para garantir o sustento de suas famílias e superar o desemprego
acima da média nacional
As mulheres são maioria na população brasileira, têm nível de escolaridade maior que os homens e assumiram a chefia de 51% dos lares brasileiros nos últimos dez anos, mas são elas também que enfrentam, ao lado das pessoas negras, o maior índice de desocupação no país, fechando 2023 com taxa acima da média nacional. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam um cenário que coloca as mulheres brasileiras em uma verdadeira corrida de obstáculos para conquistarem seus espaços, reflexo da construção social que ainda as desfavorece.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
Contínua apontou que, no último trimestre de 2023, as mulheres registraram uma
taxa de desemprego de 9,2%, enquanto os homens alcançaram o índice de 6%. Nem
mesmo a maior escolaridade feminina — na população com 25 anos ou mais, 19,4%
das mulheres tinham nível superior completo em 2019 e somente 15,1% dos homens
tinham esta formação — tem sido capaz de equiparar o acesso aos postos de
trabalho. Como extensão deste mesmo panorama, a desigualdade de renda no Brasil
faz com que as mulheres recebam 26,2% menos que os homens.
“Não contrata mulher, ela vai engravidar”
Uma pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) revelou que, no Brasil, 84,5% das pessoas têm ao menos um preconceito contra mulheres. O estudo revelou ainda que 31% dos brasileiros acreditam que os homens têm mais direito ao trabalho do que as mulheres ou que homens fazem melhores negócios do que as mulheres.
Para a orientadora de carreira da Refuturiza, Ellen Murray, os principais motivos que levam as mulheres a viverem a maior taxa de desemprego são, justamente, culturais. “Se você, mulher, é mãe, é questionada com quem deixa seu filho. Eu já ouvi: não contrata mulher porque se ela está casada, vai engravidar.
‘Não vou te contratar porque você é mãe, você vai procriar’. É assim, você pode trabalhar, mas vai ter um piso salarial menor”, diz Murray.
A especialista afirma ainda que o estigma de associar o trabalho como algo ‘difícil demais’ para a mulher que é mãe é a primeira barreira utilizada para não seguir com uma contratação. “É preciso enxergar que para a mulher sempre vai ser mais difícil, principalmente para a que tem filho, uma mãe solo. E é difícil porque a sociedade impõe que é, não porque ela vê assim. Eu sou mãe solo e para mim essa jornada [na carreira] é prazerosa, mas a sociedade impõe que é difícil’, aponta Ellen Murray.
A cultura permeada pelo machismo e patriarcado é um fator
destacado pela profissional como agravante para o desenvolvimento profissional
das mulheres. “O mercado de trabalho ainda é muito machista, com ambientes onde
a mulher sofre abusos, às vezes em um tom de brincadeira, uma olhada, e isso
faz com que nós deixemos a área profissional de lado para nos dedicarmos dentro
de casa. Assim acabamos reproduzindo aquela visão antiga de que a mulher serve
somente para o trabalho doméstico”, destaca.
Como reflexo de uma sociedade que ainda privilegia os
homens, Murray ressalta que a falta de oportunidades também dificulta o acesso
das mulheres aos postos de trabalho. “A gente não tem as mesmas oportunidades,
porque para você ser vista como um homem executivo é visto, por exemplo, tem
que vestir uma persona que não é sua e, por mais que você tenha os mesmos
conhecimentos e as mesmas competências, é dado um valor menor”.
Para mudar o cenário que desfavorece as mulheres, Murray
defende que é preciso que as empresas entendam seu papel e seu lugar na agenda
da diversidade. “Temos de entender o perfil de empresa que nós somos para que
tudo flua e tenhamos colaboradores que compartilhem da mesma visão que a nossa.
Conhecendo a cultura da empresa e tendo paixão pela
diversidade, é possível criar ações afirmativas considerando a história das
pessoas”.
Iniciativas que transformam
Diante do paradoxo que impacta as brasileiras — são a maioria entre chefes de família, mas têm a maior taxa de desemprego e menor renda —, oferecer alternativas de economia no dia a dia é um dos esforços do Cartão de TODOS, maior cartão de descontos em saúde, educação e lazer do país. “As mulheres são maioria em nossa base de filiados e pensar como podemos ajudá-las a enfrentar essa desigualdade é crucial. O cuidado com a saúde e educação da família tende a ser uma preocupação muito mais da mulher, por isso, a missão do Cartão de TODOS é facilitar o acesso a consultas médicas, exames, cursos e formações por meio de valores que cabem no bolso. Com a administração solidária, acreditamos que podemos gerar um impacto positivo para a população que mais precisa, e esse é nosso objetivo número um”, afirma Mariana Rangel, Diretora de Marketing do Cartão de TODOS.
Com a inflação do país acelerando no mês de fevereiro — alta de 0,78%, mais que o dobro do que foi verificado em janeiro —, planos de saúde com previsão e reajustes de até 25% e a compra do mercado mais cara, em razão da alta nos preços do arroz, feijão e itens básicos na mesa do brasileiro, a conta não fecha para a mulher que chefia seu lar. “Pensar estratégias de economia doméstica para que essas mulheres consigam prover e cuidar de suas famílias é muito mais do que ‘fazer negócio’, é ser humano, buscando meios para amenizar e reparar uma situação que é, desde sempre, desigual”, afirma Rangel.
Elas são potência
Líderes sobrecarregadas na economia do cuidado, as mulheres são responsáveis por 65% do trabalho doméstico e de cuidado com seus dependentes.
Este trabalho invisível, se contabilizado, subiria o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 8,5%, de acordo com pesquisa do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Elas são indispensáveis e se destacam em casa e no mercado de trabalho, potências que movimentam a economia do país.
Vislumbrando uma outra realidade, Ellen Murray acredita
que é possível romper com o círculo cultural vicioso que há tanto tempo — e
desde sempre — silencia as mulheres. “Podemos enxergar um lado positivo:
estamos nos
posicionando cada vez mais e isso é muito importante. Então eu torço e acredito muito — porque se eu não acreditasse, acho que não trabalharia mais nessa área [de recrutamento e pessoas e cultura] — que daqui há uns cinco ou seis anos, a gente não vai ter ainda esse ambiente de igualdade, porque é uma questão social e cultural e nós precisamos romper com tudo isso, mas vamos conseguir nos desenvolver sim”. A especialista acrescenta ainda que “não fomos criadas e preparadas para o mercado de trabalho, mas já conseguimos romper com isso, porque a criação da geração de hoje é totalmente diferente, coisas que nós passávamos, essa geração não precisa mais passar e ainda bem”.
Para Mariana Rangel, o desejo para este 8 de Março é que
cada mulher conquiste um presente e futuro que impulsione sua potência. “Neste
Dia da Mulher, em meio a obstáculos e desafios, o objetivo é poder construir
vivências mais justas, para que nossa capacidade, nosso preparo e nossa atuação
sejam reconhecidos e abram espaço para novas oportunidades. Conquistamos muito,
mas podemos e vamos conquistar ainda mais”, afirma Rangel.
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