Isabelle Anchieta cruza as trajetórias de Joana D'Arc e Maria Quitéria na obra "Revolucionárias" tecendo relações entre essas mulheres que inauguram uma posição social de gênero sem precedentes e investiga o que elas podem nos ensinar até hoje
Joana d’Arc foi a primeira mulher na história a
liderar o exército francês; Maria Quitéria, menos conhecida (até entre os
brasileiros), a primeira mulher brasileira a lutar oficialmente no exército
nacional em prol da Independência do país. São 400 anos que distanciam as duas
revolucionárias unidas por uma tessitura sociológica construída pela
pesquisadora Isabelle Anchieta no livro “Revolucionárias – Joana d’Arc e Maria Quitéria”
a ser lançado em março. O título demonstra o protagonismo feminino nas
revoluções ao cruzar essas duas trajetórias e descortinar questões atuais e
pertinentes: a luta por autodeterminação, a liderança carismática, a
polarização social e o heroísmo (imperfeito).
Publicado pela Editora Planeta, o livro é divido em
duas partes em que investiga aspectos da vida de cada uma, como a infância, a
criação e as motivações que as levaram a se tornarem figuras históricas
marcantes. Apesar da distância temporal e territorial, as duas personagens
estudadas viveram em sociedades impregnadas por entraves culturais, legais,
institucionais, à liberdade de escolha e à ação das mulheres. Mesmo assim,
Joana liderou grandes cavaleiros franceses e era respeitada pelo rei. Maria
Quitéria foi a única soldada reconhecida ainda em vida pelo imperador Dom Pedro
I. A autora busca, ao recontar a história com um olhar sociológico, responder à
pergunta primordial: como elas alcançaram tais honrarias? Como conseguiram,
como mulheres, passarem de vítimas para algozes? De submissas à insubmissas e
serem reconhecidas por isso? O livro é uma tentativa de elucidar o estranho
sucesso dessa empreitada.
“Quanto mais pesquiso, mais me dou conta de que a
história das mulheres é mais fruto de desconhecimento do que de ausências
históricas. Elas foram presentes, atuantes, porém suas histórias não foram
contadas e a memória é sempre traiçoeira quando não registrada”, afirma
Anchieta, que também é autora da trilogia “Imagens da Mulher no Ocidente
Moderno”, lançado em 2020.
As imagens são a pedra angular da pesquisa de
Isabelle Anchieta, a partir das quais constrói a armação conceitual da
pesquisa. É através da iconografia que as contradições se revelam, uma vez que
grande parte das obras de arte, monumentos, emblemas e retratos que representam
heróis são contaminadas por valores sociais. “Essa imagem maliciosa (e
fascinante) é ao mesmo tempo testemunha e força ativa da História Social. Ela
tem um papel central nas lutas por reconhecimento, não só dos sujeitos, mas das
sociedades”, afirma a autora no livro, que ganha orelha assinada por Maria
Arminda do Nascimento Arruda, Vice-reitora da
Universidade de São Paulo.
“O argumento de fundo reside no reconhecimento de
que essas heroínas inauguraram ‘uma posição social de gênero sem precedentes
históricos, ainda que isso não tenha significado, imediatamente, uma mudança na
situação das mulheres em geral’. Esse duplo paradoxo, presente tanto na
radicalidade transgressiva das suas escolhas, quanto na heroificação dos seus
feitos, tornam-nas personalidades aparentadas e passíveis de receber tratamento
analítico comum”, destaca Arruda.
Para ampliar o alcance do livro, a autora não se
limitou a documentos históricos, mas reuniu o próprio material de campo feito
na França e no nordeste brasileiro que agrega caráter visual à narrativa.
Espalhados em diversos capítulos, há variados QR codes que
direcionam os leitores e as leitoras para vídeos, gravados pela própria autora,
de obras de arte, museus e locais reais por onde Joana d’Arc e Maria Quitéria
passaram, como os locais onde viveram. Divulgação
Em Revolucionárias, Isabelle reconstrói a história das protagonistas, de uma forma inusitada e original, ao evidenciar que Joana e Quitéria são mais do que imagens de mulheres que participaram de momentos decisivos da construção da ideia de nação em seus países. Elas tornaram as próprias lutas símbolos atemporais, romperam com um sistema secular e remexeram na ordem dos costumes. “Foram modernas, antes que a modernidade firmasse seus pés”, escreveu Anchieta.
FICHA TÉCNICA:
Título: Revolucionárias
Autora: Isabelle Anchieta
ISBN: 978-85-422-2498-6
336 páginas
Adaptação de capa: Renata Vidal
Ilustrações de capa: Scholastic, 2021
Editora Planeta
Sobre Isabelle Anchieta - Nascida em dezembro de 1978 em Belo Horizonte (MG), Isabelle Anchieta é
Doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em
Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi a
socióloga brasileira eleita na competição Mundial promovida pela Associação
Internacional de Sociologia (ISA), com apoio da UNESCO, em 2014 e em 2008
recebeu o prêmio Rumos Itaú Cultural como professora de jornalismo cultural.
Lecionou na Newton Paiva e na PUC Minas, em Belo Horizonte, e na Universidade
Mackenzie, em São Paulo. A autora foi contemplada com o primeiro lugar na
categoria Ciências Sociais do prêmio da Associação Brasileira de Editoras
Universitárias (prêmio Abeu 2020) pelo livro “Imagens da Mulher no Ocidente
Moderno”, publicado em 2020 pela EDUSP. Foi colaboradora das revistas
Sociologia e Mente e Cérebro, da Scientific American e do Estado da Arte do
Jornal Estadão. Seus artigos são adotados em universidades de língua portuguesa
como a Universidade de Coimbra, a Universidade da Madeira e a Universidade de
Nova de Lisboa, em Portugal e na Universidade Lusófona, em Cabo Verde.
Grupo Planeta
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