Ultradireita revolta com proposta de deportação de estrangeiros. Especialista em Relações Internacionais do CEUB considera uma ameaça aos princípios democráticos
A onda de protestos na Alemanha se intensificou após revelação de reunião secreta entre membros do partido de ultradireita alternativa e neonazistas. As manifestações contrárias à agenda anti-imigração e deportação em massa de estrangeiros, ressaltam a sensibilidade de parte da Alemanha devido ao seu passado marcado pelo regime nazista. Danilo Porfírio, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (CEUB), explica o contexto político que levou a esses protestos e expressa preocupação sobre a discriminação contra estrangeiros no Ocidente.
De acordo com o professor de Relações Internacionais, o grupo neonazista Alternativa para Alemanha, liderado por Roland Wartwig, planejava uma política de deportação em massa. Porfírio destaca que filmagens e gravações mostram que Roland, ex-deputado, afirmou que a política de direita, associada ao neonazismo, representava os interesses do grupo, buscando a institucionalização de políticas discriminatórias. “A insatisfação com o governo social-democrata atual, devido à estagnação econômica, contribuiu para uma crise política e econômica na Alemanha’, explica.
Danilo afirma que a Alemanha leva a sério sua consciência democrática devido ao histórico nazista, motivo pelo qual a reunião secreta entre membros do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e neonazistas para debater um plano de deportação de estrangeiros, teria gerado revolta na população em protestos em defesa da democracia.
“As ações nazistas entre 1934 e 1945, caracterizadas
por extermínio em escala industrial, perseguição, aprisionamento e aniquilação
de grupos como homossexuais, ciganos e 6 milhões de judeus, deixaram um peso
significativo na consciência alemã. A ascensão do nazismo resultou na
destruição institucional da democracia alemã. Esse histórico genocida continua
a ser uma carga para os alemães, que estão determinados a evitar a repetição da
história”, frisa o especialista.
Segundo o professor, o plano de “remigração” combatido nas manifestações é profundamente problemático, pois adota uma abordagem institucional e compulsória sob o rótulo aparentemente benigno de repatriação. Porfírio enfatiza que esta é uma estratégia xenofóbica, arbitrária e discriminatória, ignorando as contribuições dos migrantes para a sociedade e prejudicando a coesão social. “Diante do plano de deportação e dos protestos, os líderes democráticos na Alemanha expressaram indignação e emitiram declarações de repúdio em resposta às ações da AfD”.
Dentre as medidas tomadas, o docente do CEUB cita um movimento para tornar os membros desse partido, incluindo seu líder, Holland, inelegíveis, visando impedir sua participação em futuras eleições. “Semelhante à lógica do direito penal do inimigo, argumenta-se que quem ameaça a democracia não deve usufruir dos seus benefícios e direitos inerentes”, considera. Segundo Porfírio, a movimentação é uma resposta à instabilidade política e econômica na Alemanha, que enfrenta a perda de espaço no mercado internacional e a insatisfação de diversos setores.
Porfírio cita a crise alemã, que também é atribuída
à oferta de mão de obra, uma vez que tanto trabalhadores qualificados quanto
não qualificados representam uma parcela significativa de estrangeiros. “O
governo local enfrenta manifestações de vários setores, como agricultores e
ferroviários, insatisfeitos com a situação econômica e a ascensão da AfD nas
pesquisas eleitorais. Isso pode impactar o cenário político e social,
especialmente nas próximas eleições regionais no leste do país”.
Contexto Internacional
Porfírio destaca a lacuna entre a retórica e as ações concretas pontuadas pelas lideranças alemãs neste momento, alertando para o perigo de uma ascensão institucional de partidos extremistas como sinal alarmante de atrasos na onda democrática pós-Guerra Fria. “O receio é um retrocesso na universalização do sistema democrático, tanto no Ocidente quanto em nível global”, ressalta.
O docente do CEUB considera que a situação na
Alemanha reflete não apenas preocupações internas, mas desafios mais amplos
relacionados ao aumento do extremismo de direita na Europa. Para ele, o país,
com sua história e posição influente, atrai a atenção da comunidade
internacional, que observa atentamente o desenrolar atual: “A partir desse
cenário, preocupa a questão da discriminação contra estrangeiros no Ocidente,
particularmente nos Estados Unidos, com uma política restritiva, agravada
durante a administração Trump”.
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