Estamos atingindo a marca de um ano desde o lançamento do ChatGPT
em sua versão mais recente, pelas mãos da Open AI. E, de lá para cá, a agenda
em torno da Inteligência Artificial (IA) e suas infindáveis possibilidades só
cresce exponencialmente, na mesma medida em que o mundo dos negócios olha para
essa nova tecnologia como a entrada em uma nova era revolucionária. Não há como
negar: estamos mais ágeis, velozes e produtivos.
No mundo pós-pandemia, com pressões por toda a parte, redução de
investimentos e a adoção de medidas por maior custo-benefício e eficiência, a
produtividade tenderia a ser afetada diretamente em todas as cadeias
produtivas. Todavia, a adoção da IA para automatizar tarefas simples e
repetitivas, que consomem tempo e energia, vem sendo um paradigma que apenas
reforça como a transformação digital não é só desejada, mas também imperativa.
Hoje já começa a se tornar comum que ferramentas de IA agendem
reuniões, filtrem e/ou redijam e-mails, gerem relatórios, transcrevam áudios,
criem faturas, gerenciem projetos, entre outros. Setor essencial em um país
como o Brasil, a agricultura já se beneficia com o mapeamento e rastreamento de
colheitas, manejo de pragas, análises do solo e processos de irrigação – tudo
de maneira preditiva, uma das fortalezas da IA ao manejar grandes fluxos de
informações.
Outro amplo setor, o de e-commerce e marketplace também se vê em
franca evolução por, com o uso da IA, melhorar consultas e rastreamento de
pedidos. O impacto também se vê, por consequência, em processos de reservas,
preços, processamento e rastreamento em indústrias como a hoteleira. E tudo
isso impacta a experiência do cliente, outra vantagem mediante à construção de
arquiteturas que, ao enriquecer os seus dados, entregam resultados
personalizados.
Ainda assim, apesar dos diversos exemplos de sucesso, isto não
significa que a IA pode resolver todos os problemas ou servir a todos os
propósitos. Ela tampouco irá substituir o capital humano, um dos maiores
temores quando o assunto vem a público. Enquanto áreas se que baseiem em regras
e análises preditivas possam ser muito beneficiadas, a IA (ainda) não possui
compreensão profunda de contextos, não entende metáforas e não prevê a
causalidade que, assim, demanda a presença humana como curadora dos processos centrais.
Como conhecedor de tecnologia, acredito que a chave para usar a IA
está vinculada ao seu impacto na multiplicação das capacidades humanas. E isto
deve ser visto de forma estratégica. O aumento de produtividade da ordem de 35%
com a adesão à IA Generativa foi atestado há alguns meses em um estudo
produzido por especialistas do MIT e da Universidade de Stanford. No mesmo
conteúdo, o uso de soluções de IAG permitiu ainda uma redução de 14% no tempo
gasto para funcionários realizarem as suas tarefas – até mesmo os mais
inexperientes bateram suas metas. Como pano de fundo, abriu-se mais tempo para
outras atividades.
De maneira otimista, alguns especialistas apontam
que metade de todo o trabalho que conhecemos hoje estará automatizado entre
2030 e 2060, com reflexos entre 0,1% e 0,6% na taxa de produtividade e US$ 4,4 trilhões em
valor total à economia global. Não é pouca coisa. Pelo que enxergo no mercado e
nas conversas com amigos e colegas, é nítido também que nenhum desses
benefícios trazidos pela IA para maior produtividade se faz possível sem o
desenvolvimento interno de talentos (recrutamento, treinamento e etc.) e
alterações nos planos de carreira, com uma melhor gestão interna dos
conhecimentos, de maneira mais colaborativa. Setores como os de marketing,
vendas e engenharia de software parecem estar à frente neste sentido, porém é
esperado que outros venham a aderir com velocidade.
Em comum entre todos os campos da economia e dos negócios, quando
o tema é a produtividade, está a busca pela constante descomplicação de fluxos,
de erros, de retrabalho e da necessidade de funcionários se verem imersos em
tarefas pouco significativas. Uma vez mais produtivos, eles poderão não só
produzir mais, mas também ser mais criativos e, por consequência, estarem mais
apto a inovar – e menos estressados. Estamos falando aqui de como a IA pode
impulsionar toda uma nova cadeia virtuosa que ainda veremos adiante.
Isto foi algo que um levantamento
da Microsoft, intitulado “2023 Work Trend Index: Annual Report”, já havia
farejado. De acordo com o material, embora 49% dos trabalhadores se preocupem
com a perda de emprego para a IA, 70% deles a usariam para serem mais
produtivos e criativos. Na outra ponta, líderes declararam estarem duas vezes
mais interessados em utilizar a IA para maior produtividade do que diminuir o
quadro de funcionários. Aqui estamos falando no impacto em 75 milhões de
empregos, segundo
a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Contudo, se quase 70 milhões de
pessoas podem se ver substituídas pela IA, há mais de 426 milhões de posições
com potencial de crescimento com a adoção da tecnologia em seus postos.
Falando em empregos, é importante ressaltar que a demanda já
supera a oferta por profissionais que possuam habilidades em tecnologia de
dados e processamento de linguagem natural, elementos centrais no uso da IA. Ou
seja, investir no capital humano é primordial para quem quiser liderar o seu
setor com o uso desta tecnologia. Quem já possui esses colaboradores já vê a
resolução de problemas de ponta a ponta, com a utilização de modelos que
realizam tarefas de raciocínio mais complexas e ricas – o que permite criar
aplicativos de IA mais avançados e sistemas de produtividade que se tornam mais
sistemáticos e orientados à execução integrada.
Tão claros quanto os benefícios palpáveis da IA para a
produtividade são os próximos passos a serem dados. Cada vez mais será preciso
ter aptidões para trabalhar com ferramentas de IA, da mesma forma que há
décadas atrás se pensava quando do advento da Internet ou do computador. Não
basta apenas conhecê-las, porém também serão necessárias qualificações
analíticas, críticas, que permitam resolvem problemas complexos. Para as
empresas, expor mais e mais os seus colaboradores à IA já apresenta impactos
no seu próprio valor de mercado.
Como o ChatGPT e ferramentas do gênero embarcadas em IA nos
mostram, saber “conversar” com os dados e algoritmos é o caminho para gerar as
melhores respostas e resultados práticos.
Alessandro Buonopane - CEO Brasil da GFT Technologies.
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