Otorrinolaringologista esclarece os principais aspectos que envolvem o chamado ‘cerume’ e como evitar problemas
Final de ano, as temperaturas aumentam e, na mesma proporção, também aumentam os casos de pacientes que recorrem aos prontos-socorros com queixa de ouvido tampado por acúmulo de cera. Na maioria das vezes, a razão se deve à tentativa de “resolver” o problema com soluções caseiras, o que acaba só piorando a situação.
Para
esclarecer os principais mitos e verdades a respeito do assunto, a
otorrinolaringologista Bruna Assis, do Hospital Paulista – referência em saúde
de ouvido, nariz e garganta – aborda a seguir as principais consequências do
excesso de cera nos ouvidos, assim como os tratamentos possíveis.
“A cera nos ouvidos só gera prejuízos” – Mito
A cera é uma substância benéfica, produzida pela pele
do canal auditivo, que ajuda na proteção do ouvido e contém substâncias com
propriedades antibacterianas.
“A cera precisa ser retirada periodicamente com
hastes flexíveis” – Mito
De acordo com a otorrinolaringologista, o ouvido tem mecanismos próprios que permitem a expulsão lenta e periódica do excesso de cera. O uso de hastes flexíveis e semelhantes prejudica a atuação desses mecanismos. “Por isso, a remoção da cera por conta própria pelo paciente deve ser evitada ao máximo. Nos casos em que a cera esteja em excesso, prejudicando a audição e causando incômodo, o paciente deve procurar o otorrinolaringologista para que seja feita a remoção com os instrumentos e técnicas adequadas, após uma correta avaliação.”
Algumas
pessoas podem ter uma produção maior de cera, mas há hábitos que favorecem o
acúmulo e a compactação da cera no canal auditivo, como o uso de hastes
flexíveis e a manipulação dos ouvidos com outros objetos, seja na tentativa de
aliviar a coceira ou de retirar o cerume por conta própria. "Deve-se
evitar ao máximo esses hábitos a fim de prevenir não apenas o acúmulo de cera,
como também prevenir lesões na pele do conduto e na membrana timpânica, e até
mesmo a perda auditiva".
“O acúmulo de cera gera prejuízo momentâneo à audição” – Verdade
O mais comum é o acúmulo de cera e não uma produção
em excesso da substância. Nesses casos, o paciente tem uma sensação de ouvido
tampado, com consequente diminuição e abafamento da audição, que gera bastante
incômodo. De acordo com a médica, alguns casos podem vir associados à coceira e
à dor, geralmente de leve intensidade. Em outros, podem estar associados à
inflamação do canal auditivo.
“A produção de cera depende de vários fatores” – Verdade
A produção depende de fatores como condições de pele,
estado febril, irritações locais e até mesmo o estado emocional do paciente.
Banhos de imersão em mar, piscinas e lagos não afetam a produção do cerume, mas
podem causar sensação de ouvido tampado, o que leva a um aumento significativo
da procura ao atendimento de otorrinolaringologia durante o Verão.
“A água não afeta a condição da cera nos ouvidos” – Mito
A entrada de água pode deslocar a cera já existente
no canal auditivo, gerando o seu bloqueio. Da mesma forma, a simples presença
da água já pode gerar uma sensação transitória de entupimento do ouvido. Isso
costuma ser breve, melhorando após a evaporação ou escorrimento natural da
água. Nesses casos, o ato de virar a cabeça com a orelha afetada para baixo e
puxá-la levemente para trás pode ajudar no escoamento da água. Caso a sensação
de obstrução da audição permaneça mesmo após essa manobra e não melhore após
algumas horas, deve-se suspeitar da presença de cera impactada e até mesmo de
outras condições como inflamações do canal auditivo, se houver também dor ou
coceira. Assim, o paciente deverá procurar auxílio para o devido tratamento.
“O uso de fones interfere na situação da cera nos ouvidos” – Verdade
O uso
de fones de ouvido do tipo intra-auricular, ou seja, aqueles que penetram o
canal auditivo, pode ser danoso, pois eles “empurram” a cera para dentro,
podendo gerar acúmulo da substância. De acordo com a médica, estes são os
principais cuidados em relação aos fones de ouvidos:
– Dar
preferência aos fones que não penetram o canal auditivo, como os que se
encaixam na cartilagem da concha, os que se apoiam atrás da orelha e os que
cobrem a orelha;
–
Fazer a higienização periódica dos fones auditivos com álcool após o uso para
evitar infecções;
–
Escolher o modelo de fone de ouvido que mais lhe cause conforto. Caso algum
determinado modelo cause dor persistente, evitar o uso e procurar auxílio com o
otorrinolaringologista;
–
Independente do modelo do fone de ouvido, deve-se evitar o volume
demasiadamente alto nos fones, assim como a exposição prolongada ao som, pois
intensidades sonoras altas e prolongadas muito próximas ao órgão auditivo podem
causar lesões como perda auditiva e zumbido, que podem ser irreversíveis.
“Na
maioria das vezes, o tratamento para o excesso de cera é indolor” – Verdade
A remoção da cera de ouvido é um procedimento rápido,
na maioria das vezes indolor, e gera um alívio imediato dos sintomas. O médico
irá detectar a causa das sensações relatadas pelo paciente e proceder à sua
remoção, caso haja excesso. Nesse caso, o médico pode empregar as seguintes
técnicas e instrumentos, dependendo de cada paciente:
1 – Irrigação (lavagem) com água limpa na temperatura
corporal (através do auxílio de seringas ou duchas automáticas);
2 –
Sucção da cera com uma sonda de aspiração fina;
3 – Remoção mecânica da cera com uma cureta delicada.
Em alguns casos, quando a cera está muito petrificada
ou impactada, pode ser necessária a prescrição de gotas otológicas para
“amolecimento” do resíduo, alguns dias antes do procedimento, a fim de
facilitar a remoção.
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