Além de produzir o mel, as abelhas
polinizam as plantações, garantindo boa parte do alimento que consumimosFoto: Racool_studio/Freepik
No
dia 3 de outubro, quando se comemora o Dia da Abelha, algumas Escolas Técnicas
(Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Estado, mesmo sem promover
eventos para comemorar a data, estão debruçadas sobre uma série de pesquisas,
construindo Meliponários (conjunto de colmeias de abelhas sem ferrão, também
conhecidas como indígenas ou nativas) e se empenhando em conscientizar a
população sobre a importância desses insetos, responsáveis pela maior parte dos
alimentos que temos à mesa.
Na
Etec Sebastiana Augusta de Moraes, de Andradina, o Meliponário foi implantado
em 2018 pelo professor Leandro Komuro com uma equipe de docentes. Para
conscientização da data, os alunos do curso de Agronegócio terão a tarefa de
transferir uma colmeia para uma caixa de madeira Inpa, um modelo criado para
acomodar o enxame de modo a otimizar a produção de mel. A caixa foi feita pelos
próprios estudantes, sob a orientação de Komuro. Alunos das escolas públicas da
região são frequentemente convidados a conhecer o Meliponário e as abelhas
Jataí – o tipo presente em maior número na escola, entre os cerca de 300
presentes em território brasileiro.
Atividade lucrativa
Engana-se
quem acredita que essa atividade tem cunho exclusivamente ambiental – o que já
não seria pouco. “A demanda por polinizadores naturais está em alta e a criação
de abelhas indígenas sem ferrão se apresenta como uma excelente opção para essa
tarefa”, sintetiza Márcio Torrente, diretor da Etec de Andradina. Ele lembra
que, para além do objetivo pedagógico e tecnológico, cultivar melíponas vem se
tornando uma tarefa rentável, muito valorizada nas atividades agrícolas que
requerem uma polinização efetiva para o aumento da produtividade.
O
estudo das abelhas tem também uma finalidade pedagógica – é um indicador das
mudanças do clima. “Mesmo que não notemos as alterações climáticas, as abelhas
percebem. O comportamento delas muda em relação à produção e ao enxame”,
explica Komuro.
Capacitação para a comunidade
Atento
às notícias sobre ataques de abelhas à comunidade, o grupo do professor
incentiva bombeiros a fazer um curso para lidar com esses eventuais acidentes.
“As abelhas são defensivas, não agressivas. Os acidentes acontecem devido ao
manejo incorreto da colmeia”, lembra.
Por
causa dessa iniciativa, Andradina já conta com pelo menos um bombeiro tão bem
treinado que se tornou apicultor. E é sempre chamado a socorrer as pessoas
e resgatar as colmeias na cidade que tem em torno de 59 mil habitantes, de
acordo com o Censo de 2022.
Abelhas nativas, mas desconhecidas
As
melíponas são nativas das Américas, enquanto as apis são originárias de regiões
como a Europa. As nativas não possuem ferrão, o que facilita o seu cultivo até
mesmo em ambientes urbanos. No entanto, o brasileiro não distingue os dois
tipos de abelhas. Essa suposição levou o professor de biologia e coordenador do
curso de Administração da Etec Antônio Furlan, de Barueri, Mikel Eduardo de
Mello a realizar uma série de pesquisas, com um grupo de professores.
Em
uma delas, feita este ano em todo o Brasil, via internet, o grupo pretendia
descobrir o grau de conhecimento da população a respeito das melíponas. “O
estudo revelou que a percepção sobre a importância das abelhas sem ferrão e sua
contribuição para o ecossistema é escassa”, anotou Mello.
Embora
74,5% dos pesquisados tenham afirmado que reconhecem a importância da
polinização, 72,9% não distinguem uma melípona de uma apis. O grupo avaliou
ainda a diversidade das abelhas sem ferrão em um ambiente urbano, o Parque
Ecológico do Tietê, em Barueri, por meio de um trabalho que se estendeu entre
agosto de 2022 a agosto de 2023. Foram identificados sete tipos. “Essas
espécies são de extrema importância para a ecologia do Parque e do ambiente
urbano como um todo”, acredita o professor. “Muitas vezes negligenciados em
estudos de ecologia urbana, esses insetos desempenham um papel crucial nos
ecossistemas e devem ser alvo de medidas de proteção e conservação”, conclui.
Mel por mais tempo nas prateleiras e à mesa
Enquanto
isso, nos Laboratórios de Pesquisa do curso de Tecnologia de Alimentos da Fatec
Marília, a nutricionista Flavia Farinazzi Machado é a professora à frente da
equipe que se dedica à segurança do consumo do mel produzido pelas melíponas,
formando uma base de referência para a inspeção. “O objetivo é manter o produto
estável, mantendo suas características físicas, químicas e sensoriais originais
durante o máximo de tempo possível na casa do consumidor”, conta a professora.
Em
maio, a unidade de ensino estabeleceu uma parceria com os ecologistas Fernando
Garcia, que estuda as abelhas há 17 anos, e Johnny Thiago, criadores do projeto
Doce Futuro e Agrofloresta, que se propõe a reflorestar uma área pública
degradada de 120 mil metros quadrados e abrigar o meliponário.
Para
2024, a agenda da equipe da professora para 2024 já está definida, envolvendo
docentes e estudantes de Tecnologia em Alimentos e os ecologistas do Projeto
Doce Futuro. O grupo segue coletando e produzindo análises com as amostras
diferentes de méis, produção e estudo da própolis e a confecção e distribuição
de iscas para a captura das melíponas.
As
iscas são pequenas estruturas, que podem ser feitas até com garrafas pet, que
criam um ambiente propício para atrair as chamadas abelhas princesas (rainhas
ainda não fecundadas), dando início a uma nova colmeia.
Hora de provar
A Etec Prof. Urias Ferreira,
escola agrícola de Jaú, mantém ativo o seu meliponário, que serve às aulas
práticas dos alunos e é aberto a estudantes de fora. De acordo com o diretor da
unidade, Thiago Valencise, na terça-feira, dia 3, haverá visitação dos estudantes
aos meliponários, coleta de mel e exposição de banners sobre meliponicultura.
Está programada também uma degustação de mel – o delicioso produto final de
todo o trabalho.
Centro Paula Souza
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