Apesar de ainda causar estranheza entre os brasileiros, método pode auxiliar no tratamento contra infecções graves no intestino grosso
Você
já ouviu falar em transplante de fezes? O procedimento, relativamente novo na
medicina, ainda causa estranheza entre os brasileiros. Isso porque,
normalmente, o transplante está relacionado a órgãos como coração, fígado, rim
e até mesmo a tratamentos capilares.
Ao contrário do que possa parecer, não são exatamente as fezes que são
implantadas no paciente, mas sim as bactérias saudáveis presentes nas
excreções, que são analisadas para o processo.
“Toda
essa implementação ocorre no receptor, através da colonoscopia
convencional. A partir desse exame, é realizada a infusão da solução
composta por substrato fecal, permitindo que as bactérias, recém-inseridas no
intestino grosso, ‘combatam’ aquelas que eram consideradas prejudiciais”,
afirma a Dra. Rebecca Saad, infectologista e coordenadora do SCIH (Serviço de
Controle de Infecção Hospitalar) do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas
"Dr. João Amorim".
O processo ajuda, especificamente, a tratar a colite pseudomembranosa, uma
infecção grave gerada pela bactéria Clostridium difficile, que atinge
parte do intestino grosso, sobretudo, a região do cólon.
"No momento, esse é o caso mais indicado para o seu uso. Podemos dizer que
a colite pseudomembranosa é mais comum em pacientes com imunossupressão ou
aqueles que passaram por longos períodos de internações, com consumo de
múltiplos antibióticos. Isso acontece porque, nesse período, a bactéria pode
atingir desequilíbrio através do uso prolongado ou descuidado da
medicação", destaca a médica.
A
doença costuma causar crises de diarreia, fortes dores e desconforto, e, na
maioria das vezes, ocorre durante ou logo após a finalização do tratamento com
antibiótico, sem necessariamente estar relacionada a uma restrição de classe.
Como
uma opção viável, o transplante da microbiota fetal entra justamente para
ajudar nesses casos de desequilíbrios na flora intestinal, restabelecendo uma
microbiota saudável no intestino e possibilitando que o paciente possa ter uma
melhor digestão e fortalecimento do seu sistema imunológico, além de produção
de vitaminas essenciais, por exemplo.
“O mais apropriado é que a doação dessas fezes utilizadas para o transplante
ocorra por pessoas da família do receptor. E somente após a realização de
exames médicos e adequada constatação é que essa troca pode ser realizada”,
enfatiza Dra. Rebecca.
No Brasil, o primeiro transplante de microbiota fecal ocorreu em meados de
2013, no Hospital Israelita Albert Einstein, na cidade de São Paulo. Apesar de
alguns anos desde o advento, o serviço não é amplamente oferecido nas unidades
de saúde do país, pois o procedimento ainda não conta com a aprovação da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Apesar
dessa restrição, o país está avançando na área e já conta com o seu primeiro
Centro de Transplante de Microbiota Fecal e um biobanco de fezes, situados no
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o
respaldo da Anvisa.
Outros
países como Reino Unido, Austrália e Estados Unidos já conquistaram autorização
de seus órgãos reguladores de saúde para estabelecer o transplante fecal como
uma alternativa reconhecida no tratamento de infecções graves e persistentes
causadas por bactérias.
Além
de dispor de bancos de microbiota fecal para atender pessoas com recomendação
para o procedimento, os Estados Unidos, por sua vez, aprovaram recentemente uma
pílula composta por bactérias saudáveis encontradas nas fezes humanas, tornando
ainda mais fácil o processo de transplante fecal para os americanos.
"Essa
inovação é um passo importante para a medicina, já que pode nos ajudar a
evoluir ainda mais em pesquisas e procedimentos. Pode também ser uma forma de
padronizar o procedimento na hora de realizar o transplante no paciente",
explica a infectologista.
A novidade também
vem fomentado discussões referentes ao tratamento contra a obesidade, podendo
ser mais uma possível opção para esse tipo de quadro. Estudos ainda buscam
entender a fundo se um indivíduo, inicialmente obeso, poderia emagrecer ao
receber a microbiota de outra pessoa com biotipo magro. Não só isso, a ciência
ainda estima que doenças psíquicas, como depressão e ansiedade, também possam
se beneficiar futuramente do transplante.
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial
cejam.org.br/noticias
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