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sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Transplante de fezes chega como alternativa para tratamentos intestinais

 Apesar de ainda causar estranheza entre os brasileiros, método pode auxiliar no tratamento contra infecções graves no intestino grosso

 

Você já ouviu falar em transplante de fezes? O procedimento, relativamente novo na medicina, ainda causa estranheza entre os brasileiros. Isso porque, normalmente, o transplante está relacionado a órgãos como coração, fígado, rim e até mesmo a tratamentos capilares.

Ao contrário do que possa parecer, não são exatamente as fezes que são implantadas no paciente, mas sim as bactérias saudáveis presentes nas excreções, que são analisadas para o processo.

“Toda essa implementação ocorre no receptor, através da colonoscopia convencional. A partir desse exame, é realizada a infusão da solução composta por substrato fecal, permitindo que as bactérias, recém-inseridas no intestino grosso, ‘combatam’ aquelas que eram consideradas prejudiciais”, afirma a Dra. Rebecca Saad, infectologista e coordenadora do SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar) do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim".

O processo ajuda, especificamente, a tratar a colite pseudomembranosa, uma infecção grave gerada pela bactéria Clostridium difficile, que atinge parte do intestino grosso, sobretudo, a região do cólon.

"No momento, esse é o caso mais indicado para o seu uso. Podemos dizer que a colite pseudomembranosa é mais comum em pacientes com imunossupressão ou aqueles que passaram por longos períodos de internações, com consumo de múltiplos antibióticos. Isso acontece porque, nesse período, a bactéria pode atingir desequilíbrio através do uso prolongado ou descuidado da medicação", destaca a médica.

A doença costuma causar crises de diarreia, fortes dores e desconforto, e, na maioria das vezes, ocorre durante ou logo após a finalização do tratamento com antibiótico, sem necessariamente estar relacionada a uma restrição de classe.

Como uma opção viável, o transplante da microbiota fetal entra justamente para ajudar nesses casos de desequilíbrios na flora intestinal, restabelecendo uma microbiota saudável no intestino e possibilitando que o paciente possa ter uma melhor digestão e fortalecimento do seu sistema imunológico, além de produção de vitaminas essenciais, por exemplo.

“O mais apropriado é que a doação dessas fezes utilizadas para o transplante ocorra por pessoas da família do receptor. E somente após a realização de exames médicos e adequada constatação é que essa troca pode ser realizada”, enfatiza Dra. Rebecca.

No Brasil, o primeiro transplante de microbiota fecal ocorreu em meados de 2013, no Hospital Israelita Albert Einstein, na cidade de São Paulo. Apesar de alguns anos desde o advento, o serviço não é amplamente oferecido nas unidades de saúde do país, pois o procedimento ainda não conta com a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Apesar dessa restrição, o país está avançando na área e já conta com o seu primeiro Centro de Transplante de Microbiota Fecal e um biobanco de fezes, situados no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o respaldo da Anvisa.

Outros países como Reino Unido, Austrália e Estados Unidos já conquistaram autorização de seus órgãos reguladores de saúde para estabelecer o transplante fecal como uma alternativa reconhecida no tratamento de infecções graves e persistentes causadas por bactérias.

Além de dispor de bancos de microbiota fecal para atender pessoas com recomendação para o procedimento, os Estados Unidos, por sua vez, aprovaram recentemente uma pílula composta por bactérias saudáveis encontradas nas fezes humanas, tornando ainda mais fácil o processo de transplante fecal para os americanos.

"Essa inovação é um passo importante para a medicina, já que pode nos ajudar a evoluir ainda mais em pesquisas e procedimentos. Pode também ser uma forma de padronizar o procedimento na hora de realizar o transplante no paciente", explica a infectologista.

A novidade também vem fomentado discussões referentes ao tratamento contra a obesidade, podendo ser mais uma possível opção para esse tipo de quadro. Estudos ainda buscam entender a fundo se um indivíduo, inicialmente obeso, poderia emagrecer ao receber a microbiota de outra pessoa com biotipo magro. Não só isso, a ciência ainda estima que doenças psíquicas, como depressão e ansiedade, também possam se beneficiar futuramente do transplante.



CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial
cejam.org.br/noticias


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