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sábado, 19 de agosto de 2023

Depressão pós-parto e blues puerperal

Saiba as diferenças sobre esses sentimentos que atingem as mães nos primeiros dias de nascimento do bebê 

 

Para a cultura ocidental, a maternidade é o ápice na vida de uma mulher, mas, para muitas delas, o sentimento maternal é colocado à prova com a chegada de um filho. Para o professor do curso de Psiquiatria do Centro Universitário São Camilo, Alfredo Simonetti, é comum confundir o blues puerperal com a depressão pós-parto e ele explica a diferença entre esses dois sentimentos.

O blues puerperal acontece logo após os 15 primeiros dias de maternidade. Trata-se de um período de adaptação e praticamente toda mulher que tem um filho o conhece. Ele causa sintomas que em um primeiro momento podem ser confundidos com depressão, porém é um sentimento passageiro e geralmente vem com a privação de sono e o desgaste físico e também é alternado entre o sentimento de encanto pelo filho e o desespero de ter que ser uma mãe perfeita.

“A depressão pós-parto é aquela que aparece cerca de três meses após o nascimento do bebê. São sintomas fortes, como a tristeza extrema, desesperança e preocupação de não ter condições de cuidar do filho”, afirmou. Segundo ele, as mulheres com depressão pós-parto se sentem muito mal por não estarem felizes nesse momento, o que pode causar problemas psicológicos e físicos.

O professor de Psiquiatria explica que nos dias seguintes após o parto, o corpo da mulher sofre uma redução hormonal de 200 vezes no nível da progesterona, substância responsável pelas funções do aparelho reprodutivo. “O corpo não consegue passar por essa mudança em nenhum outro momento da vida, além disso, do ponto de vista psicológico e social há muitas diferenças. Até no momento da gravidez a gestante era o centro das atenções e, no dia seguinte ao parto, o isso passa para o bebê e ela é cobrada pela sociedade por um alto desempenho no cuidado com esse novo ser, podendo se sentir incapaz de cumprir essa missão, sem poder inclusive falar sobre isso”, explicou.

Essa tempestade de sentimentos e de hormônios causada pela depressão pós-parto pode interferir também no relacionamento entre a mãe com o filho, podendo afetar o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança, e também com familiares e parceiro. Além disso, tem a possibilidade de desenvolver depressão crônica a longo prazo, afetando a sua capacidade de cuidar do bebê e de si mesma e negligenciando a sua saúde e a do recém-nascido. “O período de pós-parto de uma mulher é onde ela tem mais risco de desenvolver doença mental ou aparecer a primeira crise de alguma paciente que já desenvolve transtorno bipolar ou esquizofrenia”, disse Simonetti.

O tratamento é feito com um antidepressivo que diminui os sintomas entre três e quatro semanas e com terapia, entretanto, um novo medicamento chamado Zuranalona, que está em fase avançada de estudos nos Estados Unidos, promete diminuir os sintomas da depressão em 14 dias após o início do tratamento. A medicação ainda não tem previsão para chegar no Brasil, país onde a depressão pós/parto afeta 25% das mães de recém-nascidos, segundo dados da Fiocruz.

Apesar da expectativa com o tratamento, o professor Simonetti alerta que é preciso esperar um prazo para confirmar a eficácia do medicamento. “Este remédio seria muito bem vindo por apresentar uma resposta mais rápida, mas é preciso ver a longo prazo se isso se confirma. Esses estudos precisam ser replicados”, afirmou.


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