Recentemente, em uma das matérias transmitidas no Globo Repórter, foi mostrado a líder de uma empresa, que tinha colaboradores mais velhos e mais novos que ela em sua equipe, ou seja, o objetivo era entender como acontecia a relação e a interação dentro daquele ambiente. A matéria abordava um tema bastante em voga atualmente: etarismo.
Hoje em dia, especialmente no mercado de trabalho, questões que envolvem idade
estão sendo cada vez mais discutidas e colocadas em pauta, seja para algo
positivo ou negativo. Noto que, muitas vezes, as pessoas mais velhas sofrem
preconceito nas empresas e são consideradas descartáveis, enquanto as mais
novas, justamente pelo fato de serem jovens, são consideradas as responsáveis
por ‘salvar’ a organização.
Em 2022, a Ernst & Young e a agência Maturi
fizeram a pesquisa: “Por que pessoas 50+ não são consideradas como força de
trabalho em um país que envelhece?". O estudo ouviu quase 200 empresas no
Brasil e mostrou que as companhias têm apenas de 6% a 10% de pessoas com mais de
50 anos em seu quadro de funcionários. Além disso, 78% das empresas
consideram-se etaristas e têm barreiras para contratação nessa faixa de idade.
No entanto, não deveria ser assim, não podemos colocar as pessoas em caixas de
acordo com suas idades. Por exemplo: os mais velhos, por serem mais
experientes, contribuem de formas que alguém que está começando jamais poderia.
O mesmo vale para os mais novos, que podem trazer ideias e visões de mundo
totalmente diferentes e atuais. Isso só reforça que a integração vem para somar
e contribuir de maneira positiva para a empresa.
Para dar um colorido neste tema, lembro que alguns
anos atrás, uma pessoa (não tão?) jovem, perto dos seus 30 anos, argumentou
comigo que um certo framework de gestão de TI, o ITIL, não deveria ser mais
utilizado porque era velho. Ótimo, o que colocamos no lugar? Qual a proposta
para colocar no lugar e resolver os problemas que este framework resolve? O
ponto é que pessoas mais velhas podem sim agregar muito valor, por meio de sua
experiência, pois já cometeram diversos erros ao longo de suas vidas. Não
precisamos cometer os mesmos erros, vamos cometer outros. Não precisamos
reinventar a roda.
Quando a liderança é boa, logo percebe que alimentar esse conflito entre
gerações é uma perda de tempo e de aproveitamento do potencial daquelas
pessoas, ainda mais quando deveria estar incentivando que conversem, que
troquem experiências, e principalmente, que aprendam uns com os outros. As
diferenças vão se fazer presentes, mas podem ajudar a encontrar pontos
que vão fortalecer o time como um todo.
É claro que promover essa interação não é um processo tão fácil. Ser um bom
líder requer muitos requisitos e responsabilidades, que dobram quando falamos
de alguém que precisa liderar colaboradores em faixas etárias diferentes.
Porém, é sempre possível encontrar um meio termo, para que se possa englobar
esses dois mundos: ter escuta ativa e saber o que pedir/para quem pedir, vai
ajudar a encontrar formas de extrair o melhor de cada um.
Diante deste cenário, os OKRs - Objectives and Key Results (Objetivos e
Resultados Chaves) - podem auxiliar quem busca ser um bom líder para gerações
diferentes, pois a ferramenta nos exige uma discussão objetiva sobre os
problemas, independente da idade. Além de que, ter diferentes perspectivas é
muito rico, estimula o trabalho em equipe e também o multigeracional. É isso
que faz com que as pessoas se apoiem e criem responsabilidade, tanto individual
como coletiva.
Aliado a essas questões, os OKRs visam que a
liderança motive, valorize opiniões e assim incentive o time a se desenvolver
constantemente, o que também promoverá a interação de todos, fazendo com que
troquem ideias para definir as metas e traçar os objetivos. A partir desse
alinhamento, que deve ser feito em ciclos curtos, de aproximadamente três
meses, é possível progredir e conquistar bons resultados.
O fato é que o país ainda está longe de conseguir
resolver os problemas relacionados ao etarismo, mas uma forma de começar é ter
líderes que entendam que manter pessoas de gerações diferentes na empresa é um
trunfo e que colaboradores de idades distintas trabalhando juntos pode ser um
fator predominante para o sucesso da companhia, que passará a enxergar
oportunidades onde ninguém mais vê.
Pedro Signorelli - um dos
maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs. Já movimentou
com seus projetos mais de R$ 2 bi e é responsável, dentre outros, pelo case da Nextel,
maior e mais rápida implementação da ferramenta nas Américas. Mais informações
acesse: http://www.gestaopragmatica.com.br/
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