Pesquisar no Blog

domingo, 14 de maio de 2023

Maternidade e saúde mental


A transição para a maternidade é considerada um dos grandes marcos na vida das mulheres e quando é fruto de uma escolha consciente e planejada, espera-se que seja um processo de felicidade e realização pessoal. No entanto, os estudos e pesquisas não ratificam completamente estas expectativas.

Ter filhos certamente contribui para que a vida ganhe mais sentido. Como eu já defendi em outros artigos e vídeos que publiquei, o sentido da vida tem um caráter protetivo na saúde mental das pessoas. Contudo, há vários fatores jogando contra para que as mães, especialmente as que trabalham, possam vivenciar plenamente a escolha que fizeram para a vida.

A maternidade é uma escolha de estupenda coragem, pois coloca a mulher diante de todos os seus desafios num período de grande vulnerabilidade física, emocional e social. Ainda que muitas delas declarem sentirem-se empoderadas durante a gravidez, segundo a OMS, cerca de 10% das grávidas em todo o mundo e 13% das mulheres que acabaram de dar à luz sofrem de algum transtorno mental, principalmente a depressão. Nos países em desenvolvimento os números são ainda mais altos, alcançando 15,6% durante a gravidez e 19,8% após o parto. Qualquer mulher pode desenvolver algum transtorno desencadeado no período da gravidez ou durante o primeiro ano da maternidade, mas alguns fatores podem contribuir decisivamente para aumentar os riscos, como exposição à violência (doméstica, sexual e de gênero), emergências, conflitos, falta de apoio social e do parceiro, estresse extremo e a autocobrança para ser perfeita, tanto como mãe quanto profissionalmente.

As mulheres, mesmo as mais bem resolvidas, têm esta autocobrança alimentada pelas normas internalizadas que por séculos vem sendo prescritas nas sociedades ocidentais, onde a mãe é a principal responsável pelo cuidado dos filhos e deve colocar os interesses deles na frente dos seus. As consequências deste processo são: sentimento de culpa, instalação da crença de não ser eficiente em nada, esgotamento, dificuldade para dormir e irritabilidade, o que acaba configurando um Burnout. Este mecanismo de autocobrança que permeia a vida de todos nós, está muito bem definido no livro “Sociedade do Cansaço” de Byung-Chul Han.

Infelizmente, nos últimos anos ou talvez décadas, este problema vem se agravando, pois as mulheres acabam sendo penalizadas por suas conquistas no mercado de trabalho. Aparentemente, as políticas governamentais e corporativas não acompanharam esta evolução, apesar das licenças para a maternidade, dos horários de amamentação, das iniciativas de inclusão e diversidade etc., o peso da responsabilidade da parentalidade ainda é muito maior para as mães.

Fundamentalmente, as mudanças mais importantes neste cenário virão da educação para uma sociedade mais igualitária e cooperativa, porém, a condição da mãe que trabalha pode e deve melhorar muito a partir de algumas ações por parte das empresas:

·         CORRESPONSABILIDADE: Aumentar a licença paternidade e criar mecanismos para que o pai se ausente do trabalho para apoiar a mãe. Enquanto o governo não aprovar o período de licença maternidade que pode ser dividido de comum acordo entre os pais, as empresas podem facilitar a vida dos casais que mantém uma relação igualitária.

·         AMAMENTAÇÃO: Criar espaços de amamentação dentro da empresa ou em local próximo. Aqui também vale a iniciativa da corresponsabilidade, onde o pai amamenta a criança usando o leite materno e uma mamadeira.

·         HOME OFFICE: Definir mecanismos de trabalho remoto para um período mínimo de 6 meses após a licença maternidade.

·         PARENTALIDADE: Fazer campanhas de conscientização sobre a importância da dedicação mais efetiva por parte do pai, dividindo assim o peso da demanda, mas também o benefício de cultivar um vínculo mais forte com a criança desde os primeiros meses.

·         PSICOTERAPIA: Promover e disponibilizar apoio psicológico específico para as grávidas e durante o primeiro ano após o nascimento.

·         WELCOME BACK: Programa de retorno ao trabalho com o devido acolhimento e assunção progressiva de responsabilidades.

·         AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO: Ao invés de olhar apenas para as entregas e resultados as empresas podem pensar no que estão ganhando com uma profissional mais bem preparada. A mãe amadurece muito nesta fase, podendo melhorar competências como empatia, tomada de decisão, resiliência e outras soft skills fundamentais para líderes. 

Em nosso programa de gestão para criar ambientes psicologicamente seguros e a integração saudável com ser humano com seu trabalho, o 4HUMAN, eu enfatizo o protagonismo do ser humano. É fundamental que cada colaboradora participe do processo e entenda que a empresa está lhe oferecendo possibilidades, as quais ela deve analisar e recorrer se achar que faz sentido.

Que o próximo dias das mães nos permita celebrar a existência daquela que nos trouxe ao mundo e valorizar todas as pessoas que assumiram a missão da maternidade

 

Wagner Rodrigues - psicólogo, pós-graduado em marketing e comunicação empresarial pela ESPM, MBA com ênfase em gestão de pessoas pela FIA/USP . Por mais de vinte anos ocupou cargos de alta gestão em grandes empresas. Criador do programa 4HUMAN de saúde mental nas empresas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados