Dispositivo permite aos cegos ler livros, identificar cédulas e reconhecer pessoas. Entenda.
Globalmente 2,2 bilhões de pessoas têm deficiência visual e dessas 39 milhões são cegas. Os dados são da OMS (Organização Mundial da Saúde). De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier, no Brasil o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) do faz parte, estima que 1,6 milhão brasileiros, ou 0,75% da população seja cega. Nesta parcela 25,3 mil são crianças
A boa notícia é que uma
tecnologia a favor da inclusão social, permite aos cegos recuperar a autonomia.
O oftalmologista explica que se trata de um dispositivo acoplado à haste de um
óculos. Funciona através de uma microcâmera associada a um sistema de voz que
descreve tudo o que a câmera vê. Por isso, quando um livro é colocado na
direção dos óculos, imediatamente é identificado e o sistema de voz faz a
leitura, Da mesma forma, reconhece o conteúdo da tela do celular ou computador,
embalagens de medicamentos ou outros produtos e até cédulas de dinheiro. “Para quem não enxerga ou pessoas legalmente
cegas que têm apenas 10% da visão, é o fim da dependência em atividades
corriqueiras do dia a dia”, afirma. O
equipamento também reconhece pessoas. “Primeiro, o usuário toca o dispositivo
que emite um som de bip. O interlocutor fala o nome próprio e esta informação é
gravada no sistema com outro toque do usuário no dispositivo. A partir daí toda
vez que a microcâmera identificar aquela pessoa, o gravador anuncia que está
próxima”, pontua.
Causas da cegueira e deficiência visual
Queiroz Neto afirma que as doenças oculares que mais causam a perda da visão entre adultos são decorrentes do envelhecimento: catarata, glaucoma e degeneração macular. De acordo com a OMS 80% da cegueira é evitável. O oftalmologista ressalta que a retinopatia diabética e o descolamento de retina frequente em altos míopes são causas crescentes de perda da visão no País. A retinopatia diabética porque o diabetes já atinge 10% dos brasileiros segundo o IBGE. O descolamento de retina porque a alta miopia está crescendo mais que a média mundial segundo a OMS.
Na infância, destaca, as
principais causas da cegueira são as doenças congênitas: catarata, glaucoma e
retinoblastoma. “Todas podem ser diagnosticadas logo que o bebê nasce através
do “teste do olhinho”, salienta. O exame
é feito com um oftalmoscópio, equipamento semelhante a uma lanterna que joga
luz sobre a retina do bebê. Quando a luz é continua, explica, significa que os
olhos são saudável. Se for descontínua a criança deve passar por exame mais
detalhado para diagnosticar qual é a doença congênita presente e prosseguir com
o tratamento.
O oftalmologista ressalta que nem sempre as doenças congênitas dão sinais logo após o nascimento. Por isso, a recomendação é repetir o exame a cada três meses no primeiro ano de vida e a cada seis meses até a idade de 2 anos.
O especialista diz que a
maior causa de deficiência visual no Brasil e no mundo é a falta de óculos. O
envelhecimento da população faz a presbiopia ou vista cansada que dificulta a
visão de perto a partir dos 40 anos ocupar o primeiro lugar no ranking. Dos erros de refração: miopia (dificuldade de
enxergar à distância), hipermetropia (dificuldade de enxergar próximo), astigmatismo
(visão distorcida para perto e longe) a que mais cresce é a miopia por causa do
excesso de telas e falta de exposição ao sol.
A correção tanto da
presbiopia como dos erros de refração
pode ser feita com óculos, lente de contato ou cirurgia refrativa para quem já
atingiu 21 anos.
Tratamentos e prevenção
A catarata,
opacificação do cristalino decorrente do envelhecimento, responde por 50% da
cegueira entre maiores de 60 anos no Brasil. Queiroz Neto afirma que só há um
tratamento - a cirurgia que substitui o cristalino, lente interna do olho, pelo
implante de uma lente intraocular. “A cirurgia de catarata é rápida, segura e
feita com anestesia local. Hoje é um procedimento refrativo que pode eliminar
simultaneamente erros de refração e a presbiopia, dependendo da lente
implantada no olho. Para adiar o desenvolvimento da doença as principais dicas
do oftalmologista são: proteger os olhos com óculos que filtrem 100% da
radiação UV emitida pelo sol e evitar o excesso de sal na dieta. Quem tem alta
miopia, acima de seis, pode desenvolver catarata precocemente, alerta.
O glaucoma, segunda maior causa de perda irreversível da visão, atinge 1,5 milhão
de brasileiros e surge sem apresentar sintomas, relata. A estimativa do CBO é
de que metade dos portadores não tenha diagnóstico. É caracterizado pelo aumento da pressão
intraocular que gradativamente destrói as células do nervo óptico, parte do
olho que conduz as imagens da retina ao cérebro. Geralmente aparece a partir
dos 40 anos, é mais frequente em quem tem casos na família, em afrodescendentes
e asiáticos. Queiroz Neto conta que a falta de sintomas estimula metade dos
portadores a interromper o tratamento que é feito com o uso constante de
colírios para controlar a pressão intraocular. A única forma de evitar a perda
gradativa do campo visual é usar rigorosamente os colírios. Para alguns casos é
indicada a aplicação de laser ou de cirurgia para melhorar o controle da
pressão intraocular.
A degeneração macular, maior causa de cegueira irreparável atinge 196 milhões de pessoas com 50 anos ou mais no mundo de acordo com a OMS. A doença danifica a mácula, porção central da retina, responsável pela visão de detalhes. Queiroz Neto afirma que esta alteração pode estar relacionada a problemas na circulação, uso contínuo de medicamentos para doenças crônicas e exposição dos olhos ao sol sem proteção. O tratamento é feito com aplicação de laser e injeções intravítreas de antiangiogênicos, mas até o momento não tem cura.
O descolamento de retina e a retinopatia diabética têm os mesmos sintomas: visão turva, enxergar flashes de luz, muitas moscas volantes diante dos olhos e até a perda súbita da visão. Queiroz Neto alerta que o descolamento de retina é uma emergência médica e o rápido atendimento pode salvar a visão. Pode ocorrer pelo afinamento da retina em altos míopes, traumas, diabetes ou distúrbios inflamatórios. O uso óculos ou lentes de contato que controlam a progressão da miopia, e o tratamento da retinopatia diabética com aplicação regular de injeções intravítreas de antiangiogênicos são os únicos tratamentos preventivos. |Alguns pacientes diabéticos, comenta, falham na continuidade dos antiangiogênicos porque a glicemia está sob controle. A única forma de garantir boa visão até os últimos dias é o tratamento regular, ensina.
Queiroz Neto finaliza afirmando que a melhor forma de manter a visão é o acompanhamento oftalmológico periódico. Isso porque, no decorrer da vida nossos olhos mudam e a maioria das doenças passam despercebidas no estágio inicial.
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