Assegurar a permanência e realizar a busca ativa de estudantes têm sido os principais desafios para os municípios
A temática dos
direitos humanos requer um diálogo constante entre a sociedade, não apenas como
forma de apresentar os direitos individuais, mas para assegurar que eles sejam
promovidos e efetivamente garantidos. Dessa forma, o dia 10 de dezembro
desponta como um momento propício para a reflexão: há 74 anos foi instituída a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
No momento em que
era fortalecida a ideia de que a proteção dos direitos humanos não deveria
reduzir-se ao domínio único do Estado, líderes políticos das grandes potências
vencedoras da Segunda Guerra Mundial criaram, em 24 de outubro de 1945, a
Organização das Nações Unidas (ONU), promulgando, posteriormente, a Declaração
Universal dos Direitos Humanos. O documento inaugurou uma nova concepção da
vida internacional, com indivíduos livres e iguais.
Entre os 30
tópicos contidos na Declaração, o acesso à educação é reconhecido no artigo 26,
apresentando a ideia de que todos os seres humanos têm direito à educação, de
forma gratuita ao menos nos graus elementares e fundamentais.
Ao longo dos anos,
entre avanços e desafios, o objetivo de tornar a educação universal foi sendo
renovado. Para citar alguns exemplos, ressalta-se a busca por garantias de
acesso; a criação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica); além do desenvolvimento de novos documentos norteadores, como as LDB
(Leis de Diretrizes e Bases), de 1996; os PCN (Parâmetros Curriculares
Nacionais), de 1998; e, de forma mais recente, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
Estratégias
para superar desigualdades
Recentemente, o
cenário da pandemia ensejou outro embate no campo da educação: só em 2020, 1,5
bilhão de estudantes em 188 países deixaram de frequentar as salas de aula,
como estratégia para conter as transmissões da Covid-19. Nesse cenário, o
Brasil foi o país que por mais tempo esteve com as escolas fechadas durante os
dois anos e meio de pandemia, segundo relatório da Organização para
Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em 1 de
julho de 2022.
Após esse período,
o empenho pela equidade na educação pública se tornou um grande desafio a ser
enfrentado pelos municípios, como mostra a pesquisa “Desigualdades e impactos da
covid-19 na atenção à primeira infância”, realizada pela Fundação
Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Itaú Social e
Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). De acordo com o levantamento, na creche
e na pré-escola houve uma redução de quase 338 mil matrículas entre os anos de
2019 e 2021. Movimento semelhante ocorreu na pré-escola, quando a queda foi de
cerca de 315 mil no mesmo período, sendo 275 mil apenas em 2021.
“Cursar a educação
infantil é essencial para que a criança consiga dar sequência em sua trajetória
escolar. Os gestores públicos precisam estar atentos ao risco de evasão desses
estudantes, ampliando ações robustas e coesas de busca ativa, preservando o
acesso à educação infantil com qualidade. O propósito é que o direito
constitucional à educação seja efetivamente garantido sempre”, explica a
coordenadora de Implementação Municipal do Itaú Social,
Sonia Dias.
Para superar a
desigualdade pedagógica presente também no ensino fundamental, sobretudo em
relação ao ensino da leitura, escrita e oralidade dos alunos dos anos finais,
foi instaurado o relatório “Expressão, Simbolização e Resolução
de Problemas: tratar a evasão e a desigualdade no pedagógico”,
desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Fundamental Helena litwin Schneider,
localizada na periferia de Porto Alegre (RS), com o apoio do Itaú Social
e Fundação Carlos Chagas. A iniciativa promoveu ações de incentivo à leitura e
outras atividades pedagógicas, por meio de oficinas e grupos de discussão entre
estudantes e professores.
Projetos como esse
contribuem para lidar com o desafio da defasagem idade-série, apresentada pelos
estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental. De acordo com o Censo 2020,
22,7% dos adolescentes deste ciclo mostravam desigualdade de ensino igual ou
maior a dois anos escolares, ou seja, alunos do 9º ano tinham aprendizado
equivalente ao adequado para o 7º ano.
É importante
destacar que essa é uma das etapas que registra um alto índice de evasão
escolar, especialmente na transição para o Ensino Médio. Dados da nona onda da
pesquisa “Educação na perspectiva dos
estudantes e suas famílias”, publicada em julho deste ano, revela
que 37% de mães e pais têm preocupação com a perda de interesse nos estudos.
É justamente para
evitar o risco de evasão escolar que as redes de ensino têm se dedicado para
garantir o acesso e a permanência dos indivíduos no colégio. A partir de
estratégias de busca ativa, municípios se esforçam para assegurar que crianças
e adolescentes tenham seus direitos respeitados.
Busca
Ativa Escolar
Para encarar o
desafio de recuperar crianças e adolescentes que estão fora da escola, os
municípios de Itapevi (SP) e Paulista (PE) em parceria com o programa Melhoria da Educação, do
Itaú Social, adotaram a estratégia da Busca Ativa
Escolar, desenvolvida pelo Unicef e Undime (União dos Dirigentes Municipais de
Educação) e implementada nos territórios com o apoio técnico da Cidade Escola
Aprendiz.
A iniciativa
ocorre com o envolvimento de todo o sistema de garantia de direitos da criança,
com representantes da saúde, assistência social, cultura, esporte, agentes
comunitários, conselho tutelar, entre outros.
Em Itapevi, a meta era
reduzir em 50% o número de crianças que abandonam a escola em um ano e reduzir
em 100% o número de crianças que evadem em dois anos. Para alcançar o objetivo,
foi criado um Comitê Gestor com funções para cada órgão participante. “Com as
visitas, a família percebe que a escola está presente, essa prática serve para acolher
a família e a criança”, conta a supervisora Institucional do Busca Ativa
Escolar do município, Solange Santiago.
“Uma criança que
não está na escola está vulnerável. Ela fica sem acesso aos serviços públicos e
direitos”, reflete a formadora do Busca Ativa Escolar em Paulista, Roberta
Castro.
A partir da
experiência com a metodologia, o município criou o programa Nenhum a
Menos, cuja finalidade é melhorar a frequência de 70%
dos estudantes com risco de evasão e rematricular 50% dos evadidos de 2019. O
movimento também buscou fomentar a participação dos alunos dos Anos Finais do
Ensino Fundamental por meio de grêmios estudantis.
Melhoria da Educação
Desenvolvido há
mais de 20 anos pelo Itaú Social, o programa tem por
objetivo contribuir com o fortalecimento dos municípios para garantir acesso,
permanência e aprendizado com equidade para crianças e adolescentes. O site do
programa também oferece o Autodiagnóstico da Rede de Ensino,
instrumento disponível para que os gestores avaliem diferentes aspectos da
gestão de uma secretaria de educação e consigam, a partir disso, identificar
oportunidades de aprimoramento.
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