Quase 3/4 dos filtros solares podem gerar riscos como aborto ou má formação fetal
A exposição solar é importante em todas as fases da vida, até porque o sol é a principal fonte de vitamina D – 80% da formação dessa vitamina provém dos raios solares, principalmente do tipo B (UVB), que ativam a síntese da substância em nosso organismo.
Na gravidez, não é diferente. Segundo um estudo da Universidade de Edimburgo, gestantes que receberam mais luz solar no primeiro trimestre da gravidez diminuíram as chances de desenvolver problemas com a placenta, associados ao parto prematuro e ao aborto espontâneo. Mulheres que não tinham esse hábito apresentaram 10% a mais de probabilidade de ter esses riscos.
Entretanto, tão importante como a exposição solar é a forma de se
proteger contra seus danos. Um deles é evitar tomar sol entre 10h e 16h, quando
a radiação é mais intensa.
Proteção solar exige cautela
Usar o protetor solar é essencial, pois ameniza problemas de pele relacionados à gravidez, como o melasma, condição hormonal durante a gestação que causa manchas escuras na pele (também chamado de cloasma gravídico). O ideal para as grávidas são as loções de amplo espectro, que atuam contra os raios UVA e UVB. Também precisam ter fator de proteção solar (FPS) entre 30 e 50.
“No entanto, a orientação quanto ao uso do protetor solar é imprescindível, já que muitos produtos são contraindicados na gestação”, afirma Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, Membro da FEBRASGO e Especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, e em Infertilidade e Ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO, e médico nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.
O especialista aconselha o uso do filtro solar físico ou mineral, composto por moléculas utilizadas em sua composição, geralmente o óxido de zinco e o dióxido de titânio. Além de ser hipoalergênico, ele cria uma barreira na pele, que reflete os raios ultravioleta, impedindo sua absorção pela pele.
Já o filtro solar químico, mais popular
entre os protetores solares, possui substâncias químicas que absorvem os raios
solares e penetram na epiderme, podendo afetar a gravidez.
Quais os riscos dos protetores químicos
Segundo o estudo The Skin in Pregnancy, publicado este ano no Journal
of Cutaneous Medicine and Surgery: Incorporating Medical and Surgical
Dermatology; e o estudo Safety of skin care products during pregnancy,
publicado no Journal Canadian Family Physician; quase 3/4 de todos os
protetores solares não devem ser aplicados pelas gestantes por terem os
seguintes componentes:
Oxibenzona
Presente na maioria dos protetores solares químicos, a oxibenzona,
combinada a outros componentes químicos, é absorvida pela pele, caindo na
corrente sanguínea. A partir daí, a substância pode gerar graves reações
alérgicas e prejudicar a produção hormonal, além de estar associada ao baixo
peso no nascimento de bebês do sexo feminino.
Retinol
Um dos derivados do ácido retinóico, o retinol é uma molécula química presente em vários produtos dermatológicos, incluindo cremes antirrugas e protetor solar. Nas embalagens do protetor solar, o retinol costuma ser mencionado como palmitato de retinil (também chamado de acetato de retinil) e linoleato de retinil.
Por serem classificados como teratógenos, os produtos não devem
ser usados na gestação. “São substâncias que podem gerar defeitos congênitos em
um embrião ou feto, por meio de efeitos tóxicos, causando a má formação de um
bebê em desenvolvimento. Além disso, produtos à base de retinóides são
fotossensibilizantes e antagonistas ao sol, provocando hiperpigmentação na pele
e queimaduras”, reforça Carlos Moraes.
Ureia
De acordo com a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),
produtos solares com ureia devem ser evitados durante o período gestacional,
principalmente em concentrações superiores a 3%. O principal risco da ureia na
gestação é acarretar a má formação do feto. Para saber se um produto contém
essa substância, procure por termos como diazolidinil urea e imidazodinil urea.
Cânfora
Também presente em alguns filtros solares, a cânfora pode imitar o
hormônio estrogênio e, em grande concentração, pode aumentar o risco de aborto.
Além disso, a substância pode atravessar a placenta e comprometer o
desenvolvimento do bebê. Assim como a ureia, a cânfora também é contraindicada
pela ANVISA durante a gravidez. Por isso, evite produtos que contenham
4-metilbenzilideno cânfora (4-MBC) e 3-benzilideno cânfora (3-BC) entre seus
componentes.
Perigos no aleitamento
Segundo um estudo realizado pela Universidade de Zurique e publicado na revista da Sociedade Brasileira de Dermatologia; substâncias presentes em alguns tipos de protetores solares são absorvidas pelo organismo e excretadas no leite materno. A taxa de contaminação das lactantes não foi pequena: 85,2% das amostras de leite materno tinham algum resquício de protetor solar.
De acordo com o estudo, três substâncias são particularmente problemáticas: 4-metilbenzilideno cânfora (4-MBC), 3-benzilideno cânfora (3-BC) e octocrileno (OC), também chamadas de poluentes orgânicos persistentes (POPs), que podem permanecer acumulados nos tecidos gordurosos.
Presentes em cerca de 30% dos protetores comercializados no Brasil, estas substâncias expõem bebês a composições químicas com potencial tóxico, comprometendo cérebro, órgãos sexuais, pulmões e inúmeras glândulas que estão em formação.
“Ainda que os riscos não sejam iguais para todas as gestantes, não
vale a pena arriscar. Em uma gestação de alto risco, por exemplo, qualquer
fator externo minimamente prejudicial pode agravar o quadro da gravidez.
Portanto, antes de curtir o verão e as férias, consulte o médico e peça
orientações sobre o protetor solar ideal para você”, alerta Carlos Moraes.
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