Nematoide que acomete a parte aérea da planta, ainda com poucos resultados de estudos, também é o vilão causador da Síndrome da haste verde e retenção foliar na soja, e apresenta maior perigo com incidência elevada de chuvas
Não é só o produtor de soja que deve se preocupar
com o ataque de Aphelenchoides besseyi, nematoide que se alimenta de fungos
presentes no solo e restos culturais e que parasita a parte aérea da planta. Na
soja, causa a Síndrome da haste verde e retenção foliar (“Soja Louca II”), que
leva a mais de 60% de abortamento das inflorescências. Mas
ele não fica restrito à oleaginosa, os pesquisadores - a nematologista
Rosangela Silva, da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso,
Fundação MT, e Santino Aleandro, da Agronema, consultoria nematológica, têm
visto a campo grandes estragos do fitonematoide em lavouras de algodão, com
perda em alguns casos de 80% a 100% dos frutos, ou seja, das plumas.
Um fator muito importante para quantificar o nível
de infestação e multiplicação desse nematoide é o regime de chuvas. Se desde o
início do plantio da cultura houve muita precipitação e com constância até o
florescimento, segundo Santino, observam-se situações em que as perdas vão de
80 até 100% da produção de frutos. “O produtor não vai colher nada nessa área
que foi atacada. É uma preocupação que se deve ter com a soja, mas também com o
algodão”, destaca. Um dos agravantes apontados por ele são as regiões sob pivô,
pois ainda que a chuva cesse é possível criar condições favoráveis “por conta
da umidade oferecida pela irrigação”.
Situação em Mato Grosso
Referência em produção de algodão, Mato Grosso
plantou na safra 2021/22, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia
Agropecuária (Imea), uma área de cerca de 1,18 milhão de hectares. No Estado, o
início da semeadura acontece de dezembro a fevereiro e a colheita a partir de
junho, momento que possivelmente as lavouras implantadas mais cedo já estão
sendo colhidas. “É a partir daí que o produtor vai verificar as perdas,
visualizando até a presença de plantas que continuam vegetando quando deveriam
começar a senescência. Ainda que ele possa utilizar o dessecante químico, essas
plantas podem continuar vegetando”, pontua o pesquisador da Agronema.
Esse ano, os meses de janeiro, fevereiro e março
foram chuvosos, mas dentro da média prevista, com o acumulado mensal na casa de
200 milímetros. No entanto, em abril, a quantidade de chuva caiu
significativamente, ficando abaixo de 80 milímetros. “Essa redução influencia
na presença dos sintomas de Aphelenchoides porque deixa de oferecer
condição ideal para o desenvolvimento do patógeno”, conta Santino. Ainda assim,
não se pode descuidar, já que ano após ano, de acordo com as condições
climáticas, há maior ou menor incidência do problema.
Identificação recente
A Síndrome da haste verde da soja é relativamente
nova. Seu agente causal foi identificado há quase uma década e, somente em
2017, a presença da doença foi observada no algodão, especificamente no
município de Sapezal-MT. “Já sabemos que em áreas onde há o patógeno sem o
manejo de plantas daninhas, o problema tende a ser mais agravado porque boa
parte delas, principalmente as leguminosas e dicotiledôneas, multiplicam mais
esse nematoide, permitindo que esteja não só presente no campo, mas em maior
quantidade”, explica Rosangela.
Santino diz que o plantio direto traz uma série de
melhorias para o solo e produção, mas, por outro lado, também oferece condições
de manutenção desse fitonematoide, por causa da umidade e da palhada, que
permitem a multiplicação de fungos. Estes, por sua vez, alimentam Aphelenchoides
besseyi na entressafra. A introdução desse nematoide nas áreas em
que ainda não há a sua presença também pode acontecer por meio do plantio de
sementes forrageiras, especialmente a braquiária, “que não foi devidamente
processada, que tenha restos de torrões e sem tratamento nematicida”.
A recomendação de ambos os pesquisadores é evitar,
sempre que possível, a sequência de plantio de algodão em áreas que estavam com
soja com histórico da Síndrome da haste verde. Também orientam para que, em
plantações com grande infestação, adote-se o revolvimento do solo. A prática,
mesmo ainda sem dados técnicos científicos de comprovação, é observada com bons
resultados aliados à utilização de nematicidas em tratamento de sementes e/ou
aplicação de algum produto foliar.
“Estamos em um momento inicial das pesquisas. Há
vários testes com produtos químicos e biológicos sendo conduzidos. Ainda não
temos uma posição técnica que ofereça um manejo com a certeza de um nível de
controle satisfatório. A Fundação MT está com experimentos em andamento e
esperamos em breve ter resultados. Por isso, fica o alerta para a máxima
atenção às lavouras, seja de soja ou algodão”, completa a pesquisadora
Rosangela.
Fundação MT
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