Dois anos de medo, angústia e incerteza. Desde que a pandemia de covid-19 começou, os dias foram extremamente desafiadores. Acompanhar o aprendizado e as muitas tentativas de manter a educação de crianças e adolescentes, nesse cenário, foi motivo de aflição para muitas famílias. Nossos jovens passaram do ensino presencial para o remoto sem que houvesse tempo hábil para adaptação. Segundo dados do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma entre cada sete crianças e adolescentes de 10 a 19 anos vivem atualmente com algum transtorno mental. E um em cada cinco adolescentes e jovens de 15 a 24 anos se sente deprimido ou com pouco interesse em fazer as coisas.
A pressão causada pelo isolamento social teve
impacto não apenas na vida escolar, mas também na saúde emocional desses
grupos. Os dados são alarmantes e pedem de nós, adultos, um posicionamento
ativo, que possa ajudar as nossas crianças e adolescentes a terem o menor prejuízo
possível diante desse contexto avassalador.
Incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
a educação socioemocional é um eixo que, segundo o documento, deve perpassar
todos os âmbitos da escola. Ela é, hoje, uma das ferramentas fundamentais nessa
tarefa. Acolher, embalar e permitir que nossos jovens cresçam emocionalmente,
mesmo em meio a condições desfavoráveis, é papel de todos nós. Mas como nós,
também atingidos pelas consequências dos últimos dois anos, podemos ajudá-los a
enfrentar essas adversidades dentro de casa?
Há, no fundo, duas habilidades muito importantes
para um amadurecimento saudável no pós-pandemia: o autoconhecimento e a
empatia. O primeiro precisa ser, antes, exercitado pelos pais. Essa habilidade
exige amadurecimento constante porque somos referência para os filhos.
Precisamos ajudá-los a reconhecer as próprias emoções e aprender a lidar com
cada uma delas. É nosso papel orientá-los a ter um posicionamento ativo quanto
às próprias percepções e ao que fazer com elas neste pós-pandemia.
A segunda habilidade é a empatia. Nossos jovens
precisam, mais que nunca, conviver com o outro, com o diferente. Eles precisam
aprender a respeitar essas diferenças e ser generosos. A convivência é crucial
para praticar esses sentimentos e isso ajuda na saúde emocional.
Na educação dos filhos, a resiliência não é
possível quando falamos de pais superprotetores, pois as crianças e
adolescentes precisam passar por momentos adversos e de dificuldade para
crescer nessa frente. É como se fosse um músculo que precisa ser exercitado.
Precisamos oportunizar aos filhos momentos e situações em que possam treinar a
resiliência.
Momentos como o de uma pandemia são propícios para
esse fortalecimento. É um crescimento adaptar-se a um novo cenário, com aulas
em um formato diferente do habitual, com as relações passando a ser
majoritariamente virtuais e o formato dos relacionamentos mudando. Esse momento
permitiu ampliar a resiliência em quem já a possuía e exigiu força dos que não
estavam acostumados a ela.
Não importam as dificuldades ou os desafios, não
podemos colocar nossos filhos dentro de uma bolha. De acordo com o pesquisador
europeu Kim-Cohen, “certa medida de estresse e desarmonia é importante para
criar oportunidades para uma proteção eficiente”. Ou seja, durante um conflito,
os níveis de estresse aumentam e, quando se normalizam, a criança cria
resiliência. No universo micro, particular e familiar, a capacidade de permitir
que os pequenos aprendam por si mesmos a enfrentar turbulências é admirável.E,
ali em frente, perceberemos que esse momento não fortaleceu apenas nossa
resiliência, mas também nossos laços com aqueles que carregam muito de nós. A
pandemia nos trouxe novas formas de apoiar uns aos outros, ajudando nossos
filhos a conhecerem-se e compreenderem-se mais, a serem mais empáticos e,
principalmente, a desenvolverem o “músculo” da resiliência. Ali em frente,
teremos pessoas mais humanas e felizes e, por conseguinte, um mundo melhor para
todos.
Anderson
Leal - consultor pedagógico da Conquista Solução Educacional.
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