Cem anos separam este
fevereiro do mesmo mês que ocorreu a Semana de Arte Moderna no Theatro
Municipal de São Paulo. Ao longo de décadas o evento modernista - que
claramente, como muitos já discutiram, teve um antes e um depois - viveu uma
montanha russa. Ora exaltado por acadêmicos e artistas, outras rechaçado.
Oswald de Andrade mesmo, modernista inveterado e um dos expoentes do movimento,
ao fim da vida, segundo contou sua filha, Marília de Andrade, se viu triste,
marginalizado, por não ter sua obra reconhecida.
Mas o fator tempo fez
justiça não só a ele como aos seus amigos de bares, literatura e artes. Chegamos
ao centenário da efeméride com as ideias modernistas cada vez mais atuais,
principalmente na intenção de exaltar a arte brasileira. Com essa premissa em
foco, em setembro passado lançamos a Agenda Tarsila, plataforma que tem como
objetivo democratizar o acesso à arte, em especial em um momento de pandemia,
promovendo uma difusão de conhecimento e cultura com as novas gerações.
Nela, que já conta com
quase 500 atividades cadastradas, a maioria gratuitas e muitas em formato
on-line, disponibilizamos também vídeos, entrevistas com especialistas e
familiares de modernistas, curiosidades e uma linha do tempo que contempla toda
a história do movimento. A iniciativa, que será mantida no ar como registro
histórico mesmo quando finalizarem as atividades - previsão de dezembro deste
ano -, foi criada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de
São Paulo e é gerida e organizada pela Organização Social Amigos da Arte.
Se no início do século
passado as manifestações modernistas não saíram do palco do Municipal, agora
elas ganharam não só São Paulo como também o Brasil - e de quebra o mundo. Uma
das programações que publicamos na Agenda ocorre na Argentina, no Museu de Arte
de Buenos Aires, onde hoje mora o Abaporu, da nossa Tarsila. E pode ser visto gratuitamente
por quem está aqui, de forma remota.
É importante dizer que a
difusão das atividades, que abordam o movimento modernista nos seus mais
diversos aspectos - quem esteve, os que faltaram, representatividade,
diversidade, visão contemporânea, desdobramentos, entre outras coisas - são
muito bem contempladas pelo trabalho realizado pela constelação das
instituições públicas de cultura do estado de São Paulo que, cada uma à sua
maneira, destrinchou e deu luz ao assunto da forma como ele deve ser visto
hoje, cem anos depois.
Há, por exemplo, nas Fábricas de Cultura, uma série de atividades, inauguradas na semana comemorativa, que atingem desde o público infantil até o adulto. Tem desde contação de histórias a oficina de memes inspirados em obras modernistas. Pluralidade, mas sem perder a atualidade, é uma forma de conversar com o maior número de pessoas que, de alguma forma, vão ser tocados pelo movimento que começou no século passado e ecoa ainda hoje.
Não há fronteiras, provincianismo ou qualquer outra definição
que impeça que a cultura, setor tão importante neste nosso país, siga sendo a
engrenagem que faz girar a sociedade e ajude a história a perpetuar no tempo.
Se ‘choraram e sorriram' os modernistas, não faz diferença. O importante é
seguir o ensejo que deram e exaltar o que temos de melhor: a nossa arte, a
nossa cultura. “Brasileiros, chegou a hora de celebrar o Brasil”, ordenou Mário
de Andrade. Missão dada é missão cumprida.
Danielle
Nigromonte - historiadora e Diretora Geral da Amigos da Arte – Organização
Social de Cultura.
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