Estudo divulgado neste início de semana pela revista científica Cancer aponta que risco de desenvolver tumores de boca e garganta associado ao HPV é maior entre quem teve mais parceiros sexuais quando jovens; 59% dos brasileiros admitem que não usam preservativos como medida de prevenção contra o vírus sexualmente transmissível
O tumor orofaríngeo - localizado atrás da boca e que inclui a base da língua, céu da boca, amígdalas e paredes laterais - acomete mais de 15 mil pessoas por ano no Brasil, segundo dados recentes do Instituto Nacional do Câncer (INCA). O número de casos relacionados à infecção pelo vírus papiloma (HPV) vem aumentando em homens e mulheres, e a sua transmissão ocorre por meio da prática sexual sem proteção, em especial por intermédio do sexo oral.
Um novo estudo ressalta a importância de medidas de conscientização sobre a relação entre o HPV e o Câncer: quem teve mais de 10 parceiros de sexo oral na vida apresenta uma probabilidade 4,3 vezes maior de ter câncer orofaríngeo relacionado ao vírus. A pesquisa, publicada na revista científica Cancer em 11/01, analisou 508 participantes, sendo que 163 deles tinham câncer orofaríngeo relacionado ao HPV, enquanto os 345 restantes que não apresentavam a doença.
Segundo ainda o levantamento, a probabilidade de ter o câncer orofaríngeo associado ao HPV era maior em quem teve mais parceiros sexuais quando jovens e aqueles que mantiveram relações extraconjugais.
Estima-se que o vírus sexualmente transmissível cause 630 mil novos casos de câncer por ano no mundo. No caso dos tumores de orofaringe, tonsila [amígdala] e base da língua, especificamente, o HPV tipo 16 (responsável pela maioria dos casos de câncer) foi identificado em até 60% dos tumores nos Estados Unidos, e há um aumento gradual da detecção desse vírus no Brasil.
Um outro dado, apontado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), reforça esse quadro preocupante: 59% dos brasileiros não usa preservativos como medida de prevenção contra o HPV e dentre os 1500 entrevistados pelo estudo, quase 30% não imaginam que usar preservativos pode reduzir o risco de desenvolver câncer.
"O que acontece é que o risco de desenvolver o tumor maligno entre os jovens é muito grande pela liberdade sexual adquirida nos últimos anos", explica o Andrey Soares, oncologista do CPO Oncoclínicas, em São Paulo.
O vírus atinge de forma massiva a população feminina. Em média, 75% das brasileiras sexualmente ativas terão contato com o HPV ao longo da vida, sendo que o ápice da transmissão do vírus acontece na faixa dos 25 anos. Em conjunto com o tabagismo e o etilismo, a infecção pelo vírus está entre os principais fatores ligados ao cenário de desenvolvimento precoce do câncer.
Para o médico, o estudo recém divulgado ressalta ainda a relevância das campanhas de conscientização sobre a importância da da vacina do HPV para frear o aumento no risco destes tipos de tumores de cabeça e pescoço relacionados ao HPV entre a população jovem.
"A imunização de meninos e meninas contra o HPV é segura e indispensável. Ainda há muitos mitos e resistência em relação ao assunto, mas o programa de vacinação de crianças e adolescentes é efetivamente uma iniciativa de promoção à saúde pública que impacta na prevenção efetiva não só contra o câncer orofaríngeo, mas também de outros tipos de tumores que afetam a população como colo de útero e, pênis e canal anal, apenas para citar mais dois exemplos", alerta Andrey.
Primeiros sinais
Os primeiros sinais do tumor orofaríngeo podem aparecer por meio de feridas que não cicatrizam na boca nos primeiros 15 dias, além do aparecimento de nódulos no pescoço. O paciente pode se queixar também de dor para mastigar ou engolir. "Estes fatores, ligados ao aparecimento de pequenas verrugas na garganta ou na boca, podem revelar um possível diagnóstico com associação ao HPV. Portanto, é muito importante que seja acompanhado de perto por um especialista", ressalta o oncologista do CPO Oncoclínicas.
Outros sintomas podem estar relacionados à rouquidão persistente, manchas/placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, gengivas, céu da boca e bochecha, bem como lesões na cavidade oral ou nos lábios e dificuldade na fala.
Atenção aos fatores
Tabagismo: Segundo Andrey, o câncer de cabeça e pescoço, na maioria das vezes, apresenta maior incidência entre os jovens e pouco mais de um terço é causado por maus hábitos. "O principal e o mais importante de ser combatido é o tabagismo", revela.
Antigamente, o hábito de fumar era visto com elegância e glamour, sendo incentivado até pelas propagandas que mostravam atores famosos tragando seus cigarros, o que estimulava esse costume entre as pessoas mais jovens. O uso frequente do cigarro também é responsável pelo aparecimento do tumor na cabeça e pescoço. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 90% dos pacientes diagnosticados com câncer de boca eram tabagistas.
Houve um tempo em que o cigarro era liberado nos restaurantes e até em sala de aula. Hoje, isso não é mais permitido. Contudo, o uso do tabaco persiste e, na maioria das vezes, vem acompanhando de bebidas alcoólicas. Estimativas apontam que 75% dos casos de câncer de pulmão são decorrentes do uso do tabaco e os fumantes têm cerca de 20 vezes mais risco de desenvolver a doença.
Álcool: "O álcool pode agir como um solvente e facilitar a penetração de carcinógenos nos tecidos-alvo. Além disso, aumenta o índice de quebras no material genético e a peroxidação de lipídios e, consequentemente, a produção de radicais livres. Vários estudos epidemiológicos demonstram que o consumo combinado de álcool e fumo constitui o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço", explica Andrey.
Infecções Virais: A geração de jovens e adultos com menos de 40 anos preza e valoriza muito a liberdade sexual. Trata-se de um grupo que nasceu após o "boom" do HIV e, apesar de bem informada e consciente dos riscos envolvendo doenças sexualmente transmissíveis, apresenta índices elevados de contágio pelo chamado papilomavírus humano - conhecido como HPV.
"Além disso, a hepatite B e C também são fatores de risco para câncer de cabeça e pescoço, são infecções virais que podem ser transmitidas em relações sexuais não seguras. Vale lembrar sempre da importância do uso de preservativos para a preservação da saúde", finaliza Andrey Soares.
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