O século XXI – com o advento da tecnologia e seus
respectivos impactos no cenário global – trouxe para a sociedade a figura do
cidadão digital. Dessa persona, espera-se que utilize de maneira apropriada e
responsável os recursos tecnológicos; esse atuar envolve direitos e deveres
que, dado o ineditismo do momento, podem não ser tão claros e de fácil domínio
quanto imaginamos. Há alguns anos, tenho ouvido pais, mães e responsáveis
comentarem o quanto crianças e adolescentes, os chamados nativos digitais, são
hábeis em navegar nesse mundo. Entretanto, essa conclusão é equivocada ao
extremo. De acordo com pesquisa TIC Kids Online, quando desafiados a julgar as
próprias habilidades na internet, 76% dos jovens brasileiros acreditam saber
mais do que os pais; 71% afirmam conhecer muito sobre como usar a rede. No entanto,
da teoria à prática, em um experimento da mesma organização, 30% dos jovens não
souberam verificar se uma informação na internet estava correta. Esse dado é
relevante, porque prova que há necessidade de orientação; da mediação de pais e
professores. Aliás, essa conclusão fica muito clara com o docudrama The Social Dilemma (O Dilema das
Redes), lançado pela Netflix.
Dirigido por Jeff Orlowski e escrito por Orlowski,
Davis Coombe e Vickie Curtis, o documentário analisa o papel das redes sociais
e os danos que elas podem causar à sociedade. Temas como desinformação,
discurso de ódio, polarização e manipulação de algoritmos e recursos – como o
botão like – são detalhados por executivos da indústria que
vivenciaram a criação e o gerenciamento de redes sociais como Facebook,
Instagram, Twitter, Pinterest e do Google. Os dilemas éticos passam pela
constatação do dano causado pelas redes à sociedade e aos indivíduos, sobretudo
os mais jovens que têm desenvolvido uma dependência tecnológica que compromete
a saúde mental deles. O documentário tem causado desconforto e perplexidade,
sobretudo em famílias e educadores. Alguns especialistas em comportamento
humano têm defendido, inclusive, que as redes sociais estão colocando a
humanidade em risco. Em um determinado momento, ao serem questionados sobre
“qual é o problema das redes sociais”, esses executivos reagem com silêncio
nervoso, indicando a complexidade dos danos; elas têm trazido riscos, até
mesmo, para as democracias do mundo.
O vício, a meu ver, é o que tem preocupado mais os
pais, responsáveis e educadores. Isso porque as redes sociais precisam do nosso
tempo, ou seja, quanto mais disponibilidade o usuário passa dentro do sistema,
mais ele fica exposto aos anúncios e produtos. O modelo de monetização e o
acesso à geolocalização – trabalhados via algoritmos e inteligência artificial
– compõem o “Capitalismo de Vigilância”, que monetiza dados que os usuários
oferecem, gratuitamente, às empresas de tecnologia no processo cotidiano de
navegação. Esse é um novo mundo para o qual nossos filhos não estão preparados.
E o documentário mostra isso, claramente. Então, essa falácia de que os nativos
digitais estão mais talhados a lidar com esse mundo cai por terra.
Diante de constatações sobre os dilemas éticos e
como a sociedade deve responder a esse novo cenário, o que nos cabe – como pais
e educadores – é preparar os nossos filhos e alunos para essa nova realidade.
Como mestre em Educação pela Universidade de Stanford e pai de quatro filhos,
há alguns anos tenho me preocupado com essa temática. Para preparar os
estudantes, a Geekie – empresa referência em educação com apoio de inovação no
Brasil e no mundo, que cofundei com Eduardo Bontempo – transformou a disciplina
de Educação
Digital em ferramenta pedagógica para que as escolas possam
preparar os alunos para o cenário contemporâneo.
Alinhado a essa forma de pensar o Geekie One
– que conversa a preocupação da exposição de crianças e
adolescentes aos riscos apresentados pela conectividade – tem, entre as
disciplinas eletivas, Educação Digital e Cidadania
Digital, sendo esta inspirada no livro “Digital Citizenship in
Schools”, de autoria de Mike Ribble em parceria com a International Society for
Technology in Education. Ambas têm por finalidade auxiliar jovens a compreender
as oportunidades, os riscos e os desafios de estarem conectados. O conteúdo
prepara os alunos do Ensino Fundamental e do Novo Ensino Médio para lidarem com
a complexidade da vida digital. Habilidades como a argumentação, a empatia, o
pensamento crítico e a autorreflexão são partes importantes desse conteúdo. O Geekie One
representa a mais completa iniciativa de personalização da aprendizagem;
resulta da experiência de uma empresa que alcançou mais de 5 mil escolas
públicas e privadas de todo o país, impactando cerca de 12 milhões de
estudantes.
As disciplinas Educação Digital e Cidadania
Digital estão pautadas no tripé oportunidades, riscos e desafios
que o mundo digital proporciona. A condução ocorre dentro de um processo de
aprendizagem significativa que leva para a sala de aula casos reais e próximos
da vida de cada estudante. Com metodologias ativas, abre-se espaço para
discussões sobre fatos reais – casos que agregam valor não apenas ao que é
aprendido, mas que impulsionam o desenvolvimento da autonomia do aluno para
criar um ambiente de aprendizagem colaborativa dentro da sala de aula. Como
resultado, torna-se possível desenvolver competências bastante relevantes para
a formação de estudantes, alinhadas inclusive à BNCC e em sintonia com o Novo
Ensino Médio. O aluno exercita, na sala de aula, a empatia, o diálogo, o
desenvolvimento do pensamento crítico, a cooperação e a capacidade de resolução
de problemas. Essa capacitação tem o potencial incrível de formar cidadãos com
escuta ativa e sensibilidade para as questões coletivas.
Educar os jovens para enxergar os desafios e as
oportunidades das redes sociais é um tema de especial relevância. A escola e a
família precisam ensinar os jovens a lidar com as complexidades do estar
conectado; educar para a cidadania digital vai além da disseminação da
compreensão de conceitos como pegadas digitais. O aluno tem que ser preparado
para ver e compreender a relevância desse conhecimento; entender como as
pegadas digitais influenciam na forma como ele será visto na internet; como a
reputação on-line pode influenciar a busca de um emprego ou a vaga acadêmica,
no futuro. Esse aprendizado envolve disponibilizar insumos para o alcance da
cidadania – ou seja, uma aprendizagem significativa e relevante para o cotidiano
do aluno.
Claudio
Sassaki - mestre em Educação pela Stanford University.
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