Durante a pandemia muitos empresários precisaram pegar empréstimos bancários, mas o período de restrições foi bem mais longo do que se esperava e a recuperação de prejuízos levará muito tempo. Especialista aponta alternativas para se empresas saírem do vermelho
Até o fim do ano, as reservas bancárias no Brasil
para cobrir inevitáveis calotes aos bancos, em virtude da paralisação causada
pelas medidas de contenção da pandemia do novo coronavírus, devem subir de 40%
a 60%. O dado divulgado no mês passado em análise feita pela UBS Group AG,
empresa suíça de serviços financeiros e com atuação global, revela que o
endividamento de empresas e famílias brasileiras neste fim de ano será alto.
No caso das empresas, elas precisam enfrentar o
desafio de recuperar prejuízos nesses últimos três meses do ano, depois de
quase oito meses de baixa atividade econômica, com a preocupação de ter mais
dívidas a pagar do que o usual. “É muito desafiador manter a produtividade. Por
isso, este momento pode ser a hora ideal para se livrar de dívidas”, sugere o
especialista em controle e gestão financeira pela Fundação Getúlio Vargas,
diretor da Cronos Capital e especialista em ativos estressados, Cidinaldo
Boschini.
O problema é que muita gente antes e
principalmente durante a pandemia precisou pegar dinheiro no banco para manter
o negócio, mas o período de restrições foi bem mais longo do que se esperava e
a recuperação dos prejuízos está muito difícil, com a economia ainda em ritmo
lento. “Tem muita empresa que contraiu dívidas que começarão a vencer no início
de 2021, mas sem perspectiva de gerar caixa para quitá-las. Uma empresa
endividada é como um atleta que começa a corrida minutos depois da largada. Ele
tem de recuperar o tempo e ainda alcançar os competidores”, compara.
Para começar a se livrar dessas dívidas, o
Cidinaldo explica que antes de mais nada, a empresa precisa fazer um
planejamento financeiro rigoroso e eliminar ao máximo gastos não essenciais.
Porém, o que mais compromete o caixa de uma empresa, segundo o especialista em
gestão financeira, são dívidas com empréstimos bancários.
Garantia forte
É aí que o uso de um patrimônio imobiliário pode ajudar, segundo Cidinaldo,
pois possibilita a tomada de crédito na modalidade de home equity, que é o
empréstimo feito com garantia de imóveis e com um custo bem mais baixo. “Nesta
modalidade devido à redução do risco para a instituição financeira, a mesma
consegue conceder empréstimos com taxas de juros menores e prazos mais
dilatados”, explica.
De acordo com o especialista, um empréstimo deve
ser tomado com dois propósitos: primeiro de substituição de outros empréstimos,
visando melhorar o perfil do endividamento, ou seja, aumentar o prazo médio de
vencimento da dívida e reduzir o custo médio do endividamento; ou para
investimento em capital de giro e/ou ativo imobilizado. Qualquer outro
propósito irá gerar, no médio e longo prazo, sérios problemas financeiros para
a empresa que está tomando o empréstimo. “Disciplina financeira é fundamental
para qualquer empresário. E o propósito do financiamento tomado é o principal
pilar da disciplina financeira. O que ditará o sucesso ou o insucesso”, destaca
Cidinaldo.
Home equity
Processo do crédito no sistema home equity começa pela financiadora recebendo
um imóvel como garantia, geralmente por meio de um contrato de alienação
fiduciária). Aprovado o crédito e a documentação, financiadora libera a quantia
solicitada na conta corrente do contratante. O imóvel permanece em nome da
financiadora até que a última parcela do empréstimo seja paga. Então, o bem
imobiliário dado como garantia volta para o nome do tomador de crédito.
Por ser garantido por um bem imóvel, o risco
desse tipo de crédito é menor. Mas por outro lado, existindo a inadimplência, o
devedor pode chegar a perder o seu imóvel, como parte do processo de
consolidação da propriedade fiduciária por parte do agente financeiro. A
execução dessa dívida começa quando o banco solicita ao cartório que notifique
o devedor para purgar a mora (pagar a dívida) em um prazo de 15 dias, contados
do recebimento da notificação. Caso o devedor não pague a dívida neste prazo, o
cartório efetua a consolidação da propriedade do bem imóvel em nome da
instituição que concedeu o crédito.
Mas muitos podem se perguntar por que a própria
empresa não vende seu imóvel e quita a dívida com o banco? Segundo Cidinaldo,
isso depende do caso, pois em algumas circunstâncias a venda de um imóvel
certamente irá demorar muito devido a liquidez e para que a venda ocorra
rapidamente, na maioria das vezes é necessário conceder um desconto no preço de
venda, o que faz com que o valor conseguido pelo patrimônio imobiliário não
seja suficiente para quitar a dívida, revela o especialista.
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