Psicóloga alerta
que cobrança da sociedade e expectativas individuais são as grandes vilãs desse
período
A Organização Mundial da Saúde
fez o alerta: a "aposta mais segura" para o fim do ano é não realizar
reuniões familiares neste Natal e Ano Novo, e evitar aglomerações por causa da
Covid-19. A pandemia do coronavírus não permitirá que o fim de 2020 seja
igual aos anos anteriores e, em vez de programar a viagem de Réveillon, hoje
temos que pensar no que será possível fazer dentro do distanciamento social
exigido. Adeus encontros com a galera em bares lotados, amigo secreto, festa de
Natal com 50 parentes e virada de ano na praia repleta de gente.
Para a psicóloga Ana Gabriela
Andriani, mestre e doutora pela Unicamp, os eventos de fim de ano são
manifestações culturais, com características distintas no mundo todo, mas que
ganharam uma importância muito grande no Brasil. “Os brasileiros comemoram o
Natal e o Ano Novo de uma maneira muito específica. Existem comunidades que não
comemoram o Natal, por terem outras religiões, como alguns países do Oriente
Médio e da Ásia, por exemplo. O mesmo com o Ano Novo: quando comemorado, a
celebração acontece de forma diferente do que aqui”.
Segundo a especialista, a
importância para esses eventos está na significação relacionada a cada data.
“Atribuímos ao Natal, aqui no Brasil, um significado de renascimento e para o
Ano Novo, uma visão de encerramento de um ciclo para o começo de um novo”,
explica. Ana Gabriela observa que, principalmente em relação à festa de
Réveillon, existe um simbolismo relacionado à esperança de viver algo
diferente, novo ou mais feliz no ano que se inicia. Mas é justamente essa
expectativa que causa frustração nas pessoas. “O maior problema dessa época, no
meu ponto de vista, é que existe uma obrigatoriedade de se estar feliz. É
preciso comemorar, vestir-se de branco, fazer uma festa e demonstrar muita felicidade”,
analisa.
Mas os simbolismos e
significados dessas datas não são unânimes. “Algumas pessoas relacionam esses
eventos a frustrações, perdas e, até mesmo, morte e ausência”, complementa. Ou
seja, nem todo mundo gostaria de viver essas datas da mesma forma. Para essas
pessoas, o ano de 2020 pode se adequar mais ao que elas esperam nos dias 25 e
31 de dezembro. Já para as que precisam dos eventos para sentir a renovação, a
ausência das festas de fim de ano pode trazer uma sensação de frustração. Para muitos,
a ideia de não desfrutar “da maneira certa” essas datas, com viagens e grandes
celebrações, poderá gerar ansiedade e decepção.
É importante também observar
as expectativas para 2021. Por conta da pandemia, muitas pessoas projetarão
para o ano novo sentimentos de felicidade constante e de reparação da
frustração e das perdas sofridas em 2020. Como não há garantias de que isso
ocorrerá, a psicóloga teme que elas desenvolvam um quadro de tristeza ou até
depressão. “Existe uma grande chance de termos resquícios da Covid-19 no ano
que vem, principalmente relacionados à situação econômica. Provavelmente
teremos um aumento da ansiedade devido às incertezas tanto financeiras quanto
emocionais. É preciso ficar atento à necessidade e urgência que algumas pessoas
possam desenvolver com relação às exigências individuais”, alerta.
Mas a experiência de um final
de ano distinto aos anteriores também pode ser uma oportunidade. Para Ana
Gabriela, a situação de crise pode ser uma chance de dar um novo significado às
celebrações. “Toda vez que entramos em contato com essa sensação de finitude,
como a que estamos vivendo agora, podemos aproveitar para fazer uma análise das
nossas escolhas e uma ressignificação da vida. É claro que isso não é uma
garantia: depende muito mais da pessoa estar aberta a essas possibilidades do
que da oportunidade em si”, finaliza.
Ana Gabriela Andriani - Graduada em Psicologia pela PUC-SP, Ana Gabriela Andriani é Mestre e Doutora pela Unicamp. Tem pós-graduação em Terapia de Casal e Família pelo The Family Institute, da Northwestern University, em Illinois, Estados Unidos, e especialização em Psicoterapia Dinâmica Breve pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas/USP. Possui, ainda, aprimoramento Clínico em Fenomenologia Existencial na Clínica Psicológica da PUC-SP. Ana Gabriela acredita que o autoconhecimento influencia diretamente no trabalho, nas relações afetivas e na qualidade de vida.
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