Designer de joias carioca, que vive na Europa, levanta cinco mudanças fundamentais que quem trabalha e consome moda terá que absorver nesse novo mundo
A moda é muito mais
que beleza ou se vestir bem. Ela está diretamente ligada ao que acontece no
mundo e à forma como a sociedade lida com tais mudanças. E é inegável que desde
de março de 2020, muita coisa mudou. Novos tempos que estão se desenhando
mostram que tudo precisa ser revisto, desde as relações pessoais e
profissionais até a maneira como as
pessoas se vestem e enxergam as tendências fashionistas lançadas a cada
temporada.
Abaixo, a designer de
joias Monica Rosenzweig,
carioca que vive atualmente em Cascais, Portugal, e mantém um atelier por lá e
outro em Ipanema, no Rio de Janeiro, explica como as mudanças estão acontecendo
no mundo da moda e o que esperar para 2021.
Valores de acordo com
a economia atual –
“O mundo inteiro está sofrendo os impactos na economia desde o início da
pandemia. Os salários de uma forma geral foram reduzidos, a necessidade de
compra de alguns produtos tem sido questionada pelos consumidores e as empresas
que quiserem se manter ativas vão precisar rever conceitos, e isso inclui
preços. E na moda isso não será diferente. Isso quer dizer, em linhas simples,
que o poder de compra diminuiu de uma forma geral. O consumo por impulso, que
muito se viu no início da pandemia, é quase inexistente atualmente, e as
pessoas estão focando no que precisam e, sim, analisando o custo e benefício de
cada compra. Portanto, as marcas vão precisar reavaliar a forma como chegam
ao preço final dos produtos e, provavelmente, se adequar a essa nova
demanda".
Roupas para dentro e
fora de casa –
“A moda não é apenas feita para vestir pessoas para ocasiões e locais
especiais, ela existe para dar soluções à sociedade. E, neste momento, em que
trabalhamos mais em casa, mesmo com a flexibilização cada vez maior, a criação
precisará se voltar não apenas para as roupas confortáveis, mas também para as
que sejam fáceis de lavar e passar e que visem a praticidade, mas sem deixar de
lado a vaidade de quem quer se sentir bem vestido mesmo dentro de casa. Sim, as
pessoas abandonaram o uso constante
de pijamas em tempo integral, que aconteceu muito no início do isolamento, e
agora elas acordam, se vestem e permanecem arrumadas dentro de casa. Mas esse
“se arrumar” agora tem um novo significado, com peças que tragam a chamada
'confort sensation', mas que também possam ser usadas caso precisem ir a rua em
algum momento ".
Simbologias e memória
afetiva –
“Nós, designers e estilistas, teremos que ressignificar nosso trabalho. As
pessoas estão em busca de peças que lhes passem algum tipo de mensagem, uma
simbologia. Eu, por exemplo, passei o consumir muito o que me traz sensações de
proteção. E isso será uma tendência na moda de uma forma geral. O público vai
procurar roupas, acessórios etc, que lhes transmitam alguma mensagem, alguma
coisa positiva. Coleções com simbologias ligadas à proteção e ao aconchego, com
desenhos e formas que remetam a momentos felizes, vão estar em alta”.
Atemporalidade – “Acredito que
teremos menos “vítimas da moda”, que seguiam os lançamentos a cada temporada, e
que mudavam seu guarda-roupa a cada estação. Se antes muitas vezes comprávamos
algo que seria usado apenas em uma ocasião e depois colocado de lado, por conta
da tendência da estação, agora acredito que fará mais parte de um conceito
criado apenas para atender o mercado de luxo, que na minha visão deve
permanecer inabalado, já que tem um público muito específico e com um poder de
compra que não sofreu desgastes pela pandemia. Mas de uma forma geral, pensando
em todos os perfil de público, o consumo será direcionado para acessórios,
roupas e calçados que possam ser usados em diferentes ocasiões, que não sigam
tendências muito específicas. Será a celebração do bom e velho jeans; das
camisetas de cores que se complementam; de blazers, calças e vestidos de cortes
mais sequinhos (porém confortáveis); dos acessórios que pontuam cor e estilo,
mas sem exageros. A aposta nessa linha são peças geométricas, com estilo, mas
também neutralidade, combinando com roupas de todas as cores e perfis”.
Moda consciente de
verdade e respeito com o meio ambiente – “A moda é um reflexo da sociedade e
os profissionais que fazem moda não podem se alienar à realidade, fingindo que
nada esteja acontecendo ao seu redor. As marcas precisam rever seus processos
na criação de produtos, se tornando cada vez mais sustentáveis. É preciso um
olhar mais atento ao que é criado. Uma nova tecnologia para um novo tecido, por
exemplo, não pode ser tão interessante a ponto de poluir o meio ambiente ou de
causar estragos no habitat de outros seres. O uso de
peles, que já não deveria ser tolerado há muito tempo, a partir de agora é
inaceitável. Testes em animais para novos produtos também devem ser banidos.
Estamos vivendo uma situação que, ao que tudo indica, teve início exatamente
pelo Homem interferir na vida animal. É preciso que passemos a enxergá-los com
cuidado e respeito, ou pagaremos um preço ainda mais alto pelos males que
estamos causando à Natureza no futuro”.
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