Já completamos sete meses de distanciamento social e ainda encontramos dificuldades de conversar com algumas empresas para falar sobre atividades voltadas para a redução de risco em seus negócios. Uma das respostas que mais ouvimos é “vamos aguardar esta pandemia passar e no momento ainda estamos focados na redução de custos da empresa”. Então, qual deveria ser a prioridade? Diminuir custo ou diminuir risco?
Nas primeiras semanas de março de 2020 não tínhamos
nenhuma referência de situações similares anteriores, muitas empresas viram seu
faturamento se reduzir rapidamente e ao mesmo tempo ter que entender a enorme
quantidade de regulamentações que surgiram em março e abril: mudança e
adiamento de impostos, muitas alterações de legislação trabalhista,
renegociação com clientes e renegociação com fornecedores. E ainda organizar a
empresa para o Home Office, em muitos casos, de forma improvisada, retirando
computadores e mobiliário e enviando para a casa dos colaboradores.
Sem dúvida o gerenciamento adequado dos custos,
principalmente os fixos, era essencial para adaptar o fluxo de caixa da empresa
e garantir até mesmo a sua sobrevivência. Isso sem falar de custos adicionais
para criar produtos e serviços para entrega online, ou o “delivery” de tudo que
se possa imaginar: cursos, comida, roupas, consultoria, ginástica, médicos,
psicólogos, advogados, coaches e assim por diante.
A atividade empresarial traz consigo uma série de
riscos que apresentaram incremento na época de pandemia em função da quantidade
de mudanças que foram realizadas e ainda em prazo muito curto. Várias situações
ainda vão persistir por muitos meses e as empresas teriam que voltar a sua
atenção também à diminuição de riscos, e não somente de custos. No final,
riscos mal gerenciados podem levar a sérios problemas de imagem e reputação que
impactam no valor da empresa, ou podem resultar em multas ou pedidos de
indenizações por parte de terceiros. Como consequência a empresa pode ter que
arcar com custos inesperados.
Um dos temas que podem ter sido realçados durante a
pandemia é a avaliação de parceiros de negócio. Nossos avós já diziam “Diga-me
com quem andas e te direi quem és”! Nada mais válido no mundo empresarial, é
fundamental saber com quem fazemos negócios. Um fornecedor estratégico, que
esteja deixando de recolher os impostos, pode interromper o fornecimento sem
aviso prévio e com graves consequências para a empresa. Ou outro fornecedor de
serviço, que tem a sua atividade classificada como trabalho análogo ao escravo
e leva este problema para a empresa que o contratou, na maioria das vezes não
só problema de imagem mas também multas e indenizações. Será que durante a
pandemia a preocupação deveria ser só de baixar os custos dos fornecedores? Ou
após o primeiro impacto, os riscos associados aos fornecedores não deveriam
estar sendo avaliados para evitar problemas de suprimento ou custos não
previstos?
Várias empresas com ideias para adotar o Home
Office foram forçadas a implantar a prática sem muito planejamento. E ainda no
meio do caminho as autoridades começaram a discutir o adiamento da vigência da
Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Sem dúvida, o risco de vazamento de
dados, fraudes e acessos indevidos aumentou muito com o trabalho remoto. E o
fato das sanções da LGPD só valerem a partir de agosto de 2021 deu a falsa
impressão que as empresas têm mais 10 meses para se adaptarem, ainda que a lei
esteja valendo desde 18 de setembro de 2020. Será?
Mesmo antes da LGPD, o Ministério Público e o
Procon já haviam obtido indenizações de empresas que comprovadamente tiveram
problemas com o vazamento de dados. E nada impede que estes órgãos continuem a
trabalhar neste sentido antes do prazo para as sanções da LGPD. Aliás, no dia
seguinte de vigência da lei o Ministério Público do Distrito Federal apresentou
a primeira ação civil pública baseada na LGPD contra uma empresa de Belo
Horizonte por comercializar dados. E na semana seguinte uma juíza de São Paulo
multou uma grande construtora em R$ 10 mil pelo vazamento dos dados de um
cliente que adquiriu um imóvel na planta.
O Home Office permitiu e permite uma diminuição de
custos com a redução de áreas físicas, aluguel mais baixo, redução de energia,
condomínio, vale transporte, entre outros custos. E os riscos, foram
adequadamente mapeados com esta mudança que pode gerar novas exposições para a empresa?
O impacto financeiro do aumento do risco pode consumir esta diminuição nos
custos?
E, por fim, os riscos relacionados com a interação
com agentes públicos estão latentes por mais que muitos órgãos públicos estejam
também trabalhando em Home Office. O governo, nas três esferas, deve ser um dos
maiores compradores do Brasil, isso se não for o maior. Pode ser uma
oportunidade de uma nova fonte de receita para várias empresas que não tinham
este foco de atuação. Os riscos de participar em licitações públicas devem ser
mitigados através de processos, controles e treinamento. E o impacto do
envolvimento, mesmo que involuntário, em suspeitas de práticas corruptas traz
como consequência adicional, além de imagem e multas, as ações penais contra
sócios e dirigentes.
As avaliações de custos e de riscos andam em
paralelo até por que alguns cortes de custos podem trazer novos riscos para a
empresa. Após 7 meses de isolamento social não dá mais para aguardar o final de
pandemia e nem pensar somente na diminuição de custos. Já há novas formas de
trabalho, novos produtos, novas formas de entrega e consequentemente novos
riscos que devem ser avaliados e mitigados para garantir que as operações sejam
mantidas e que a empresa preserve o seu valor.
Sergio Woisky - engenheiro de Produção na Escola
Politécnica da USP, com MBA em Finanças pelo Insper e, atualmente, é Sócio
Consultor na Comp9. E-mail: sergio.woisky@comp9.com.br
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