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terça-feira, 1 de setembro de 2020

Que caminhos a lingerie percorreu até chegar aqui, em 2020?


Fonte: Pxhere

De peça apertada - que representava verdadeira tortura às mulheres, a símbolo de revolução - sendo queimada em lixeiras, a lingerie percorreu um longo caminho nos últimos séculos.  

Muito além de acompanhar o avanço da moda, as roupas íntimas se atualizaram junto com as mudanças sociais, dialogando e atendendo às diferentes necessidades do seu público e o que ditava cada época.  

Aos poucos, o conforto foi tomando espaço e a tecnologia permitiu a criação de diferentes materiais e tecidos que melhor se adaptavam à pele. Mas antes disso, o conjunto de lingerie era o grande responsável por moldar dolorosamente o corpo feminino, na tentativa de atingir padrões irreais.   

Por outro lado, foi também a criação do sutiã com suas alças presas aos ombros que devolveu à mulher o domínio do seu movimento, liberando sua estrutura física de peças descabidas, ao mesmo tempo em que ofereceu segurança e agilidade.  

São muitas fases, objetivos, tecidos, formatos. Há milênios, sutiãs e calcinhas vêm ajudando a construir memória e a contar a história da mulher na sociedade. Abaixo, um resumo e um infográfico resgatam parte dessa trajetória.  

Primórdios da lingerie e a criação do espartilho  

Alguns dos primeiros registros de versões primitivas da lingerie podem ser encontrados em peças artísticas romanas de mais de dois mil anos. Inicialmente, era hábito feminino utilizar tiras de tecido em volta dos seios com o propósito de torná-los mais harmônicos. 

Algumas centenas de anos depois ocorre a criação do corpete. A peça contorna todo o tronco com o objetivo de moldar a silhueta, deixando a cintura mais fina e o busto empinado. Há relatos, ainda na Grécia Antiga, de esportistas mulheres que se utilizavam do corpete para manter os seios presos para melhor se movimentarem durante exercícios e competições.  

Por sua vez, a roupa serviu de inspiração para um tipo de lingerie que surgiu com força durante a Idade Média e que continuou em voga por bons séculos: o espartilho. 

De maneira geral, o espartilho era usado também para moldar a silhueta feminina, mas ainda contribuia para manter a postura ereta, empurrando os ombros para trás.  

O uso contínuo desta peça foi nocivo e até mesmo fatal para muitas mulheres. Era algo extremamente apertado, por muitos anos feito de ferro, comprimia órgãos internos, costelas e causava asfixia.  

Entretanto, isso não impediu que o espartilho continuasse ganhando importância até o final do século XIX, marcando, para além de um padrão de beleza, status e a classe social de quem o vestia.  

Cetim, babados e fitas: a lingerie romântica  

Apesar do espartilho ainda fazer sucesso, nas décadas seguintes ele apareceu com ares mais românticos, destacado por tecidos finos e babados. Também começaram a ser usados materiais mais leves na sua produção, como cetim e rendas. 

Em meados do século XIX uma outra espécie de roupa de baixo ganhou importância: a crinolina. Com o propósito de deixar a saia em formato semelhante ao de um sino, a peça de metal se juntou ao espartilho, indo por debaixo de saias e vestidos, para oferecer aquela circunferência bem definida, apresentada pelas mulheres da época.  

Nesse contexto, também houve a popularização de camisolas e vestidos de mangas bufantes, fixando às mulheres uma imagem de inocência e delicadeza.  

A liberdade do sutiã  

Atualmente, tirar um sutiã apertado no final do dia pode ser sinônimo de liberdade. Mas quando a peça foi criada chegou a representar emancipação e autonomia.  

Quem leva os créditos pelo surgimento do sutiã moderno é a francesa Hermione Caddole. Em 1889, a europeia, que possuía sua própria fábrica de lingerie, lançou uma peça apelidada de “corpete para seios”, feita com tecidos à base de algodão e seda. 

O propósito foi levantar a região do busto sem comprimir o abdômen e sem a pretensão de moldar a silhueta feminina. Um detalhe essencial para a praticidade dessa nova peça foi ter as alças apoiadas nos ombros, tornando o sutiã algo menor e que não restringia tanto os movimentos de quem usava.  

Essa foi a resposta que diversas mulheres esperavam, já que havia uma certa revolta com os espartilhos para lá de apertados, que provocavam acidentes e prejudicavam a saúde feminina. 

Novos tecidos e possibilidades para a lingerie  

A chegada do nylon, na década de 1940, foi outra revolução no universo da lingerie. O tecido permitiu que sutiãs e calcinhas durassem muito mais, além de facilitar consideravelmente a lavagem. 

Na época, diversas mulheres brancas da classe operária entravam no mercado de trabalho para suprir a demanda deixada pelos homens, que foram compor os batalhões na Segunda Guerra Mundial. Praticidade e otimização do tempo eram termos-chaves na vida dessas jovens trabalhadoras. 

Quando o nylon foi patenteado pela Dupont, empresa estadunidense de química, o preço do tecido diminuiu, tornando as lingeries mais baratas e acessíveis financeiramente.  

O estilo pin-up e a liberdade sexual de 1960 

Contrariando o estilo romântico e mais inocente em voga até então, a década de 1950 trouxe as famosas pin-ups. As modelos cheias de curva, com coxas fartas e seios proeminentes foram personagens essenciais para a divulgação de um estilo de lingerie mais sensual e provocativo.  

Nesse sentido, voltaram à moda corserts e outras espécies de espartilho, porém, dessa vez, não tão apertados. Também ganhou destaque a cinta-liga, que até hoje é uma das peças que mais traz sensualidade ao look. Esse foi um pequeno pontapé para tornar a sexualidade feminina algo um pouco mais natural.  

Nas décadas seguintes, a conversa sobre sexo e repressão das mulheres chegou a outro nível. Entre 1960 e 1970, há a segunda onda do feminismo. Com ela, temas como liberdade sexual, direito à pílula e lingeries ainda mais confortáveis entraram no debate e no dia a dia da mulher moderna.  

A mobilização culminou no chamado “Women’s Liberation Movement”, em 7 de setembro de 1968. Neste dia, cerca de 400 mulheres foram às ruas e queimaram diversos objetos que representavam opressão ao sexo feminino. Maquiagem, revistas de beleza e, claro, os sutiãs.  

Esse foi um alerta para as empresas de lingeries, que começaram a se preocupar ainda mais em criar diferentes formatos, que se encaixassem bem em mulheres de diversos corpos e incomodassem cada vez menos no uso de rotina. 

Assim, acontece a criação de peças leves, que não marcavam nem apareciam através das roupas. Uma tendência nos anos 1970, inclusive, eram sutiãs tão finos que não escondiam o desenho do mamilo sob a camisa.  

Cintura alta: a moda da lingerie de 1980 

A década de 1980 trouxe com ela uma preocupação ímpar com a saúde. Muitas mulheres entraram na rotina fitness e as roupas de esporte ficaram cada vez mais presentes nas suas atividades cotidianas.  

Uma moda registrada à época foi a cintura alta, que chegou aos bodysuits de academia e também às calcinhas. Acreditava-se que esse tipo de corte valorizava mais o corpo feminino.  

É também nesta década que a lingerie chegou às ruas pela primeira vez: as mulheres começam a usar as peças à mostra. Dos sutiãs rendados aos bodies bem trabalhados, não era mais um erro certas roupas íntimas aparecerem.  

Algumas famosas, como as cantoras Cher e Madonna, foram referências na tendência. A última, inclusive, utilizou um bustiê com elementos explícitos do universo da lingerie na capa de um dos seus maiores álbuns “Like a Virgin” (1984). 

Anos 2000: de Victoria Secret’s à lingerie plus size 

O início dos anos 2000 foi marcado por desfiles da marca de lingerie Victoria Secret’s e por um padrão de beleza extremamente magro.  

Nesse contexto, blusas mais finas e calças de cintura baixa ganharam destaque na moda. Já na roupa íntima, o fio dental começou a ocupar espaço como uma peça polêmica de lingerie.  

Nos últimos anos, porém, a busca incansável pela magreza deu lugar a uma filosofia um pouco mais inclusiva.  

Apesar do padrão ainda ser a modelo magra, muitas marcas de lingerie tiveram que adaptar seu catálogo de produtos a fim de atender a um público identificado como plus size, que demandava, com razão, ser reconhecido e contemplado nas tabelas de medidas das lojas.  

Outra característica dos últimos anos é a volta do conforto. As peças apertadas e de tecidos desconfortáveis dos anos 1980 são temporariamente abandonadas. Agora, estar bem e sentir-se cômoda na lingerie é o grande foco.  

Assim, algumas tendências como o sport wear - com sutiãs e tops maiores, de elásticos grandes - chamam atenção, tornando-se carros-chefes de marcas de luxo, como a Calvin Klein. 

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