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quarta-feira, 2 de setembro de 2020

A importância estratégica da América Latina na eleição presidencial dos EUA

Mesmo nos bastidores, a América Latina será um dos temas centrais da eleição presidencial dos Estados Unidos. Longe de ser esquecida, a região tornou-se peça chave do novo desenho mundial que está por surgir no pós-pandemia. 


Diante das oscilações naturais de prioridades na esfera internacional de qualquer nação, a América Latina, que já foi prioritária na agenda dos Estados Unidos, passou a ocupar uma posição secundária com o fim dos conflitos armados na América Central durante a década de 1980, reencontrando algum protagonismo com a aproximação entre Washington e Havana no governo Obama.

Fato é que a política internacional move-se de maneira curiosa nas cadeiras global de poder e as agendas internacionais acabam por se entrelaçar de forma inesperada. É neste ponto que a América Latina passa a fazer parte novamente da agenda norte-americana, desta vez trilhando um caminho subsidiário até reocupar os salões do Departamento de Estado e da Casa Branca em posição de destaque.

Os interesses de Rússia e China, nos dias atuais, passam pela América Latina. Moscou tem se aproximado de maneira intensa da Venezuela, e Caracas se tornou um polo irradiador dos interesses russos na região, especialmente porque o Kremlin tem investido no país latino mediante apoio militar para defender Maduro. A chamada nação pivot da Ásia é conhecida pela habilidade em lidar com os labirintos da política internacional. Assim, o soft power russo, usado de forma calculada, por intermédio de programas de intercâmbio em áreas estratégicas, conseguiu penetrar na região via Venezuela. Para Maduro, o resultado da equação foi extremamente positivo.

Do lado chinês, a influência na América Latina tem sido construída no longo prazo, na criação de dependência econômica e ampliação de infraestrutura, realizada de forma hábil e eficaz, onde o debate acerca da implementação da tecnologia 5G está no centro de um jogo de pressões e influências. Pequim já tem alcançado resultados tangíveis, ao mover os interesses da região dentro de sua agenda, inclusive elevando o tom diplomático de maneira confortável.

Diante disso, de forma indireta, a América Latina retornou para agenda política de Washington em assuntos que seguem além dos temas habituais da região, como democracia e imigração. Por mais que a recente influência russa e chinesa não sejam assuntos tangíveis no processo eleitoral, permeiam os interesses dos Estados Unidos de forma determinante na esfera geopolítica e balizam o futuro das Américas.

Dentro deste contexto, o Brasil ocupa posição estratégica. Aliado dos Estados Unidos, possui também interlocução com a Rússia, por meio dos BRICS, e com a China, pelas vias econômicas que aproximam os dois países. Movimentar-se de forma inteligente neste tabuleiro diplomático, pode criar oportunidades, diálogo e pontes que ajudem o Brasil no pós-pandemia.

Especialmente no que tange aos Estados Unidos, nosso país avançou para uma posição que vai além do entrosamento entre os dois Presidentes. Nos últimos anos, foi desenhado um caminho de aproximação institucional entre os dois países que ainda pode render resultados extremamente positivos para ambos os lados. Somos dois países que dividem características essenciais de formação, como a pluralidade imigratória, democracia e liberdades. O canal aberto entre os dois atuais mandatários é apenas o início de uma relação madura que pode se aprofundar em administrações futuras.

Trump e Biden sabem que a América Latina, antes um local de natural influência dos Estados Unidos, está movendo-se rapidamente na direção de países que desejam implementar sua agenda e liderança na região. A crescente influência de Rússia e China acenderam o sinal de alerta em Washington. Deste modo, a América Latina retorna ao tabuleiro do xadrez da política internacional na capital americana e o Brasil pode tornar-se peça fundamental deste jogo.




Márcio Coimbra - coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.

 

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