Como uma forma de acordo entre elas, tipo par ou ímpar, uma delas é escolhida para contar. “Um, dois, três, quatro… trinta e um. Pronto. Lá vou eu!”. Assim, as crianças brincam alegremente. O “Pronto, lá vou eu” é o anúncio da procura por aquelas crianças que, isoladamente, estiverem escondidas. Algumas serão encontradas por quem contou, que corre para o ponto de contagem e verbaliza em tom audível: “trinta e um do...”; “trinta e um da...”. Outras, acompanham atenciosamente, do seu esconderijo, o movimento da criança que contou e, furtivamente, chegam ao ponto de contagem e as demais escutam: “trinta e um meu”. E se salva. Na hipótese de a criança que contou de um a 31 não encontrar as que se esconderam, como fica a brincadeira? Simplesmente ela chega ao seu final.
O brincar das crianças, como analogia, faz pensar
que o coronavírus está contando até 31. Só que ele não está brincando com as
crianças. Ele é invisível e letal. Nesse tempo de pandemia, as crianças estão
escondidas em isolamento social. Não lhes é permitido sair de casa. A
ansiedade, o medo, a falta de abraço dos amiguinhos da escola, poderão
desencadear um estado de estresse elevado para muitas delas – o que as faz
sofrer. Outras tantas até gostam deste tempo, pois estão junto aos seus pais
diuturnamente, o que não era possível antes do coronavírus, por circunstâncias
próprias.
Assim como as crianças aprenderam a usar o cinto de
segurança como padrão de comportamento, o coronavírus as obrigou a usar
máscara, lavar as mãos constantemente e utilizar álcool em gel como uma nova
cultura. Isso para que fiquem escondidas do coronavírus e, então, ele não tenha
a oportunidade de gritar: “31 da ...”, cujas consequências serão imprevisíveis.
Se ele não as encontrar, a pandemia chega ao seu final.
Parece que se trata de uma guerra mundial. Não
somente as crianças, mas todos os humanos de todas as idades estão escondidos
do coronavírus, com temor de serem encontrados e escutarem a frase provinda
dele: “31 do ... achei você”. Semelhante à analogia do “esconde-esconde”, em
afastamento social, as crianças estão como num casulo, semelhante ao das
borboletas, que lá sofrem uma metamorfose e, daquele lugar, saem para colorir
os jardins do mundo. Das suas casas, as crianças também sairão dentro da maior
brevidade de tempo para colorir a realidade de todos e refazer os laços
sociais. Aprender a ser humano com seus amigos e professores.
Se a máscara esconde o sorriso da criança, não pode
ocultar a serenidade do olhar que transmite paz e esperança para o novo tempo
que lentamente surge no horizonte de todos. Na singeleza dos minúsculos dedos
que formam um coração, a sublime mensagem de que o amor é
a arma que vencerá essa guerra imposta pela Covid-19. Cuidar das crianças hoje
é cuidar do futuro mundo. Que se pense
nisso!
Ivo Carraro - professor,
psicólogo e orientador educacional no Curso Positivo.
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