Há dois dias a Folha de São Paulo abriu
manchete para a informação de que "a pandemia aniquilou 7,8 milhões de
postos de trabalho no Brasil", acrescentando que, pela primeira vez na
história, menos da metade das pessoas em idade de trabalhar está empregada.
Indo um pouco mais fundo, sem sair da superfície, a matéria informava estarem
incluídos naquele número pavoroso 5,2 milhões de trabalhadores por conta
própria, ou sem emprego formal. Os dados foram fornecidos pelo IBGE.
Agora, digo eu: Uau! Quem poderia
imaginar uma coisa dessas? E respondo: algo assim era perfeitamente previsível
por quem tem um mínimo de objetividade; basta, simplesmente, assistir como, há
quatro meses, empresas e postos de trabalho vêm sendo assassinados a sangue
frio. Imagine cinco milhões e 200 mil pessoas, numa situação de trabalho
vulnerável por natureza, sendo obrigadas a fechar, apagar a luz, desligar o computador, fechar a porta e dar bilhete azul
a seus sonhos e meios de subsistência. Imagine essa pessoa, depois, trancada em
casa pela simultânea necessidade e inutilidade de sair, ligada nos noticiários
que só contam mortos, à espera de algum burocrata disposto a pintar amarelo
sobre o vermelho que cobre sua região no mapa do Estado.
Aqui no Rio Grande do Sul, em Porto
Alegre, de onde escrevo, durante um curto período de "flexibilização"
que se seguiram a três meses de isolamento, fui com minha mulher a três restaurantes
que habitualmente frequentamos. Queria falar com os donos, cumprimentar os
garçons conhecidos de muitos anos, ter notícias sobre o período de travessia em
que esses estabelecimentos, sempre movimentados, passaram a atender por tele
entrega. Num deles, com o salão todo rearranjado para o distanciamento, não
havia ninguém; quando saímos, apenas um cliente entrara. Noutro, uma família
com cinco ou seis pessoas era a única ocupante de uma das salas; nós fomos os
únicos, também, no compartimento ao qual nos conduziram. No terceiro, a
situação estava um pouco melhor, menos lugares, mesas afastadas, e, ainda
assim, nesse arranjo, sequer uma terça parte das cadeiras ocupadas. Pois nem
com isso, nem assim, lhes foi permitido manter o estabelecimento em operação.
Porto Alegre fechou seus restaurantes dois ou três dias mais tarde.
Vem-me à mente o humor ferino de Grouxo
Marx, creditado pela perenidade devida aos bons frutos da sabedoria: "Você
vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?". Ou na veracidade a
pedir a nobreza do mármore enunciada por Thomas Sowel e enviada pelo amigo Dr.
Luiz Marcelo Berger enquanto escrevo este texto: "Difícil imaginar maneira
mais perigosa de tomar decisões do que deixá-las nas mãos de pessoas que não
pagam o preço por estarem erradas".
Você vai acreditar em seus próprios
olhos, ou em quem o levou pelo nariz aonde quis e se prepara, agora, para
abastecer seu desânimo e sua psicose com os péssimos números da pauta
econômica.
O vírus atingiu um índice
infinitesimal da população, mas as notícias nos fizeram adoecer. Estamos todos
passando mal, numa UTI psicológica cujas portas talvez nunca venham a reabrir
completamente.
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil.
Integrante do grupo Pensar+.
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