De repente, lá no semáforo, cinco
pessoas chamam a atenção de um público fechado em seus carros que se reveza a
cada sinal vermelho. Com maquiagem e perna de pau, fazendo malabarismo de todas
as formas, esses personagens interpretam os brasileiros, profissionais da
cultura. Na faixa, uma mensagem significativa: faça feliz quem sempre te fez
sorrir.
Difícil não refletir. Com os circos
fechados, artistas vivem crise sem precedente. Assim como eles, outros milhares
de profissionais da cultura passam por dificuldades. Para muitos homens e
mulheres embrutecidos, contrários ao poeta Ferreira Gullar para quem “a arte
existe porque a vida não basta”, o cenário é irrelevante já que para esse grupo
o produto do artista é visto como algo supérfluo.
Então, vejamos alguns dados
estatísticos. Embora haja contrariedade dependendo da fonte, o setor cultural
influencia no PIB brasileiro.
Segundo o Banco Mundial, as atividades
culturais representam 7% do PIB em todo o mundo. No Brasil, de acordo com
estudos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) a
cultura equivale a 2,5% do PIB. Em dezembro de 2019, isso significou
aproximadamente R$ 170 bilhões.
Em 2017, estudo do extinto Ministério
da Cultura revelou que essa porcentagem era de 4%. Dois anos antes, uma
pesquisa conduzida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), organizada na publicação
intitulada “A Cultura na Economia Brasileira” deixou evidente tratar-se de um
setor com potencialidades não dinamizadas. O documento sugere que ao incluir
toda a indústria criativa como campo cultural, esse percentual pode ser ainda
mais relevante.
Para se ter uma ideia, nos Estados
Unidos a cultura move entre 7 e 8% do PIB e é responsável por 4% da força de
trabalho. Além disso, os produtos culturais formam importante item de
exportação.
Dados do Sistema de Informações e
Indicadores Culturais (SIIC), ferramenta de aferição criada em 2007 para fazer
o mapeamento dos profissionais e da produção cultural no Brasil, apontava que
em 2018, 5,2 milhões de brasileiros atuavam no setor cultural. Naquele ano, o
valor movimentado foi de R$ 226 bilhões.
Considerando os números apresentados
pela Firjan, é possível perceber uma queda sensível nesse campo da economia.
Reflexo, muito provavelmente, da realidade política do país.
Dessa forma, a Lei Aldir Blanc,
aprovada nesta semana, que fará circular R$ 3 bilhões para a cultura com
destinação de recursos para artistas no modelo de auxílio e para instituições
culturais a fim de promover a manutenção de espaços e projetos é muito mais do
que uma proposta social. A Lei dialoga com a economia e oferece suporte a
milhares de famílias brasileiras.
O tema não deve e nem pode ser debatido
sob outra ótica que não a da importância deste setor.
Adriana Silva - jornalista, educomunicadora,
escritora e curadora da FIL – Feira Internacional do Livro.
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