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domingo, 8 de janeiro de 2017

Contas Bancárias Abertas por Smartphone: Até que ponto estamos preparados?




(Se o usuário for obrigado a digitar informações em excesso, não estaremos mais em um modelo digital, mas sim num modelo "digit all", para usar um trocadilho em inglês)


Já vai se tornando popular o hábito brasileiro de abrir contas bancárias sem precisar se deslocar até uma agência e sem sequer ser necessário acessar um serviço de call center. Através da câmera do smartphone, milhares de usuários já capturam, todos os dias, seus dados pessoais diretamente do documento físico, e fotografam sua assinatura e sua face como se esta câmera portátil fosse um scanner de alta precisão e como se todas as garantias de privacidade, autenticidade e segurança já estivessem plenamente superadas.

As vantagens do modelo são inegáveis, mas há pontos a discutir, e não são todas as soluções para este tipo de captura que irão, de fato, dar conta dessa transformação digital que, convenhamos, ainda tem sido motivo de dores de cabeça para bancos grandes e pequenos.

De fato, a tecnologia de captura e conversão de documentos e informações em imagem digital atingiu há muito tempo um nível de evolução que permitiria a abolição completa do papel, do plástico e das fotografias impressas para efeito de documentação. Associado aos modernos sistemas de manejo e gerenciamento inteligente, esse fabuloso conjunto de tecnologias já teria colocado abaixo a existência de arquivos físicos, cartórios, centrais de triagem etc.

É bem verdade, aliás, que esta substituição vem ocorrendo a passos de gigante, como comprova o próprio avanço dos novos modelos de captura móvel, ancorada em autosserviço.

Mas há sempre uma significativa defasagem entre o avanço ultrarrápido dos dispositivos - bem como da TI dedicada ao backoffice para processar as informações colhidas - e os ajustes regulatórios que venham a garantir o pleno valor documental das imagens no que diz respeito a aspectos tais como: sua absoluta unicidade (só existe realmente um original e cada eventual cópia é claramente identificada e posicionada numa série), sua autenticidade inegável (com claras e inexpugnáveis identificação da origem e autoria de sua lavra, bem como de seu conteúdo).

Tudo isto sem falar nas salvaguardas de fidedignidade dos dados e informações que integram o documento e sua conformidade com as exigências forenses, legais e institucionais de qualquer natureza.

Devido a seu grande poder de fogo e sua posição de vanguarda tecnológica - inclusive em termos globais - o sistema financeiro do Brasil foi o que até aqui mais avançou, tendo conquistado economias bilionárias ao longo da última década, a partir da universalização da "truncagem" (substituição coordenada da compensação do cheque em cédula de papel pelo processamento por imagem).


BILHÕES A MENOS EM CARROS FORTES

Só com a eliminação dos custos de transporte físico de cheques em carro forte até as instalações do BACEN, os bancos deixaram de gastar, em 2011, algo em torno de R$ 1 bilhão (em valores atualizados) segundo dados da FEBRABAN naquele primeiro ano de funcionamento do sistema.  Pelos cálculos da M2Sys, primeira a oferecer tecnologia de outsourcing para serviços de truncagem, a economia  dos bancos superou a casa dos R$ 5 bilhões nos primeiros dois anos do modelo.

Consolidada a truncagem, instituições como Bradesco, HSBC, Itaú, Banco do Brasil e Caixa puderam simplesmente encerrar a operação de inúmeros centros de triagem e conferência física, substituindo por verificações regulatórias por imagens, com drástica redução de custos e grandes avanços em performance. Em paralelo, uma parte dessas instituições ainda avançava em terceirizar estes serviços. 

Mesmo antes de concluir a truncagem, com a adesão completa dos bancos, a tecnologia mais avançada disponível já propunha um passo a mais, que dispensaria os bancos, inclusive, de trafegar cheques e documentos de transações entre a agência e os centros de processamento do próprio banco. Tais soluções faziam a abolição desses trâmites e os substituía por um modelo baseado na captura das imagens dos documentos em scanners posicionados na agência. 

Se já era impressionante a economia obtida pela truncagem inicial, este novo modelo de captura descentralizada passou a permitir que cada agência capturasse seus próprios cheques (além, é claro de boletos e documentos não financeiros) e os integrasse em um fluxo totalmente baseado em imagem e 100% compatível com os marcos legais e institucionais. 

Trata-se de um avanço extremamente representativo e que o Brasil já exporta como modelo para economias de todos os continentes como o  mais maduro e evoluído até agora.

No que tange à captura por smartphone, a evolução acontece de forma acelerada, a ponto de uma única central brasileira de processamento de imagem já operar diariamente na abertura de mais de 10 mil contas correntes via celular para bancos do Brasil e da América Latina. Daí a começarmos a capturar também cheques no próprio balcão do comerciante (para que não precisem ser levados fisicamente até a agência), é só uma questão de tempo. 

Algumas iniciativas neste sentido já são oferecidas por alguns bancos. Porém, a tecnologia utilizada por estes ainda requer muito esforço por parte do cliente e pela retaguarda da instituição, dificultando sua implantação em larga escala. Resta ao mercado como um todo entender que a câmera do celular - mesmo equipada com recursos avançados de alta qualidade, estabilização e foco das imagens, ainda está distante de um dispositivo preparado para captação de imagens como um scanner.

Ao fotografar, por exemplo, uma carteira de identidade, o usuário pode fazê-lo a distâncias aleatórias. Seu enquadramento pode não ser adequado, havendo cortes ou ângulos no documento. Ainda que continue legível, este tipo de distorção pode acarretar em capturas não apropriadas e não autênticas segundo a legislação vigente. O documento, não raramente, poderá ser capturado sem foco, com sombras, brilho e outras interferências além da própria característica gráfica de certos documentos nem sempre favorecer esta captura móvel. 

Outro ponto que vem sendo procurado pelos bancos é a interpretação dos dados dos documentos através de reconhecedores de caracteres ópticos (ou OCR, no acrônimo em Inglês), uma forma de extrair dados dos documentos sem exigir a digitação pelo cliente. 

Seja como for, uma coisa é obvia: se a imagem não foi capturada de forma adequada, os índices de reconhecimento serão extremamente precários. De outro lado, a tecnologia de reconhecimento ainda não está preparada para reconhecer todas as informações de um documento, mesmo a imagem estando adequada. 

De qualquer forma, tendo ou não uma boa imagem capturada, os serviços de Backoffice sempre serão necessários, não só para garantir as verificações legais dos processos, mas preparados de forma a atender as demandas em qualidade e prazos.

É indispensável que as soluções de mobilidade - sejam na abertura de contas ou na captura de cheques ou boletos - possam se ancorar numa estrutura de retaguarda suficientemente inteligente para definir os eventos em que a intervenção humana seja indispensável no processo. E que ela seja rápida e eficiente a ponto de o cliente final nem perceber que ela exista.

Só com uma estrutura híbrida - suportada por taxas altas de sucesso no processo automatizado, mas com garantias de resolver inconsistências por conferência humana em um ritmo "on-the-fly" é que a indústria bancária irá realmente atingir a maturidade esperada na digitalização móvel. 

A alternativa (precária, a nosso ver) é a de obrigar o usuário a digitar cada byte de informação ou autenticação exigido no processo. Mas nesse caso, não falaríamos mais de um modelo digital e sim, como se diria em inglês, de um mero paliativo, valendo o trocadilho "digit all".



      Roberto Schmaltz - Diretor Executivo da M2Sys





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