Conhecimento
financeiro é fundamental não só para quem já atua na área de administração ou
economia, mas também para qualquer pessoa ou profissional que atua em áreas
distintas, como engenheiros, advogados, médicos e farmacêuticos.
Observando
o perfil dos alunos através de cursos de especialização ministrados em todo o
Brasil, é surpreendente a quantidade de alunos que apresenta pouco conhecimento
básico sobre finanças. A grande maioria não conhece aspectos básicos sobre
juros compostos, taxa de juros básica da economia, produtos financeiros de
renda fixa e variável, planejamento financeiro, como investir, entre outros. O
mais espantoso é que são profissionais com ótima formação, muitos com mais de
dez anos de experiência profissional em sua área de atuação, mas que
infelizmente não possuem conhecimentos básicos para tomar boas decisões
financeiras, o que acaba prejudicando a segurança financeira e a realização dos
planos de longo prazo.
Para
agravar este cenário, dados recentes divulgados pela Confederação Nacional do
Comércio (CNC) na Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do
Consumidor - PNEIC (2015) mostram que 60% das famílias brasileiras estão
endividadas, o que prejudica muito a formação de poupança para investimento. Ou
seja, a maioria da população provavelmente não tem conhecimento sobre o quanto
pode ser prejudicial para a saúde financeira o endividamento constante,
principalmente no cenário atual, com elevação nas taxas de juros, recessão
econômica e desemprego em alta. Poucos possuem uma poupança para emergências e
os poucos que têm investem em produtos com baixo retorno no cenário atual, como
a poupança, cuja rentabilidade está inferior ao rendimento líquido oferecido
pelas aplicações de renda fixa.
Existem
evidências de que mesmo pessoas com boa formação acadêmica acabam tomando
decisões financeiras ruins. Primeiramente, não fazem um orçamento familiar
mensal, ou seja, não têm noção sobre qual é a real situação das suas despesas
fixas e variáveis, se suas receitas são suficientes e se conseguem obter uma
sobra de caixa mensal para poupar. Em segundo lugar, a desorganização
financeira leva a uma falta de recursos no curto prazo, o que determina uma
necessidade de caixa para financiar o fechamento das contas mensais, levando as
famílias a utilizar o limite do cheque especial, rotativo do cartão de crédito
(com juros chegando a incríveis 12% ao mês) ou até mesmo contraindo empréstimos
com financeiras. Esta prática acaba dificultando ainda mais o equilíbrio das
contas, pois os juros compostos em níveis elevados fazem com que as dívidas
cresçam a uma velocidade ainda maior, de forma exponencial.
Além
disso, em função da falta de conhecimento financeiro, disciplina e tempo para
acompanhamento, muitos profissionais acabam decidindo investir em produtos
financeiros com baixa relação risco X retorno. Por conveniência ou até mesmo
por orientação do gerente do banco, acabam deixando valores elevados aplicados
na poupança, comprando títulos de capitalização ou até mesmo investindo em
fundos de investimento com altas taxas de administração, cuja rentabilidade
líquida (descontando o imposto de renda) chega a ser inferior à poupança.
Considerando
o atual cenário de alta nos índices de inflação, com uma variação acumulada de
8,17% nos últimos doze meses (IPCA - Abril/2015), os investidores em poupança
não conseguem nem corrigir seu dinheiro contra a desvalorização da moeda, pois
recebem um rendimento anual de 6% ao ano. Para ilustrar o impacto desta falta
de cuidado financeiro, um investidor que deixar R$ 100.000 (cem mil reais)
aplicados na poupança pelos próximos dez anos, terá deixado de ganhar o mesmo
valor de R$ 100 mil se investisse o mesmo valor em renda fixa, considerando
como hipótese a manutenção do cenário atual das taxas de juros e uma tributação
de 15% sobre o rendimento.
Um estudo
recente realizado pela ANBIMA (2015) mostrou que existem muitos jovens com
planos para o futuro, mas que não conhecem os caminhos para utilizar o dinheiro
a favor de seus sonhos. A falta de controle no orçamento é a principal
dificuldade para que se tornem investidores, além do fato de acharem muito
difícil decidir entre as inúmeras opções que existem no mercado. A pesquisa
também revelou que a maioria é bastante conservadora (94%) e que possuem poucos
recursos para investir, de forma semelhante ao perfil médio dos brasileiros,
incluindo os profissionais que não são da área financeira.
Neste
sentido, é necessário que os profissionais que não atuam na área financeira
adquiram um mínimo de conhecimento para que possam tomar melhores decisões
financeiras, que podem impactar decisivamente no bem-estar e na segurança
financeira futura da sua família, beneficiando inclusive a sua carreira
profissional, pois os problemas financeiros diminuem a produtividade do
trabalhador e aumentam os custos das empresas. Outro benefício deste processo
de aprendizado é a geração de um maior nível de poupança pela população, que
possibilitaria um aumento no investimento privado na economia, financiando
projetos para o desenvolvimento de longo prazo e reduzindo a dependência do
governo para fomentar o crescimento do país.
Otávio Sant’Anna -
Mestre em
Finanças, professor da disciplina “Avaliações Econômicas e Análises de
Investimentos” nos cursos de especialização do Instituto de Pós-Graduação e
Graduação (IPOG), www.ipog.edu.br
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