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Casos
de diabetes diagnosticados em pacientes pediátricos têm crescido em todo o
mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima 98 mil novos casos em
crianças e adolescentes ao ano. Fato que exige atenção redobrada de pais e
responsáveis, já que alguns sintomas podem passar despercebidos e/ou serem
confundidos com outras doenças. Porém, as sequelas ao longo da vida podem ser
graves e o diagnóstico precoce e início de cuidados podem evitar complicações.
A médica endocrinologista infantil Adriana Aun, do Vera Cruz Hospital, em
Campinas, esclarece as principais dúvidas sobre o assunto.
1 – Quais sintomas podem dar indícios da doença na infância?
“Os
sintomas do diabetes na infância são sutis e muitas vezes passam despercebidos
pelos pais até que a doença se agrave e se torne necessário um atendimento
médico de urgência”, diz a endocrinologista. Por isso a família precisa estar
atenta aos seguintes sintomas:
- perda de peso;
- aumento do apetite;
- aumento do volume de urina (muitas crianças voltam a fazer xixi na
cama);
- aumento da sede (passam a beber mais água)
- indisposição;
- turvação visual;
- emagrecimento rápido;
- falta de vontade para brincar;
- irritabilidade e mudanças de humor;
- dificuldade para compreender e aprender.
2 – Quais são os tipos de diabetes mais comuns entre crianças e
adolescentes?
O
diabetes mais comum da infância é o Diabetes Mellitus do Tipo 1 (DM1),
que se origina da falta de produção de insulina pelas células do pâncreas
(chamadas células beta). Porém, nas últimas décadas tem sido registrado um número
crescente de pacientes pediátricos com o Diabetes Mellitus do Tipo 2
(DM2), estando associada à obesidade infantil.
3 – Qual é a diferença entre o diabetes Tipo 1 e Tipo 2?
A
diferença entre um tipo e outro é a razão pela qual ocorre a deficiência na
produção de insulina e o excesso de açúcar no sangue.
No
caso do tipo 1, é decorrente de um processo autoimune, quando o corpo produz
anticorpos contra as células beta pancreáticas, levando à deficiência de
insulina. Envolve fatores genéticos.
Já
no tipo 2, podemos dizer que também existe uma grande influência do fator
genético somado ao sedentarismo e à obesidade. Este tipo de diabetes acomete
90% dos pacientes adultos.
4 - A partir de qual idade o diabetes pode se manifestar?
Pode
surgir em qualquer idade, mas a maior incidência tem sido observada durante a
fase da adolescência.
5 - Como é feito o diagnóstico?
O
diagnóstico é feito por exame de sangue, com o objetivo de medir dosagem de
açúcar (glicemia) presente no sangue. “É considerado diabetes se a glicemia for
maior que 200mg/dL, avaliado num momento qualquer do dia. Quando dosada após um
período de 8 horas de jejum, a glicemia maior que 126mg/dL pode ser indício de
diabetes. Além da dosagem da glicemia, a avaliação da hemoglobina glicada (que
seria o acompanhamento da dose de açúcar no sangue por um período de três
meses) é uma ferramenta auxiliar no diagnóstico, que aponta para a presença de
diabetes quando a média é maior que 6,5%”.
6 - Como é o tratamento do diabetes infantil? É diferente do tratamento
em adultos?
Não
há diferença entre o tratamento do diabetes infantil ou adulto. O que difere é
o tratamento conforme o tipo de diabetes. “O tratamento do tipo 1, é feito com
a reposição da insulina, um hormônio anabólico, que tem a função de regular a
quantidade de açúcar presente no sangue. Este hormônio é produzido pelo
pâncreas, mas no caso de quem tem a doença, o órgão produz abaixo do necessário
e por isso é preciso repô-lo por meio de injeções subcutâneas”, explica. “O
tratamento do tipo 2 é feito com medicamento oral (hipoglicemiantes) e mudanças
de hábitos, como alimentação e atividades físicas, que promovam a perda de
peso”, completa.
7 - O diabetes tem cura?
O
diabetes é uma doença que não tem cura. “Muitos estudos têm sido desenvolvidos
nas últimas décadas em busca da cura e alguns avanços já foram conquistados.
Atualmente, no caso do tipo 1, existem grandes expectativas no campo das
pesquisas com células-tronco”, diz a médica sobre as boas-novas. Também é
válido salientar que no caso do tipo 2, com diagnóstico precoce e mudanças no
estilo de vida, principalmente o emagrecimento, é possível ter um ótimo
controle da doença.
8 - Quais são as principais orientações para evitar o desenvolvimento do
diabetes infantil e como os pais/responsáveis podem auxiliar?
Não
há maneiras de prevenir o desenvolvimento do diabetes tipo 1 já que tem origem
genética; mas há como evitar que o diabetes seja diagnosticado num contexto
clínico grave, reconhecendo precocemente os sintomas. A maior mortalidade pelo
tipo 1 se dá no atraso do diagnóstico e no uso inadequado de insulina. Já o
diabetes tipo 2, visto nos adolescentes, pode sim ser evitado, com medidas de
prevenção à obesidade, prática de atividade física e bons hábitos alimentares.
9 – Se o diabetes não for tratado, quais complicações pode gerar?
O
diabetes causa aumento da glicemia, que se não tratado, pode trazer riscos,
como:
- Cetoacidose - grave complicação metabólica que pode gerar
internações;
- Amputação de membros;
- Retinopatia - danos aos olhos, que pode prejudicar a visão;
- Complicações renais;
- Coma.
10 – Como a família pode contribuir com o tratamento?
São
diversas maneiras de ajudar para que essa criança tenha uma melhor qualidade de
vida:
- Oferecer apoio, mantendo a criança acolhida e motivada;
- Estimular a prática regular de atividades físicas, ou seja, no
mínimo 30 a 60 minutos por dia ou de acordo com a orientação médica;
- Oferecer uma dieta rica em frutas, vegetais, legumes e alimentos
com baixo teor de sal e gordura;
- Diminuir, se possível cortar de vez, o consumo de alimentos
enlatados, industrializados, fast food, doces e refrigerantes;
- Em casos de adolescentes, aconselhá-las a não fumar;
- Manter de forma regular o acompanhamento médico;
- Estimular o uso correto das medicações prescritas;
- Realizar os exames solicitados pelo médico para monitorar o
controle da glicose e investigar possíveis lesões de órgãos. Alguns exames
devem ser feitos todos os anos, como o exame oftalmológico e a hemoglobina
glicada;
- Controlar o peso;
- Fazer o acompanhamento e tratamento adequado de outras condições que podem estar associadas ao diabetes, como hipertensão e colesterol elevado.
“De
modo geral, o diabetes impacta na vida de toda a família exigindo a mudança do
estilo de vida não apenas do paciente, mas de todos. E isso é fundamental para
o tratamento, qualidade de vida e prevenção de complicações em longo prazo”,
conclui a médica.
Vera Cruz Hospital