10% das gestantes
em países de alta renda e 15,6% em países de baixa e média renda enfrentam
transtornos mentais, como depressão e ansiedade; aponta OMS
Agosto é considerado o Mês das Gestantes porque no
dia 15 de agosto é celebrado o Dia da Gestante. Esta data é dedicada à reflexão
e celebração da jornada da mulher, que inclui a gestação, o parto e o
puerpério. Estes momentos são caracterizados por mudanças profundas a nível
físico, emocional e social. Ser mãe muitas vezes é o sonho de muitas mulheres e
o nascimento da criança é um momento extremamente importante e cheio de
expectativas para elas. No entanto, conciliar a gravidez com a carreira por
vezes acaba sendo desafiador demais.
Uma pesquisa
da Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que 48% das mulheres que tiveram filhos
perdem o emprego até dois anos após o nascimento do bebê. Além disso, 25% das
mulheres são demitidas durante a gravidez ou logo após retornarem da
licença-maternidade.
A sobrecarga emocional, associada ao medo do
desemprego e às pressões da carreira, pode levar ao desenvolvimento de
transtornos mentais. Conforme a Organização
Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% das gestantes em países de alta renda
e 15,6% em países de baixa e média renda experimentam transtornos mentais, como
depressão e ansiedade, durante a gestação.
“A pressão para se adequar a padrões inatingíveis
de produtividade e disponibilidade muitas vezes resulta em estresse, ansiedade
e sentimentos de inadequação”, comenta a psicanalista e Presidente do Ipefem
(Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), Ana
Tomazelli.
Há casos em que o estresse crônico durante a
gestação pode aumentar o risco de complicações obstétricas, como parto
prematuro e baixo peso ao nascer. “Pode parecer que não, mas a saúde mental da
gestante afeta diretamente o desenvolvimento do bebê, especialmente no que diz
respeito ao desenvolvimento neuropsicológico”, complementa Ana.
Além de todo impacto mental, por vezes as mães
ainda sofrem com discriminação e preconceito. Segundo o Relatório
de Desigualdade Global de Gênero do Fórum Econômico Mundial, mulheres
enfrentam maiores barreiras de contratação e promoção, especialmente após a
gravidez.
Para Tomazelli, as mães que precisam trabalhar para
sustentar suas famílias não deveriam enfrentar penalidades ou restrições devido
à sua condição parental. “É crucial que empresas e instituições adotem
políticas inclusivas que reconheçam e valorizem a maternidade, garantindo igualdade
de oportunidades e tratamento justo para todas as mulheres, especialmente as
mães solo, que representam cerca de 11,5 milhões de mulheres no Brasil, de
acordo com o IBGE. Essas políticas são fundamentais para assegurar que elas
possam prover para suas famílias sem sacrificar suas carreiras”, destaca.
A maternidade é… novas
possibilidades!
Infelizmente, a maternidade ainda é vista como algo
que afeta negativamente a carreira das mulheres. O estudo
do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE)
indicam que mães jovens, com idade entre 18 a 24 anos, com filhos pequenos,
enfrentam um gap de participação de cerca de 46,8% em comparação a mulheres sem
filhos. Essa diferença diminui conforme a idade materna aumenta, atingindo 32% no
grupo de 36 a 49 anos.
Esses dados destacam a urgência de políticas
inclusivas nas empresas, que reduzam essa desigualdade e ofereçam suporte às
mães em suas carreiras, reconhecendo o valor que elas trazem ao ambiente de
trabalho.
Quando as empresas enxergam a maternidade como uma
oportunidade de acolhimento e retenção de talentos, em vez de uma barreira,
elas promoverão a igualdade e fortalecerão o bem-estar e a produtividade de
suas colaboradoras.
Ações para as empresas serem
mais acolhedoras com as gestantes
Para auxiliar as empresas a enxergar a gravidez não
como um empecilho, mas como parte natural da vida de muitas mulheres, é preciso
criar políticas de apoio para aumentar o engajamento e a produtividade. A
seguir, listamos algumas ações que as instituições podem adotar:
1) Flexibilidade de horário: permitir
que gestantes adaptem seus horários de trabalho para atender consultas médicas
e outras necessidades relacionadas à gravidez, ajudando a reduzir a sobrecarga
emocional e física.
2) Licença-maternidade ampliada: além de
cumprir a legislação vigente, algumas empresas oferecem períodos maiores de
licença-maternidade ou permitem que as colaboradoras dividam a licença em
etapas, ajustando melhor suas necessidades pessoais e profissionais.
3) Ambiente de trabalho adaptado:
proporcionar adaptações no ambiente de trabalho, como cadeiras ergonômicas,
pausas regulares e, quando possível, trabalho remoto, são ações simples que
podem melhorar o bem-estar das gestantes.
4) Apoio à saúde mental: programas
de apoio psicológico, seja por meio de consultas com psicólogos, ou mediante
iniciativas de mindfulness, podem ser essenciais para ajudar gestantes a
lidarem com o estresse. O acesso a profissionais especializados em saúde mental
no trabalho contribui para a prevenção de transtornos psicológicos.
5) Liderança que acompanha e acolhe: acompanhamento
regular da gestante pelo gestor ou pelo próprio RH da empresa, verificando sua
saúde e suas condições de trabalho, pode criar uma sensação de segurança e
acolhimento. Essa prática, que inclui a garantia de que a colaboradora está
realizando seus exames e que o trabalho não está prejudicando sua saúde, faz
com que a empresa atue como uma rede de apoio, tão ou mais presente do que as
próprias redes pessoais.
6) Sala de amamentação e apoio ao retorno
pós-licença: preparar o ambiente para a fase
pós-licença-maternidade também é essencial. Espaços para amamentação e
políticas de reintegração gradual ajudam mães a se readaptarem ao trabalho sem
sobrecarga.
7) Incentivo à prática de atividades físicas
simples: oferecer programas ou incentivos para atividades
físicas leves, como alongamento ou ioga, pode ser benéfico para gestantes.
Iniciativas que promovam a prática de exercícios simples no ambiente de
trabalho ajudam a aliviar dores, melhorar o bem-estar e reduzir o estresse
durante a gravidez Essas práticas também contribuem para uma gestação mais
saudável e tranquila.
Ao adotar políticas que apoiem as colaboradoras
durante o período de gestação, as empresas não apenas fortalecem a retenção de
talentos, mas também promovem um ambiente de trabalho onde a maternidade é
respeitada e valorizada.
“A empresa tem um papel social e uma
responsabilidade legal de garantir apoio à pessoa gestante durante toda a
jornada — desde a gravidez, passando pelo afastamento, até o retorno ao
trabalho. Esse suporte precisa ser contínuo e cuidadoso, considerando
especialmente o puerpério, uma das fases mais complexas para quem acabou de ter
o bebê. Além disso, é fundamental que a reintegração ao trabalho ocorra de
forma construtiva e sem julgamentos. A maternidade transforma perspectivas e a
organização precisa estar preparada para acolher e apoiar essa adaptação,
respeitando as particularidades de cada mãe,” conclui o especialista em
Desenvolvimento de Lideranças e Saúde Mental no trabalho, Renato Herrmann.
Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas - Ipefem
https://ipefem.org.br/
Ana Tomazelli - psicanalista e CEO do Ipefem (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), uma ONG de educação em saúde mental para mulheres no mercado de trabalho. Mentora de Carreiras, Executiva em Recursos Humanos, por mais de 20 anos, liderou reestruturações de RH dentro e fora do país. Com passagens pelas startups Scooto e B2Mamy, além de empresas tradicionais e consolidadas como UHG-Amil, Solera Holdings, KPMG e DASA (Diagnósticos da América S/A). Mestranda em Ciências da Religião pela PUC-SP e membro do grupo de pesquisa RELAPSO (Religião, Laço Social e Psicanálise) da Universidade de São Paulo, também é pós-graduada em Recursos Humanos pela FIA-USP e em Negócios pelo IBMEC-RJ. Formada em Jornalismo pela Laureate - Anhembi Morumbi.
Linkedin/anatomazellibr
Instagram @ipefem
Renato Herrmann - Profissional de RH com mais de 10 anos de experiência global em Gestão de Talentos, Desenvolvimento de Lideranças, HRBP, Desenvolvimento e Aprendizado, Diversidade & Inclusão, Comunicação Interna e Aquisição de Talentos. Ampla experiência na concepção e implementação de iniciativas que se tornaram benchmarks globais em empresas globais, com atuação extensiva na América Latina, América do Norte, Europa e Reino Unido em diversas indústrias, incluindo consultoria, tecnologia (startups e grandes empresas de tecnologia) e bens de consumo. Tem como missão atual preparar a geração Z para assumir papéis de liderança, e auxiliar as empresas a se adaptarem para acolher essa geração com excelência. É CEO e fundador da Bold Minds, uma empresa global focada em auxiliar organizações a construírem ambientes de trabalho centrados na saúde mental, oferecendo consultoria, desenvolvimento estratégico, capacitação de lideranças e muito mais. É criador e apresentador do podcast Deixa Quebrar, um lugar para falar abertamente sobre o mundo do trabalho. LinkedIn.