Especialistas em Direito,
Recursos Humanos e Bem-Estar trazem questões relevantes sobre esse tema
primordial para o bem-estar dos colaboradores
À medida que a conscientização sobre a saúde mental
aumenta, especialmente com iniciativas como o Janeiro Branco, torna-se evidente
a necessidade de uma abordagem mais abrangente sobre o bem-estar mental no
local de trabalho. Esta necessidade é particularmente crítica em setores de
alta pressão, como o bancário, por exemplo.
Dados recentes revelam uma realidade preocupante:
estudos apontam que cerca de 30% dos profissionais no setor bancário sofrem de
transtornos relacionados ao estresse, como a síndrome de burnout. Além disso,
um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que os transtornos de
ansiedade e depressão custam à economia global aproximadamente US$ 1 trilhão
por ano em perda de produtividade.
No contexto brasileiro, uma pesquisa da Associação
Nacional dos Bancos mostrou que, em média, 25% dos trabalhadores do setor
financeiro relatam altos níveis de estresse, enquanto 15% enfrentam depressão.
Este número é significativamente maior do que a média nacional para outras
indústrias.
O Janeiro Branco, campanha dedicada à
conscientização da saúde mental, tem enfatizado a importância de políticas
corporativas que promovam o bem-estar mental. Tais iniciativas incluem a
implementação de programas de assistência psicológica e a promoção de um
equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional.
Segundo a especialista em Recursos Humanos, Camila
D'Andrea é de suma importância os Programas de Assistência ao Empregado (EAPs),
alinhados às necessidades dos colaboradores e integrados à cultura da empresa.
Ela destaca que medidas preventivas e políticas como jornadas de trabalho
flexíveis podem reduzir o estresse crônico e melhorar a satisfação dos
funcionários. “Lideranças conscientes e preparadas são fundamentais para
identificar e agir diante de sinais de desgaste nas equipes”, explica a
profissional.
No Brasil, em 2023, o número de empresas que
incorporam iniciativas de bem-estar cresceu 15% em relação ao ano anterior,
refletindo uma preocupação crescente com a qualidade de vida dos colaboradores.
D'Andréa conclui que "promover um ambiente de trabalho onde a saúde mental
seja uma prioridade não é apenas um imperativo ético, mas também um
investimento com retorno mensurável para as organizações".
Diante dessa realidade, a legislação trabalhista também
tem se adaptado. "Estamos vendo uma mudança significativa na forma como o
direito trabalhista aborda questões de saúde mental. Agora, há uma maior ênfase
na prevenção e no suporte legal aos empregados", afirma a Dra. Juliane
Garcia de Moraes, advogada especializada em direito trabalhista da Advocacia
Moraes. Ela destaca que "as empresas estão sendo incentivadas a
implementar programas de apoio à saúde mental, incluindo treinamento para
gestores e acesso a serviços de aconselhamento para os funcionários e canais de
denúncias".
Além disso, a jurisprudência recente tem
reconhecido cada vez mais a saúde mental como um componente crítico do ambiente
de trabalho saudável. “Casos de assédio moral e estresse ocupacional excessivo
têm resultado em decisões judiciais favoráveis aos trabalhadores, estabelecendo
precedentes importantes em pagamentos de indenizações, isso porque o risco
psicossocial no trabalho capaz de causar danos à saúde do empregado pode ser
considerado como doença de trabalho equiparada a acidente de trabalho ”, revela
a advogada.
Políticas de prevenção envolvem não apenas ações
reativas, mas também a promoção de um ambiente de trabalho positivo, reduzindo
fatores de risco como a sobrecarga de trabalho e o assédio moral. Programas de
treinamento para gerenciamento de estresse e resiliência também são
fundamentais.
Dra Juliane complementa que "a crescente
preocupação com a saúde mental no ambiente de trabalho, ampliada pela
visibilidade dada pelo Janeiro Branco, está levando a mudanças significativas
tanto nas políticas corporativas quanto na legislação trabalhista. A adoção de
estratégias proativas e preventivas está se tornando essencial para assegurar
um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Além do mais, o assédio moral
afeta também os custos operacionais da empresa, levando à falta de motivação
", diz.
O suporte legal, por sua vez, envolve não apenas a
adequação às normas vigentes, mas também a criação de políticas internas que
vão além do mínimo legalmente exigido. Isso inclui a garantia de
confidencialidade no tratamento de questões de saúde mental e a criação de
canais de comunicação seguros para que os trabalhadores possam buscar ajuda sem
receio de estigmatização ou retaliação.
Essas mudanças refletem uma compreensão mais profunda
da importância da saúde mental no local de trabalho e seu impacto direto na
produtividade e satisfação dos trabalhadores. Conforme as empresas e o sistema
jurídico continuam a evoluir nesse aspecto, espera-se uma melhoria
significativa nas condições de trabalho e no bem-estar geral dos trabalhadores.
A importância dos programas de
Bem-estar nas empresas
Marcelle Menezes, especialista em bem-estar, aponta
a importância das empresas adotarem programas de bem-estar como uma forma de
prevenção e de economia. "No âmbito do diagnóstico, a realização regular
de avaliações psicológicas e o monitoramento do bem-estar dos trabalhadores são
práticas em ascensão. O diagnóstico precoce de transtornos mentais permite
intervenções mais eficazes, minimizando impactos tanto para o empregado quanto
para o empregador", diz.
"Programas de bem-estar nas empresas realmente
se tornaram essenciais não apenas como um benefício para os colaboradores, mas
também como uma estratégia de prevenção de doenças psicológicas e comportamentais.
Essa observação é bastante relevante, afinal investir em prevenção pode ser
financeiramente mais vantajoso do que lidar com as consequências de não
fazê-lo. Quando as empresas investem em programas de bem-estar, elas estão, de
fato, adotando uma abordagem preventiva", aponta a especialista em
bem-estar, Marcelle Menezes. Isso pode incluir:
- Promoção
de Saúde Mental: Oferecendo serviços de apoio psicológico, workshops sobre
saúde mental e gestão do estresse.
- Flexibilidade
de Trabalho: Implementação de políticas de trabalho flexíveis, como
horários adaptáveis e a possibilidade de trabalho remoto, que podem ajudar
a equilibrar vida pessoal e profissional.
- Ambiente
de Trabalho Saudável: Criação de um ambiente de trabalho positivo e
inclusivo, com políticas anti-assédio e incentivo à diversidade.
- Programas
de Mindfulness: Implementação de uma rotina com prática semanal de
mindfulness, reforçando a necessidade do hábito e promovendo benefícios
diretos como redução de estresse, aumento da concentração e melhoria do
bem-estar emocional.
- Atividades
Físicas e Nutrição: Programas que promovem a atividade física e uma
alimentação saudável no local de trabalho.
- Desenvolvimento
Profissional e Pessoal: Oportunidades para o desenvolvimento de
habilidades e crescimento profissional, que aumentam a satisfação no
trabalho.
"Essas medidas não apenas ajudam a prevenir
doenças psicológicas e comportamentais, mas também promovem um maior
engajamento e satisfação dos funcionários, o que pode resultar em menor
rotatividade e absenteísmo. Além disso, colaboradores saudáveis e felizes
tendem a ser mais produtivos, o que pode impactar positivamente os resultados
financeiros da empresa", explica Marcelle.
Para Camila D'Andréa, a implementação de programas
de assistência ao funcionário, estratégias de prevenção ao burnout e promoção
do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal são investimentos com retorno
mensurável para as organizações. “Atualmente, é imprescindível promover um
ambiente de trabalho onde a saúde mental seja vista como uma prioridade
inegociável", conclui.
Portanto, o investimento em bem-estar no local de
trabalho é uma estratégia inteligente que beneficia tanto os funcionários
quanto a própria empresa. É uma visão mais holística de gestão de recursos
humanos, reconhecendo que o bem-estar do colaborador é fundamental para o
sucesso da organização.