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Sebrae aponta que 29% dos microempreendedores
individuais fecham nos primeiros cinco anos de atividade, especialmente os
ligados ao comércio
Desde o dia 1º de setembro passou a ser obrigatório
aos microempreendedores individuais (MEIs) a emissão da Nota Fiscal de Serviços
eletrônica (NFS-e) no padrão nacional. Estabelecida pelo Comitê Gestor do
Simples Nacional (CGSN) por meio da Resolução 169/2022, a medida visa facilitar
o cumprimento de obrigações tributárias.
Dados da Receita Federal apontam que há atualmente
no Brasil mais de 15 milhões de microempreendedores individuais.
A medida, segundo especialistas ouvidos pelo Diário
do Comércio, tem potencial para reduzir a mortalidade dos MEIs. Isso
porque, antes da Resolução, a categoria estava dispensada da emissão da nota, o
que resultava em perda de organização e da origem dos recursos, situações que
podem levar à falência por falta de uma boa gestão.
O último relatório “Sobrevivência das empresas
mercantis brasileiras”, realizado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em 2021, aponta que o MEI é o segmento que
mais sofre com a mortalidade. Pelo estudo, 29% dos MEIs fecham as portas nos
primeiros cinco anos de atividade.
A maior taxa de mortalidade é verificada no
comércio (30,2% fecham em cinco anos) e a menor, na indústria extrativa (14,3%
fecham em cinco anos).
Entre as empresas fechadas em 2020, por exemplo, o
Sebrae verificou que a maior proporção de MEIs eram pessoas que estavam
desempregadas antes de abrir o negócio; tinham pouco conhecimento/experiência
anterior no ramo; abriram por exigência de clientes e fornecedores; tiveram
menos acesso ao crédito ou fizeram menos esforços de capacitação.
Para o consultor de negócios Adriano Hirami, um dos
maiores problemas dos MEIs, que os levam à falência, é a má gestão do negócio,
principalmente a financeira. “Acredito que a obrigatoriedade de emissão de nota
fiscal para tudo dará uma organizada na gestão dessas empresas”, afirma.
O Sebrae, por sua vez, garante que a
obrigatoriedade vai reduzir custos e aumentar a eficácia para o MEI.
A falta de organização pode começar do mais básico,
como revela o especialista em finanças Ricardo Holz. “Muitos mal sabem
precificar o seu produto ou serviço. Colocam um lucro muito baixo, não têm o
menor conhecimento sobre aquisição de crédito e não fazem um marketing
eficiente. Tudo isso junto só pode dar errado. Emitir notas fiscais é uma forma
de colocar a casa em ordem”, acredita.
GUIA DE SOBREVIVÊNCIA
Os especialistas em gestão afirmam que muita gente
desiste do próprio negócio ainda no primeiro ano por não ter certeza do que
está fazendo. Para se ter sucesso, é preciso ter em mente a importância de uma
boa gestão.
A seguir, os fatores mais importantes apontados
pelos consultores para ter sucesso nessa fase:
1- Precificação
Segundo os especialistas, o primeiro passo é saber
precificar o que se está vendendo. Cada centavo faz a diferença. Para saber o
preço de venda, faça o seguinte cálculo: Preço de venda = custos + despesas +
lucro.
“Vou citar um salão de beleza, por exemplo. A
proprietária não coloca no custo final o tempo que leva para comprar os
materiais, o transporte, a limpeza do local, enfim, coisas passam despercebidas
e impactam o lucro final”, diz Holz.
Para o consultor de negócios Adriano Hirami, o
preço de venda proposto pela empresa não deve considerar apenas o valor das
matérias-primas e dos custos dos serviços. “Nesta conta, é preciso considerar
todas as despesas, como energia, água, celular, aluguel, limpeza, salários e
outros gastos.
2- Cursos
Buscar apoio junto a instituições e profissionais
qualificados faz a diferença quando o negócio estiver formalizado e no mercado.
O Sebrae, por exemplo, oferece mais de 100 cursos
gratuitos on-line e pelo Whatsapp. A instituição também tem fechado parcerias
para que os microempreendedores individuais tenham condições de vender seus
produtos pela internet, em grandes marketplaces.
A adesão ao comércio eletrônico é parte da
estratégia de sobrevivência de muitos MEIs. “Se preparar para entrar no mundo
dos negócios é o primeiro passo para ter sucesso com uma empresa. O
empreendedor deve sempre buscar a capacitação e procurar ajuda quando não
souber lidar com algo”, afirma Hirami.
3 - Obtenção de crédito
De acordo com o Sebrae, quanto menor o porte da
empresa, mais difícil obter crédito para manter o capital de giro.
Holz se depara frequentemente com
microempreendedores que mal sabem onde buscar dinheiro para começar o negócio.
“Há recursos públicos que são mais vantajosos do que os dos bancos privados,
mas a maioria vai no banco onde tem conta para pedir empréstimo e paga mais
caro por isso.”
O especialista diz que o poder público poderia
ajudar mais nesse quesito, auxiliando com cursos de gestão e controle
financeiro, palestras e workshops. “O Sebrae faz bem esse trabalho, mas talvez
as prefeituras pudessem ser mais ativas. A falta de conhecimento pode jogar o
MEI em dívidas impagáveis e, consequentemente, na falência”, avalia.
4 - Controle financeiro
O maior erro do MEI é utilizar a conta bancária
pessoal para movimentar o dinheiro da empresa. “É de extrema importância
definir bem o que é do negócio e o que é salário. Se o microempreendedor abrir
uma conta bancária jurídica, a gestão dos recursos fica mais eficiente. Além de
organizar as contas, a conta jurídica dá mais credibilidade ao negócio”, ensina
o especialista em finanças Holz.
É essencial manter um rígido controle das contas a
pagar. Se o empresário sabe exatamente quais são as contas que serão pagas e
quanto elas vão consumir das receitas da sua empresa, saberá imediatamente
quanto vai sobrar para que parte do dinheiro possa ser reinvestido no negócio
para compra de novos materiais. A segunda parte é o custo com divulgação e a
terceira é o salário em si.
É fundamental traçar um planejamento financeiro
antes de tomar qualquer decisão na empresa. Isso inclui traçar metas e definir
os passos a serem seguidos.
Para Holz, o microempreendedor individual deve
instituir uma média de salário, o chamado pró-labore. “É fundamental definir um
valor médio de retirada. O microempreendedor que pensa em pegar todo o lucro
que sobra, por ele ser o dono, sem um limite definido, está fadado ao fracasso.
Ele precisa ter um planejamento para crescer. Sem isso, ele perde a oportunidade
de constituir uma reserva financeira para emergências e de reunir os recursos
necessários para investimentos com foco no crescimento do negócio”, aconselha.
A sugestão é adotar uma planilha para realização do
controle das entradas e saídas e alimentá-la diariamente.
5 - Marketing
A propaganda é uma das estratégias mais eficientes
para ajudar o negócio a crescer. Atualmente, há ações ágeis e com baixo custo
que ajudam os microempreendedores a divulgarem seus produtos e serviços.
Muitos microempreendedores acreditam que contratar
profissionais de marketing ou fazer propaganda é apenas um gasto desnecessário.
“Mas isso é um investimento se for bem feito. O marketing melhora o engajamento
ao negócio e aumenta as vendas, além de conseguir reter clientes e conquistar
novos”, afirma Hirami.
“Estude as redes sociais e veja como seus
potenciais clientes se comportam e onde compram. Observe os concorrentes e
converse diretamente com o cliente para identificar essa atuação”, diz o
consultor.
O Instagram e o Facebook são plataformas mais
visuais que permitem ao empreendedor compartilhar vídeos e fotos. Já o Twitter
é uma mídia utilizada para textos curtos, eficiente com divulgação de
promoções, por exemplo. E Youtube, por sua vez, é apropriado para quem deseja detalhar
especificidades sobre o uso de produtos.
O especialista Ricardo Holz também concorda que o
marketing digital é o caminho mais curto e mais barato.
“As redes sociais estão aí para ampliar a área de
atuação das empresas e divulgar o negócio. É fácil, barato e permite atuar em
todo o país em alguns casos. Uma lojinha de biquínis, por exemplo, pode ter
clientes em todo o Brasil se partir para um e-commerce ou vender pelo
Instagram, por exemplo. Mas, para isso, precisa saber fazer e lidar
corretamente com as plataformas, a logística, as entregas e respeitar os
prazos. Só assim se fideliza clientes”, avalia.
COMO EMITIR NOTA FISCAL
Para quem ainda tem dúvidas de como emitir notas
fiscais, sendo MEI, o Sebrae preparou um e-book com um passo a passo para tirar
as dúvidas dos microempreendedores individuais. O telefone 0800-5700800 e o
e-mail atendimento.nfs-e@rfb.gov.br estão disponíveis para
esclarecimentos adicionais.
O primeiro acesso deve ser feito no Portal Nacional
de Emissão de Nota Fiscal de Serviços eletrônica, pelo endereço https://www.nfse.gov.br/EmissorNacional/Login.
Após o cadastro dos dados da empresa e definição de
uma senha, o microempreendedor escolhe a opção "Emissão Completa"
(com mais informações) ou "Emissão Simplificada". Em cada caso há
informações e dados específicos que devem ser informados. Após esse processo, a
nota poderá ser emitida.
Outra forma de emitir a NFS-e é por meio do Portal do MEI, da
Associação Comercial de São Paulo (ACSP). O Portal também permite a abertura da
empresa de maneira simplificada, a emissão de declarações anuais e boletos do
DAS, ajuda no controle de contas a pagar e a receber e oferece consultoria e
orientação sobre procedimentos.
Cibele Gandolpho
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/obrigatoriedade-de-emissao-de-nfs-e-deve-reduzir-taxa-de-mortalidade-do-mei