Recentemente, me propus um
desafio diferente, algo novo para mim. Difícil, na verdade. Antes de começar,
devo dizer que, pessoalmente, não tenho propensão à política, embora esteja em uma
área (da Educação), que por si só carrega a política consigo.
Raramente acompanho notícias
e de política menos ainda. Algo, contudo, que posso dizer que entendo, é a área
de Educação. Já trabalhei tanto na parte pública quanto privada, em cargos
variados. Conheço bem o ponto de vista e necessidades de cada um deles.
Meu grande desafio era
analisar as propostas dos candidatos à presidência, no que diz respeito à
educação, da maneira mais neutra que eu conseguisse.
Para conseguir, pedi que
uma outra pessoa colocasse em etiquetas as propostas, sem os nomes dos
candidatos, e comecei a organizá-las em categorias. Demorou um pouco, mas
surgiram então quatro categorias principais: viável, utópico ou opinativo,
inviável e reformular. Foram considerados apenas 5 candidatos e eu não sabia
quais seriam.
Depois de separadas as
categorias, me foram revelados os candidatos e exatamente como dividi, elaborei
um infográfico. As cores centrais das propostas se referem aos candidatos, à esquerda.
Note que o círculo de borda das fotos revelam esta associação às propostas (como
se fosse uma legenda de cores).
Até agora, tudo lindo! Mas
minha tarefa mesmo, neste artigo, começa a partir daqui, que é a explicação de
cada categoria, fundamentando os motivos de minhas escolhas.
VIÁVEL:
Nesta categoria, nem todas as
propostas são 100% viáveis, mas elas possuem um fundo de crédito, do ponto de
vista da educação. Algumas delas, como o
investimento na formação e qualificação dos professores (Geraldo Alckmin) e
alfabetizar crianças até 7 anos (Marina Silva)
são promessas recorrentes, que aparecem vez ou outra nas eleições e sabemos que
dificilmente o resultado será total, mas é necessário ter ações neste sentido
sempre, independente do partido ou candidato que entre. Na verdade, seriam mais
no sentido de serem objetivos a serem traçados para uma lenta melhoria na
educação do que ser viável.
Uma das propostas nesta
categoria fiquei em dúvida, mas mantive, mais pelo objetivo, porém a proposta
de Alckmin de zerar a fila de crianças
entre 4 e 5 anos na escola e ampliar vagas nas creches deveria ser vista
como um objetivo, como as mencionadas acima, a longo prazo, porém mexe um pouco
com a categoria de utópico ou opinativo, que explicarei mais à frente. Mantive
então a proposta nas duas categorias (não foi um erro ela se repetir ali!)
O fortalecimento do ensino técnico e tecnológico ( Alckmin ) tem
sentido e pode ser algo positivo ao país, ainda mais com a dificuldade
econômica que temos visto todos os dias. Se a proposta for bem estruturada,
realmente valeria a pena investir na ideia. A expansão do Ensino Superior, técnico e profissional (Alckmin) e o fortalecimento da CNpQ e instituições de
pesquisa, estimulando ainda um avanço em parceria com empresas e universidades
(Ciro Gomes) também fazem muito sentido desta mesma forma.
Já a defesa de uma escola laica ( Marina Silva ), na verdade,
antigamente era muito difícil os educadores colocarem pontos de vista político
dentro da escola. Atualmente, com a abertura de informação que temos, tem
ficado cada vez mais difícil ter esta neutralidade e ela é muito necessária,
pois não devemos nos intrometer em valores pessoais da população, enquanto
estamos no papel de ensinar a aprender. Quando a criança aprende, ela mesma
pode desenvolver suas opiniões, pois terá os instrumentos necessários para ter
uma visão mais clara de assuntos polêmicos como política e religião. Considerei
viável porque a escola tem perdido esta neutralidade e se faz necessário dar ao
cidadão a possibilidade de ter sua própria opinião e respeitar a dos demais.
UTÓPICO ou
OPINATIVO:
Fiquei muito na dúvida ao
eleger este nome de categoria. Quando fiz a separação das propostas, considerei
que elas mexem com algo muitíssimo poderoso, que é a esperança das pessoas,
portanto considerei utópicas, pois
uma parte delas, já que é preciso que passem por um processo no Congresso, têm
a possibilidade de não serem aprovadas. Além disso, todas as propostas que
estão aqui apelam para a opinião das pessoas, por isso opinativo.
São propostas que
considero de alta periculosidade, porque apelam para o emocional das pessoas,
trazem à tona um certo egoísmo, pois em lugar de considerar a educação como um
todo, consideram condições específicas de grupos e são usadas na política desde
sempre para manipular votos.
A primeira proposta é
interessante. Fiz uma pesquisa – que até confesso, deveria ser mais
aprofundada, porém sozinha fica difícil... acho que até para uma equipe seria
bem trabalhoso – e descobri, por exemplo, que de 2003 até 2015 o Brasil teve
sim um crescimento significativo no PISA,
teste internacional que mede a excelência de aprendizagem em algumas áreas.
Durante esses 12 anos que mencionei, tivemos, em matemática, um crescimento de
34 pontos no ranking. A proposta menciona 50
pontos em 8 anos (Alckmin).
Se eu não conhecesse
a situação real da educação no país, ficaria encantada com a proposta e até a
colocaria no viável, por ser talvez um objetivo a se traçar. Esta seria eu,
sendo manipulada a votar porque quero muito acreditar que seja possível – nota
como mexe com a esperança, mas ao mesmo tempo é utópico?
Talvez eu a tivesse
mudado de categoria se tivesse um número mais baixo ou até se eu tivesse visto
a proposta mais detalhadamente, mas ao realizar esta análise, me limitei aos
dados que recebi.
Propostas vinculadas
à gênero e cotas (Bolsonaro/ Ciro Gomes)
não consideram a educação de forma ampla. Claro que são questões polêmicas (e
exatamente por isso são usadas em eleições), e devem sim ser estudadas e
mexidas de tempos em tempos, mas se queremos mudar a educação do país,
precisamos considerar primeiro de forma ampla, o que favorece o todo e não as
partes. Este tipo de proposta ganha votos de quem tem empatia pelo tema e traz
maior visibilidade ao candidato, estando o eleitor a favor ou contra ele. Em
uma análise racional, também mexe com o emocional e acaba manipulando votos.
Teoricamente, deveríamos considerar as propostas de uma forma mais geral e
descartar as de favorecimento, seja qual for este favorecimento.
A questão da creche, mencionei no viável o caso de Alckmin, mas acho que você deve estar
se perguntando por que coloquei a proposta de Ciro Gomes aqui. Alckmin propõe a ampliação de vagas. Ok e
possível, mexendo um pouco com interesses pessoais, mas também com a
necessidade geral que acabei de mencionar. No caso de Ciro Gomes, bacana pensar
no tempo integral das creches, mas achei que tem um Q que mexe demais com a
esperança de milhares – ou talvez até milhões – de famílias esperançosas de
conseguir uma vaga em tempo integral na creche.
O “remunerar bem os professores” (Marina Silva) dei até um sorrisinho
quando li. Pensei na hora: “de novo?” Linda intenção e como professora me sinto
lisonjeada quando mencionam que minha profissão deve ser melhor remunerada.
Sejamos, contudo, práticos e racionais... esta proposta depende de uma série de
fatores que estão longe de a tornarem mais concreta. Claro que há várias formas
de até tornar viável, mas mexe muito com o emocional também, além de ser muito
opinativo.
INVIÁVEL:
Lindo falar sobre Ensino à Distância (Bolsonaro), com
aulas práticas e provas presenciais. Certamente caminhamos para cada vez mais
cursos à distância, é a evolução e entendo muito bem. Eu mesma já fiz mais de
um deles e estou muito satisfeita.
Ocorre, contudo, que a
questão não sou eu... para um aluno poder ter este tipo de ensino é preciso que
ele saiba ter rotina de estudo. Se a proposta falasse sobre recursos à
distância no Fundamental, com ampliação desses recursos em aulas no Médio e
Universitário, estaria na categoria de reformular. O aluno do Ensino
Fundamental ainda não sai totalmente preparado para ter a responsabilidade ou a
rotina necessária para este tipo de ensino. Sim, sei que muitos aprendem com
vídeos do YouTube, mas aprendem o que lhes interessa e não o que faz parte de
um currículo.
O Ensino à Distância deve
ser um processo para aperfeiçoar a educação e tanto professores quanto alunos
devem ter sim aulas com estratégias que os deixem consciente deste tipo de
estudo e entendam vantagens e desvantagens – além do comprometimento necessário
aos estudos. Sendo assim, adotar é inviável, mas pensar em um plano de
implantação, até viável.
Realizar uma Prova Anual de Ingresso na Carreira Docente
(Lula) anualmente é algo que chama a atenção, mas como proposta
presidenciável, para a área de educação, não “colou” do ponto de vista
racional. Para ter esta prova, seria preciso também ter um investimento na
formação dos professores. Só o professor sabe como é difícil ser professor no
Brasil (mas esta é outra história...). Esta proposta mexe um pouco com aquele
utópico/ opinativo, porque me pareceu ter a intenção de dizer que a educação
vai melhorar, porque os professores serão avaliados, mas acho que faltou algo
mais estruturado para que fosse uma proposta mais considerável.
REFORMULAR:
Algumas propostas tive que
colocar aqui. São aquelas ou que não estão claras ou que poderiam ser viáveis
com uma melhor estruturação.
Elevar a média de anos de estudo com tempo integral no Ensino Médio e
reduzir evasão nesta fase de ensino (Ciro Gomes) me preocupou um pouco logo
que li. É engraçado, porque quando políticos falam de educação, têm uma
tendência a fazer a população crer que quantidade de tempo vai resolver o
problema. Grande parte dos educadores sabe que a solução está na qualidade e
não na quantidade. Considerei como reformular porque a proposta pode ser
modificada de um modo bem interessante se mudado o foco para a qualidade,
usando talvez a quantidade para complementação de estudos.
A ampliação de escolas militares, contando com parcerias e nas capitais (Bolsonaro)
não ficou muito claro para mim. A princípio, surgiram mais dúvidas do que
soluções nesta proposta. Como será feita essa parceria? Quais os critérios? Não
acabará em um certo favoritismo? E estas são apenas algumas das dúvidas. Achei
que precisa ser melhorada a proposta, para se tornar mais clara – ou até esteja
clara na proposta mais detalhada do candidato, mas como mencionei, tive apenas
acesso a este pedacinho de informação, que é a proposta resumida.
Na verdade, no quesito
“não ficou claro” tem também a revogação
de recursos, e o uso dos royalties do petróleo e do Pré-Sal (Lula). Ao ler,
me pareceu aquelas propostas que aparecem na tv com vários números – que nem
sabemos se são reais – e têm a intenção de mostrar ao eleitor que o candidato
sabe do que fala e terá uma ação de maior impacto que os demais. Resumindo...
pareceu “papo político”...rsrsrs... a proposta deveria mostrar o impacto e
etapas que teria, mas ainda assim, ainda que eu tenha um parco conhecimento
econômico, quase ficou na categoria inviável.
Priorizar Ensino Médio (mas fazer o que
com o Fundamental que dá a base para o Médio?) e revogar a proposta de Temer (Lula) me pareceram um clássico caso de
retrocesso. Não posso dizer que a proposta de Temer seja esplêndida para o
Ensino Médio, mas também não posso dizer que não seja. Só com o tempo
saberemos. O caso aqui é simples. Basta imaginar o tempo que será PERDIDO para
voltar na proposta, depois de todo o trabalho que foi feito e tudo o que já foi
“absorvido” da proposta. Algo mais concreto, viável e racional seria
aperfeiçoar então a proposta.
O estabelecimento de parceria entre universidades, empresas e
empreendedores ( Alckmin ) estaria ok se fosse usado o verbo “ampliar”. Já
ocorrem algumas ações deste tipo. Uma proposta mais robusta seria mostrar como
dá certo e dar maior incentivo a estas instituições para que houvesse esta
ampliação das parcerias. Na proposta, uma forma que fosse concreta de ser
feito, naturalmente.
A criação
da escola com Ciência e Cultura em contraponto à Escola Sem Partido (Lula)
não ficou clara. Confesso que neste ponto eu gostaria, de verdade, de mais
detalhes para avaliar, mas como minha análise foi feita a partir de propostas
resumidas, levei em consideração que por não ter ficado clara, o candidato
deveria deixar mais evidente a intenção e o que seria esta modificação.
Eis que finalizo aqui
minha análise. Gostaria de ressaltar que não entrei em detalhes das propostas –
e pode até ser que as mudasse de categoria ao conhecer melhor. Além disso,
foram usadas propostas generalizadas, tais como costumam aparecer na mídia, bem
resumidas. Procurei do começo ao fim me manter neutra, pensando sempre na
educação, de modo geral.
Janaína Spolidório – pedagoga
www.janainaspolidorio.com.br