Os últimos dias têm sido um caos. A greve dos
caminhoneiros trouxe consequências pouco esperadas pelos nossos governantes.
Desabastecimentos que vão desde combustíveis até itens de primeira necessidade.
Essas paralisações reduzem o ritmo da economia e já resultam em perdas
bilionárias para a própria União em termos de arrecadação de impostos. Vários
setores da economia estão parados. R$ 26,3 bilhões deixaram de circular na
economia brasileira com negócios que não puderam ser fechados. Já são mais de
R$ 3,8 bilhões não arrecadados, de acordo com o Instituto Brasileiro de
Planejamento e Tributação (IBPT).
Justo ou não, o pedido foi feito pelos grevistas e
atendido pelo governo: redução de impostos. O presidente Michel Temer prometeu
redução de R$ 0,46 no litro do diesel, além de redução à alíquota zero do CIDE,
PIS e COFINS para esse combustível. Esses 3 tributos representam cerca de 13%
do preço do diesel. Mas as consequências podem ser ainda maiores. Imaginar que
várias classes trabalhadoras possam reivindicar benefícios e questionar
injustiças podem causar um colapso nunca visto anteriormente. E todos estes
temas estão, de forma direta ou indireta, relacionada a questões tributárias.
Quando o ministro da fazenda Eduardo Guardia foi
questionado sobre as formas de compensar esses gastos não previstos pelo
Governo, a resposta foi imediata: provável aumento de impostos! O fim da
desoneração da folha se tornou urgente do dia para a noite. São 28 setores que
devem deixar a sistemática da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta
(CPRB). Isso pode trazer reflexos importantes em alguns setores. Aumento de
preços para os cidadãos é líquido e certo. O fato da desoneração atual ter a
opção anual e irretratável conforme regras atuais podem gerar questionamentos
judiciais por conta de vários contribuintes.
Mas o que mais está por vir? No âmbito tributário,
temos diversas questões que precisam ser apreciadas pelo judiciário. Uma das
principais é a redução do ICMS na base de cálculo do PIS/COFINS. O STF deve se
pronunciar sobre questões da possível modulação e definição do conceito de ICMS
nos próximos meses. Mas existem muitos outros casos. O próprio Governo vem
prometendo mudanças importantes na sistemática do PIS e COFINS há um bom tempo.
São diversas alterações, como a mudança de base de cálculo, mudanças de
alíquota, forma de creditamento e a unificação destes 2 tributos.
A tributação sobre dividendos é outro tema que
sempre surge. Poucos países no mundo ainda não tributam essa destinação aos
acionistas de empresas privadas.
O Brasil é um deles. Chegando perto da Copa do
Mundo, a comparação com outros países - não só no futebol - é inevitável: o
Brasil tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo. Somos um dos maiores
países em tributação sobre o consumo, que atinge todos os cidadãos de maneira
igualitária. Uma família que ganha 10 salários mínimos paga o mesmo imposto que
uma família que ganha 1 salário mínimo. Parece muito desigual. Já em relação
aos tributos sobre a renda, estamos na zona de rebaixamento. Embora todos
dizerem que pagam muito imposto de renda, o que acontece é que o Brasil tributa
em média 20% somente. EUA e vários países europeus chegam a cobrar mais de 40%.
E não para por aí. Em dezembro de 2017, o Governo
Trump fez uma ampla reforma tributária nos EUA, reduzindo o Imposto de Renda
para as empresas de 35% para 21%. No Brasil, a tributação média desse imposto é
de 34%. Efeitos práticos? Falta de atratividade dos investidores americanos no
nosso país. Outras economias do mundo estão se mexendo. Inclusive nossos
vizinhos Argentina, Paraguai e Colômbia. Aliás, este último acabou de entrar no
seleto grupo de países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico). Equilibrar a política fiscal e alinhar regras tributárias são
lições de casa para o Brasil também fazer parte deste grupo.
Enfim, os desafios tributários no Brasil são
imensos. Me parece que o "cobertor é curto” e, sem uma reforma
tributária ampla e bem discutida, teremos muitas dificuldades no futuro
próximo. Propostas não faltam. O Centro de Cidadania Fiscal e a Reforma
Tributária liderada pelo Deputado Federal Luiz Carlos Hauly são caminhos
interessantes. Passam por simplificação tributária, redução de tributos sobre o
consumo, imposto de renda de forma progressiva, entre outros. Caberá ao novo
presidente fazer isso acontecer.
Marco Aurélio Pitta -
gerente de contabilidade e tributos do Grupo Positivo, coordenador e professor
dos programas de MBA da Universidade Positivo (UP) nas áreas Tributária,
Contábil e de Controladoria.