Quedas não são um
rito de passagem que vem com a idade; com educação e conscientização, podem ser
prevenidas. O problema é encontrar uma forma eficaz de propagar essa mensagem
Os
números não mentem. Informações americanas apontam que um
terço das pessoas com mais de 65 anos tem uma queda a cada ano. Somente em
2010, as quedas entre idosos representaram cerca de 3 milhões de atendimentos
em emergência e quase 30 bilhões de dólares em custos médicos diretos. As
autoridades americanas fazem uma previsão de que este número pode chegar a
67.700 bilhões de dólares em 2020.
Segundo o
Ministério da Saúde, no Brasil, um em cada três indivíduos com mais de 65 anos
sofre com as quedas. Desse total, um em cada 20 acaba fraturando algum
osso ou necessita de internação. E o risco de morte no ano seguinte à
hospitalização em decorrência de uma queda pode chegar a 30%. “No
pronto-socorro de Ortopedia do Hospital das Clínicas de São Paulo, as quedas
são responsáveis por 30% dos atendimentos, com uma média de idade de quase 70
anos entre os pacientes”, relata o ortopedista Caio Gonçalves de Souza (CRM-SP
87.701), que trabalha neste hospital.
Entre os
idosos com 80 anos ou mais, 40% caem a cada ano. Os que moram em asilos e casas
de repouso, a frequência de quedas é de 50%. De acordo com o Centro de Estudos
Ortopédicos do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo, 70%
das quedas de idosos acontecem em ambiente domiciliar.
O
American Recall Center afirma que
muitas dessas quedas ocorrem devido a riscos ambientais, tanto dentro como fora
de casa, incluindo a má iluminação, tapetes e carpetes, rachaduras na calçada e
desordem geral. Embora a maioria dessas quedas pode não resultar em ferimentos
graves, elas podem ter um grande impacto psicológico. Na verdade, cerca de 25%
das pessoas com 75 anos ou mais restringem desnecessariamente suas atividades
por causa do medo de cair.
“O
medo de cair assombra muitos idosos, particularmente aqueles que já caíram. Mas
a inatividade também não os protege de novas quedas, na verdade, aumenta a
probabilidade de cair novamente porque a falta dos exercícios físicos levará a
uma fraqueza muscular. É importante que os idosos saibam que uma queda
feia representa o ingresso mais rápido para a incapacidade física, perda da
independência e, muitas vezes, uma casa de repouso. 90% de todas as fraturas de
quadril (um dos eventos mais temidos que podem transformar uma vida em um
piscar de olhos) acontecem durante uma queda, e até um quarto de todos os
pacientes com fratura de quadril com mais de 50 anos de idade morre dentro de
um ano”, afirma o ortopedista Caio Gonçalves de Souza, Doutor em Ciências
pela FMUSP.
Fatores de risco
Imprevisíveis,
rápidas e potencialmente mortais, as quedas representam um risco que nenhuma
pessoa idosa pode se dar ao luxo de ignorar, em pé de igualdade com outras
grandes ameaças à saúde, como ataques cardíacos e derrames. “As quedas não
podem mais ser vistas como trágicos acidentes, mas como um problema evitável.
Para isso é preciso identificar os fatores de risco modificáveis e fazer as
intervenções necessárias, visando a prevenção da queda”, defende o médico.
A
seguir, o ortopedista enumera alguns dos fatores de risco mais comuns para as
quedas na terceira idade:
·
Quedas
anteriores;
·
Deficiências
cognitivas, tais como a doença de Alzheimer;
·
Problemas
de visão;
·
Ingestão
de vários medicamentos, especialmente sedativos e medicamentos hipotensores;
·
Ter
várias doenças;
·
Ter
hipotensão postural;
·
Fraqueza
nas pernas e pés;
·
Propriocepção
reduzida;
·
Problemas
de equilíbrio;
·
Marcha
anormal;
·
Uso
de uma bengala ou de outro dispositivo de auxílio, como um andador;
·
Calçado
inseguro;
·
Riscos
ambientais (tais como tapetes soltos, pisos ou calçadas irregulares);
·
Ter
mais de 80 anos de idade;
·
História
de desmaios;
·
Ter
depressão;
·
Ter
problemas funcionais (dificuldade para sair de uma cadeira, subir escadas).
“Embora
o simples fato de envelhecer não aumente o risco de uma pessoa cair (pelo menos
até cerca de 80 anos), ele tende a aumentar o número dos fatores de risco.
Quanto mais fatores, maior o risco de uma pessoa, até que, com quatro ou mais
fatores de risco reunidos, a probabilidade de queda sobe para cerca de 80% em
um ano. Problemas de equilíbrio e marcha, em particular, indicam pessoas com
alto risco de queda. Embora nem todos os riscos sejam modificáveis, a maioria
é, por isso vale a pena prestar atenção nesses itens”, informa Caio de Souza,
que também é professor de Ortopedia da Faculdade de Medicina da Uninove.
Todos
os profissionais de saúde e seus pacientes idosos devem discutir a prevenção de
quedas no consultório. “Apesar do crescente conhecimento sobre as quedas na
terceira idade, muitos profissionais de saúde não conseguem ver uma queda como
aquilo que ela realmente é: uma oportunidade para ajudar seus pacientes a
evitar algo muito pior. Todos os pacientes idosos devem responder pelo menos
uma pergunta sobre se eles caíram ou estão com medo de cair. Os mais idosos,
dentro do perfil de risco, devem ser avaliados atentamente”, observa o
ortopedista.
Qualquer
pessoa que trabalha ou se preocupa com os idosos também deve estar ciente das novas orientações sobre quedas da American
Geriatrics Society, que incluem avaliação e aconselhamento, avaliação de
medicamentos, modificações na casa, exercícios ou fisioterapia e uso adequado
de bengalas e andadores.
Um
estudo mostrou que o aumento da
consciência sobre os fatores de risco pelos profissionais de saúde (incluindo
médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos e outros) levou a uma
redução estatisticamente significativa das quedas com lesões graves, como as
que resultam em fraturas de quadril, além de custos menores para os pacientes,
em comparação a um grupo controle. “Educar os médicos e os demais profissionais
de saúde sobre as quedas na terceira idade é tão importante quanto a educação
do público sobre o tema”, defende Caio de Souza.
Caio Gonçalves de Souza
Site:
www.artrose.med.br
E-mail:
drcaio@artrose.med.br