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domingo, 4 de março de 2018

Cuidado com o coitadismo



Mostre sua força e supere os problemas de cabeça erguida.
 
Você conhece um ‘coitadinho’? Ou pior já ouviu falar em ‘coitadismo’? Pessoas que, muitas vezes sem perceber, utilizam-se de doenças ou fraquezas para conquistar a atenção dos outros e sentimentos de pena.

João Alexandre Borba, psicólogo e coach, comenta que é relativamente comum encontrar pessoas que fazem uso desse ‘coitadismo’, mas que essa mania é extremamente incômoda para aqueles que vivem ao redor da pessoa. “Essa ‘síndrome’ faz com que a pessoa ache que aqueles que estão a seu redor ficarão comovidos com a sua situação. Ilusão pura. Ao assumir a persona de vítima, a pessoa só atrai mais vítimas, - assim como, pessoas alegres atraem pessoas alegres”, comenta o especialista, que lembra “essa ‘tática’ de tentar conquistar a atenção, a pena, e o carinho dos outros por meio do coitadismo é extremamente falha”.

Segundo o especialista, muitas pessoas utilizam do fato de terem passado por dificuldades ou de estarem enfrentando algum período difícil da sua vida para conquistarem atenção e favores dos outros, deixando de lado sua competência e contando com a comoção dos que estão próximos. “Quantas pessoas você conhece que não terminam um relacionamento porque possuem ‘pena’ do outro?” questiona Borba, que lembra que muitos ainda fazem uso dessa ‘arma’ para segurar o parceiro.

E o discurso do político que teve uma vida difícil, que os pais trabalharam muito para colocar a comida na mesa, que a família passou fome, etc. O que isso tem a ver com a capacidade de governar que uma pessoa pode ter? Então porque esse método de campanha ainda é tão utilizado no Brasil? “Simples: por causa do ‘coitadismo’. O político espera que o povo fique comovido com sua história, que se sinta mais próximo dele – e, com isso, conquiste o seu voto”, comenta Borba. E essa é só mais uma forma de como essa ‘síndrome moderna’ é utilizada para prender a atenção e tentar conquistar a simpatia das pessoas.

Porém, não há nada melhor do que ver uma pessoa que enfrentou – e continua a enfrentar – problemas de cabeça erguida, conquistando a admiração dos outros por meio de ações, - e não fazendo o papel de vítima. “As pessoas mais admiradas são aquelas que enfrentam seus problemas de frente, dispostas a arriscar e cientes de que estão lidando com problemas grandes”, comenta Borba.

Porém, passar por cima e enfrentar esses problemas nem sempre é tarefa fácil, e, por isso, o auxílio de um profissional pode ser muito interessante para manter-se com a cabeça saudável e deixar de lado o coitadismo. “Contar com o apoio de um psicólogo ou de um bom coach pode ser fundamental para a pessoa perceber que ‘se fazer de coitada’ não lhe trará nenhum benefício verdadeiro – afinal, de que adianta os outros lhe ajudarem apenas por pena?”, indaga.

O profissional pode auxiliar o paciente a encontrar dentro de si os melhores caminhos para lidar com os problemas, sempre tendo em mente de que a síndrome de coitadismo deve ser esquecida. “Lembre-se de que as ações que os outros fazem para você devem ser conquistadas por mérito próprio, e não por pena. Por isso, levante a sua cabeça e enfrente com coragem os obstáculos que surgem na sua vida, sabendo que você sempre terá escolhas a fazer – e que nem sempre elas serão fáceis, mas que são necessárias para definir quem você é”, conclui Borba.






João Alexandre Borba  - Master Coach Trainer e Psicólogo


As crianças e os problemas ambientais




Dois estudos divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) neste início do mês de março têm foco na relação das crianças com problemas ambientais. Os relatórios revelam que as doenças mais comuns que afetam as que têm menos de 5 anos – infecções respiratórias, malária e diarreia – se devem a ausência de água potável, saneamento básico e poluição do ar.
De acordo com os estudos das 5,5 milhões de crianças com menos de 5 anos que morreram no mundo em 2015, 26% dessas mortes se devem a fatores ambientais.

Os dados da OMS referentes ao Brasil afirmam que a quase totalidade da população brasileira tem acesso a esgoto sanitário, água potável e combustível limpo para as tarefas de casa. Essa informação, provavelmente, foi obtida dos dados oficiais que levam em consideração somente as áreas regularizadas das cidades. Se forem consideradas as áreas irregulares – onde se localizam as favelas, por exemplo – que é onde vive a população mais pobre, os dados seriam diferentes.

Que determinados fatores ambientais afetam significativamente a saúde da população é fato reconhecido por inúmeros estudos. O que os relatórios da OMS trazem de novo é como são afetadas as crianças.

No caso brasileiro fica ainda mais evidente que poderiam ser adotadas medidas que permitiriam amenizar o problema.

Considerar a população que vive em áreas irregulares como cidadãos que possuem direitos é um primeiro passo que poderia diminuir o acesso de crianças às áreas de risco, como esgotos a céu aberto e lixões que ainda permanecem nas grandes cidades brasileiras. A condição de irregulares não justifica a omissão do poder público de não oferecer água e saneamento básico de alguma forma.

Outra medida que poderia ser adotada é a diminuição do uso dos combustíveis fósseis nos veículos, começando pelo transporte coletivo e de mercadorias que poderiam fazer uso de biocombustíveis, quer seja em sua totalidade ou num primeiro momento com adição de 50% de cada um. Melhoraria significativamente a poluição do ar nas grandes cidades.

Os fatores ambientais que afetam as crianças dependem de ações governamentais que demandam urgência em função da realidade exposta nos relatórios da OMS.

A questão de implementação de políticas públicas direcionadas ao reconhecimento do direito de água potável e saneamento básico das populações que vivem em áreas irregulares e a utilização do biodiesel dependem de tomadas de decisão no âmbito político.

O problema que ocorre, de modo geral, é a ausência de criatividade e inovação por parte dos gestores públicos para solucionar esses problemas. A justificativa é sempre a falta de recursos financeiros ou a necessidade de regularização das áreas, que podem demorar anos. Nesses processos, muitas vezes, intermináveis, muitas crianças perecem.

Soluções possíveis poderiam ser encaminhadas com o estabelecimento de parcerias com o setor privado responsável e as ONGs, bem como com a participação efetiva da população afetada mobilizada para implementação de negócios sociais com foco na solução dos problemas, que além de resolveram a questão, ofereceriam a perspectiva de um futuro mais sustentável às regiões menos favorecidas.




Reinaldo Dias - professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.


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