A
situação política do Brasil é extremamente grave, isto é fato notório e
incontestável. E, o mais preocupante, é que não se percebe nenhum sinal de
mudança, notadamente por parte das lideranças político-partidárias que chegaram
a elevado grau de comprometimento a ponto de todos os absurdos que correm serem
aparentemente ignorados, minimizados. Os fatos decorrentes da Operação Lava
Jato são provas da lastimável subversão de valores éticos, morais e políticos.
A
realidade é que o país chegou ao “fundo do poço”, e como está não pode
continuar. Todavia, as perspectivas de mudanças, de recuperação, não sinalizam
para uma saída porque as próprias lideranças que poderiam agir politicamente nesse
sentido não demonstram nenhuma vontade, passando clara mensagem de que isso
tudo leva ao encontro de seus propósitos. Temos visto nomes de destaque
envolvidos em corrupção e negociatas. Praticamente todos os partidos de
expressão se encontram sob investigação, assim como seus principais
integrantes, líderes e dirigentes. Portanto, qualquer esforço de recuperação
moral e ética é impossível com essa classe ora dominante.
A
solução está em um grande pacto, um movimento social que congregue todas as
personalidades decentes e interessadas em dar um basta; para isto é importante
o apoio dos movimentos sociais bem intencionados – que são muitos – com
reconhecido trabalho de aglutinação da sociedade que não mais suporta esta
calamidade nacional. É preciso banir os maus políticos e falsos líderes, é
urgente passar o país a limpo, evitando o risco de se tornarem mais frequentes
comentários insinuando a necessidade da volta dos militares. Portanto, é
urgente uma radical tomada de posição em favor do Brasil; radical, porém dentro
dos princípios que regem o Estado democrático. A solução é a convocação,
eleição e instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva e
soberana para dar novo ordenamento ao país. Será uma saída democrática e
institucional para superar o impasse em que o país está mergulhado e que tanto
mal causa à Nação. Somente uma Constituinte soberana tem a legitimidade para
efetivamente promover as reformas, principalmente a Política e Eleitoral, a
Tributária, Trabalhista, Previdência Social e do Judiciário.
Tenho
pregado, ainda antes de o descalabro haver se instalado, que a saída é
efetivamente uma Assembleia Constituinte e percebo que ultimamente o tema vem
ocupando espaço na discussão nacional. Deve ficar claro que não será uma
Constituinte formada por este Congresso, mas sim uma Assembleia isenta,
específica e exclusiva para dar uma nova Carta Magna. Penso que os
constituintes devam ser indicados entre notáveis nas áreas mais sensíveis,
representantes referendados pelas nossas principais entidades representativas
do empresariado, dos magistrados, do Ministério Público, dos profissionais
liberais, cientistas, da saúde, da administração, dos sindicatos organizados e
dos partidos constituídos – enfim, um colegiado de alta representatividade.
Acredito
que este projeto é possível, o momento é oportuno e a sociedade brasileira tem
se revelado interessada e participativa. Todavia, é indispensável que o
movimento pela Assembleia Constituinte seja de iniciativa da sociedade civil
organizada com firme trabalho de persuasão junto ao Congresso Nacional, a que
cabe decidir pela instalação e certamente haverá resistência. Os políticos
estão mais preocupados em reforçar privilégios e corporativismo como se
observou em recente conluio sob pretexto de “defender e salvar a classe”
pressionada pelas ações da Lava Jato; ou, via Reforma Política, a tentativa de
adoção das listas fechadas, que servem apenas para perpetuar caciques e impedir
a ascensão de novas lideranças. Enfim, essa é a saída, é a oportunidade que não
pode ser perdida, devendo-se aproveitar o clima, o momento, as condições. Do
contrário tudo continuará na mesma, ou talvez pior.
Luiz
Carlos Borges da Silveira - empresário, médico e professor. Foi Ministro da
Saúde e Deputado Federal.