Na
Colômbia, uma das exigências dos guerrilheiros marxistas das Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia) para assinar o acordo de paz com o governo
foi que este impusesse ao País uma reforma agrária. O que foi pronta e
inexplicavelmente aceito pelo presidente Juan Manuel Santos!
Não vamos
analisar aqui o quanto esse acordo favoreceu os guerrilheiros de todos os
modos. No final do governo de Álvaro Uribe, anterior presidente, as Farc
estavam a ponto de sofrer uma humilhante derrota. A ascensão de Santos ao poder
foi para a guerrilha uma tábua de salvação, e para as esquerdas marxistas
internacionais um desafogo e uma vitória. Políticos e religiosos de esquerda no
mundo todo saudaram a realização desse acordo que salvava as Farc.
A partir
de agora os guerrilheiros poderão, em nada renunciando a seus princípios
marxistas, participar ativamente da política colombiana, sem pagar o justo
preço por seus crimes, mortes, estupros, destruições, sequestros inclusive de
crianças, que obrigaram pobres camponeses a frequentes êxodos internos na
Colômbia para fugir das ameaças. Compensação às vítimas? Nem falar. O governo
que a faça se quiser.
Mas não é
esse o nosso tema, no momento. Vamos nos ater à Reforma Agrária. Aliás, no
Brasil, o governo Temer tem ameaçado com o retorno da Reforma Agrária. A julgar
pelo noticiário que vem sendo publicado a respeito, tratar-se-ia apenas de
entrega de títulos de propriedade a assentados, e de auxílio à produção.
Infelizmente não se levanta o problema das injustiças havidas em muitas dessas
desapropriações forçadas, nem se fala em reparação. Pelo menos – sempre segundo
o noticiário – a Reforma Agrária do presidente Temer não seria expropriatória
como a propugnada pelo PT.
Será
mesmo? Por que então usar o rótulo Reforma Agrária, que traz consigo a ideia de
desapropriações injustas (leia-se roubo de propriedades pelo Estado), sob
pretexto de ajudar camponeses sem terra, mas que na verdade virou um chamariz
para comunistas e oportunistas, com a consequente formação de favelas rurais
que nada produzem? Sem falar no incentivo e proteção que tem sido dado, contra
toda lei e todo bom senso, aos invasores das propriedades rurais, que atuam
como um câncer social, encobertos pela mídia de esquerda com as gazes
cor-de-rosa da denominação “movimentos sociais” (leia-se MST, CPT e outros que
tais).
A marcha da bêbada
Há muito
que as esquerdas de todos os matizes vêm procurando afanosamente fazer avançar
a Reforma Agrária, mas são numerosos os obstáculos que encontram. O povo
brasileiro, ao menos em parcela muito considerável, é suficientemente inteligente
e atilado para não se deixar levar pela onda. Assim, a Reforma Agrária tem
caminhado ingloriamente aos trancos e barrancos, não raro tropeçando num calhau
ou detendo-se ante uma serrania, desde os tempos de João Goulart, passando pelo
Estatuto da Terra, pelo PNRA de Sarney, pela frustrada radicalização agrária da
dupla Lula-CNBB que incentivava o descabelado projeto revolucionário de Plinio
de Arruda Sampaio; para citar só os lances mais conhecidos.
A
investida da Reforma Agrária nestes últimos anos pode ser comparada ao
cambalear de uma bêbada, que ora dá uns passos rápidos e incertos para frente,
ora anda em ziguezague, ora tromba com um poste, ora se cansa e para, gingando
o corpo.
Se
estivéssemos assistindo a um filme, o caminhar esdrúxulo da personagem “Reforma
Agrária” não pediria maiores explicações, pois se trataria de uma ficção. O
criador de uma cena fantasiosa pode dar-se ao luxo de falar à sensibilidade,
sem apresentar justificações racionais. Não estamos, porém, diante de uma
ficção, mas de uma realidade. E a uma realidade sombria como é a Reforma
Agrária, pode-se aplicar o dito atribuído à enigmática Esfinge de Gizé, no
Egito: “Ou me decifras ou eu te devoro”.
De modo
que o leitor atento aos problemas do País, e à repercussão que podem ter sobre
sua vida pessoal os desdobramentos indesejáveis dessa situação mal explicada,
tem direito a saber o que está acontecendo. Como decifrar o atual
agrorreformismo?
No cerne, o direito de propriedade
A disputa
em torno da Reforma Agrária não se resume a um conflito de interesses, em que
latifundiários gananciosos querem a qualquer preço defender suas terras, contra
pobres que buscam um chão onde plantar. Esse é propriamente o véu que oculta a
disputa de fundo. A realidade mais profunda é outra. Consiste ela numa luta em
torno do direito de propriedade, direito este originado da própria natureza das
coisas, garantido pela doutrina católica, defendido por dois Mandamentos da Lei
de Deus (Não roubarás e Não cobiçarás as coisas alheias) e abominado pelo comunismo
e pelos socialismos de todos os matizes. Já vituperava o socialista Proudhon
(1809-1865) “a propriedade é um roubo”.
A Reforma
Agrária, tal como vem sendo concebida no Brasil desde Goulart até Lula (ou
Dilma, dá na mesma) é o passo desastroso que o socialismo anseia dar para impor
ao País a sociedade sem classes, de tipo soviético, cubano ou chinês, talvez
venezuelano.
Goste-se
ou não, a Reforma Agrária socialista e confiscatória opõe-se necessariamente às
convicções religiosas e de bom senso da maioria dos brasileiros. O
igualitarismo marxista colide de frente com a doutrina católica. Por mais que teologias
da libertação, progressismos, esquerdas católicas façam malabarismos sem
fim para conciliar o inconciliável, a verdade é essa.
Soube
vê-lo com agudeza de vistas ímpar Plinio Corrêa de Oliveira. Foi mesmo um dos
pontos salientes de sua vida pública a luta contra o agrorreformismo
anticristão. E essa luta marcou a fundo o Brasil. De tal modo que até hoje a
Reforma Agrária é vista entre nós com justa desconfiança, e o socialismo
igualitário encontra nessa atitude da opinião pública um obstáculo difícil de
transpor na marcha para cubanizar ou venezualizar o Brasil.
Não podendo
caminhar de modo retilíneo e às claras, ensaia ela a marcha da bêbada, cobre-se
de véus e de pretextos, usa a violência do MST e a brandura de governos
cúmplices ou lenientes. Tudo na esperança de, em certo momento, dar o bote e
alcançar seus objetivos.
Tal
atitude de justa desconfiança da opinião pública brasileira diante da Reforma
Agrária revela, até certo ponto, que para ela o enigma da maldosa esfinge foi
decifrado. E, com isso, o Brasil não foi devorado pelo agrorreformismo, a não
ser parcialmente. Ao menos por enquanto.
Esperemos
que o atual governo tenha presente essa situação.
Gregorio Vivanco Lopes - advogado e colaborador da ABIM
Fonte: Agência Boa Imprensa – (ABIM)