Domingo, 16 de agosto. Na famosa
passeata que ocorreu pelo Brasil inteiro, protestando contra o governo Dilma, a
corrupção e Lula, resolvi caminhar na Avenida Paulista. Fui apenas para
observar, pois, de tão indignado com tudo isso, já nem sei mais se gritar,
carregar cartazes ou esbravejar adiantam muito. Como um espectador tímido, com
meu tênis de caminhadas, fui lentamente percorrendo e olhando as pessoas, como
uma câmera daquelas antigas do velho e grande cineasta Sérgio Person, na sua
paixão por revelar a intimidade do inconsciente coletivo paulista.
Para quem viveu, como eu, a
hiperinflação dos anos 80, rever tudo isso e seu conteúdo bárbaro de corrupção,
mentiras e envolvimento de empresários, é muito triste. Pude observar não só o
olhar das pessoas, mas a forma delas caminharem. Muitas estavam cabisbaixas.
Percebi ainda algo que não via há tempos, nem em outras manifestações: uma
sensação de desesperança.
Sim, desesperança em tudo: na dúvida
sobre a efetiva condenação dos atores do Petrolão, na mentira pregada pelo
Pré-Sal, em que ninguém sabia de nada, embora por todo lado Lula e Dilma
bridavam com macacões cheios de óleo. Desesperança pelo mensalão, e pior, pelo
desmantelamento do Plano Real, que resulta na desvalorização do dólar – é
lógico que isso interessa e muito aos maus empresários, aqueles que se
beneficiam do dólar barato por não investirem em modernização da produção de
suas empresas. Desesperança ainda pelo desemprego culminante na fraca economia
e, acima de tudo, por uma corrupção avassaladora perpetrada por parte dos
governantes e capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores.
Brasil desesperança. Parece que
esquecemos tudo pelo que passamos nos anos 80. Apagou-se da memória a
hiperinflação? Os jovens a desconhecem, mas estão sendo apresentados a ela.
Eles e todos, porém, assistem, agora, a formas tecnológicas modernas de
corrupção em que empresários e governo, numa simbiose macabra, esfarelam o país
em contas no exterior.
Entre velhas e novas técnicas de
apropriação do dinheiro público, ficou apenas um nome antigo, malandro, para
dar nome à velha, mas atual propina: “pixuleco”.
Está louco... Colocar tênis para
andar na Paulista, ver gente triste e, ainda assim, manter a esperança? Não é
fácil neste país do “pixuleco”, neste Brasil que até outro dia era uma coisa e
agora virou outra. Virou o Brasil da desesperança para muitos e Brasil do
“pixuleco” para poucos.
Fernando Rizzolo - Advogado, Jornalista, Mestre em Direitos Fundamentais
e membro efetivo da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP