A pandemia está nos trazendo uma incrível descoberta: a importância do contexto histórico para uma marca ganhar um novo significado, muitas vezes sem alterar sua imagem ou mix de produtos ou serviços. O momento histórico trata de jogar luz sobre o que estava oculto, seja por falta de demanda ou valorização cultural.
É o caso daquela cobra
estilizada na letra B, que forma a logomarca do Instituto Butantan, e do
castelinho mourisco símbolo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Embora as duas
marcas sejam centenárias, passaram a fazer parte do dia a dia dos brasileiros
apenas há pouco mais de um ano, com o início da pandemia.
Na infância
paulistana, o Butantan era o lugar da cidade onde cobras, que pareciam
aterrorizantes, moravam e o soro antiofídico era a salvação de vida para os
brasileiros picados por esse réptil, em todos os cantos do país. Foi uma das
primeiras experiências que aprendemos: a cura pode estar no próprio veneno.
Já o castelinho da
Fiocruz aparecia, de vez em quando, no Jornal Nacional quando o assunto era
vacina para malária. Causava estranhamento aquela construção europeia, em meio
a um resquício de Mata Atlântica, em plena Avenida Brasil, no Rio de Janeiro.
Uma construção peculiar e misteriosa, onde cientistas incansavelmente zelam
pela saúde e buscam a cura.
Estes dois símbolos
da ciência nacional emergiram no início da pandemia, embora sejam instituições
centenárias e tenham papel fundamental para a política de saúde pública no
Brasil. O Instituto Butantan completa 120 anos este ano. Nasceu de uma
iniciativa do governo de São Paulo para combater a peste bubônica. Com o mesmo
propósito, a Fiocruz foi criada em 1900 pelo governo fluminense. Até hoje, as
logomarcas de ambos praticamente não mudaram, o que dificilmente acontece com
uma instituição.
Paralelamente,
seguiram inovando na forma de encarar a ciência – cada vez mais conectada com a
realidade brasileira. Tradição e inovação andam lado a lado, fazendo de ambas
referências mundiais em saúde pública. Representam também casos em que os
produtos e serviços prestados à sociedade se sobrepuseram à marca, até antes da
pandemia. Poucos cidadãos, provavelmente, conheciam imagens das instalações e
as logomarcas de ambos. É o que chamamos de marketing quando o nome que está
por trás, por sua história de credibilidade, chancela a marca. Neste caso,
marketing é fundamental para valorizar e trazer reconhecimento do serviço da
saúde pública brasileira.
Outro aprendizado
dessa história toda foi descobrir que muitos cientistas brasileiros trabalham
nas melhores universidades do mundo, não apenas em pesquisas sobre o Covid-19,
mas em várias áreas que praticam a ciência de ponta. Ou seja, essa “indústria”
nacional exporta mão de obra de primeira linha. São cientistas executivos
porque, de fato, executam um árduo trabalho nos laboratórios, comandam equipes,
buscam obstinadamente resultados e têm o devido respeito ao tempo de cada
projeto.
Tanto o Butantan como
a Fiocruz sempre tiveram um papel crucial na vida dos brasileiros. O que
faltava era um olhar apurado sobre sua importância social e econômica. O que
nos ensinou muito. Às vezes, a novidade está no olhar sobre as coisas, e não no
objeto ou ser visto. Ah, e vamos torcer para que a vacina chegue logo a todos
por aqui!
Alexandre Mutran - head de
marketing da AON Brasil.