Cinco
milhões de brasileiros que vivem com psoríase passam a contar, a partir de
agora, com um novo fluxograma de tratamento e um delineamento atualizado nas
estratégias para ajustes em suas terapias. Documento, elaborado pela Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD), orientará o manejo dos pacientes com essa
doença em diferentes fases de cuidados, prevendo a incorporação de avanços
científicos e tecnológicos ocorridos ao longo dos últimos oito anos, data da
edição de texto anterior (2012).
Do total de pessoas
com diagnóstico de psoríase em torno de 3,7 milhões (73,4%) têm sua qualidade
de vida comprometida. Isso em decorrência de manifestações dessa doença na pele
que comprometem movimentos, causam desconforto e geram exposição dos portadores
a situações de preconceito por conta de desconhecimento da população. Para o
presidente da SBD, Sérgio Palma, muitos pacientes desenvolvem quadros de
depressão e outros transtornos de saúde mental devido à reação de alguns diante
das lesões. "Por isso, é essencial levar informações sobre a psoríase e
suas implicações aos brasileiros. É o que a SBD fez em campanha recém encerrada
sobre o tema", destacou.
Medicamentos - Entre as mudanças que
são trazidas pelo Consenso Brasileiro de Psoríase 2020 e Algoritmo de
Tratamento da SBD estão a definição de novos desfechos, de metas de tratamento
e de critérios de gravidade, bem como o uso de medicamentos imunobiológicos. Essas substâncias
terapêuticas consideradas de última geração têm grande eficiência no tratamento
de doenças autoimunes, como é o caso da psoríase. Produzidos por sistemas
biológicos vivos, com estrutura molecular complexa, de alto peso molecular e
homóloga às proteínas humanas, esses medicamentos são capazes de atuar em
locais específicos das vias imunológicas e inflamatórias.
O Consenso da SBD
servirá como referência para formulação de protocolos de atendimento e de
políticas públicas voltadas aos pacientes com psoríase - de moderada à grave,
apostam os dirigentes da entidade. Segundo Sérgio Palma, esse documento terá
grande repercussão nas práticas adotadas em serviços oferecidos pelo Sistema
Único de Saúde (SUS) e pela área privada, com a incorporação, exclusão ou
alteração de tecnologias. "Por meio dele, fica estabelecido um parâmetro
moderno de assistência para pessoas com psoríase, o qual deve ser agregado à
prática clínica para trazer maior efetividade, segurança e conforto no manejo
dessa doença que não tem cura, mas que, com as orientações e suporte
terapêutico corretos, pode causar menos desconforto aos seus portadores",
disse Palma.
Doença - Grande parte da
população ainda desconhece a psoríase. Trata-se de uma doença inflamatória
crônica da pele e das articulações, de caráter imunomediado e não contagioso,
que afeta cerca de 125 milhões de indivíduos em todo o mundo. Pelo menos 5
milhões estão no Brasil. Lesões nos joelhos, cotovelos, couro cabeludo e
genitais são as manifestações clínicas mais comuns.
"Entende-se que
os cuidados com portadores de psoríase, principalmente os mais jovens, devem
ser entendidos como tema prioritário para a agenda pública de saúde. Por conta
de seu caráter sistêmico, essa doença, antes vista como agravo de pele, passou
a ser relacionada a doenças do sistema cardiovascular, ou seja, o portador tem
maior risco de desenvolver outros transtornos. Por isso, esse Consenso deve ser
um instrumento de consulta voltado a quem enfrenta essa doença, seja como
paciente ou como médico assistente responsável", disse o dermatologista
Ricardo Romiti, professor da Universidade São Paulo (SP) e responsável pela
publicação.
Epidemiologia - Na avaliação dos
especialistas da SBD, no Brasil, a composição étnica, aumento da longevidade,
além de características climáticas e de insolação podem implicar em dados
epidemiológicos únicos e diferentes prevalências regionais de psoríase. Essas
características também influenciam, no País, as manifestações graves dessa
doença e sua resposta às terapêuticas disponíveis.
Dados recentes da SBD
estimam a prevalência da psoríase, no Brasil, em 1,31% da população, sendo
1,15%, em mulheres; e 1,47%, em homens. Houve, ainda, a identificação de um
aumento da prevalência de psoríase quanto à faixa etária: abaixo dos 30 anos,
de 0,58%; entre 30 e 60 anos, de 1,39%; e entre maiores de 60 anos, 2,29%. As
regiões do país também diferem quanto à prevalência da doença, com maiores
indicadores nas regiões Sul e Sudeste, em contraste com Centro-Oeste, Norte e
Nordeste.
O tratamento desse
transtorno visa a redução do desconforto que causa. Em pacientes com quadros
leves, o Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT), do Ministério da
Saúde, ainda em vigor, orienta a prescrição de medicamentos externos, como
cremes e pomadas com corticosteroides, calcipotriol e ácido salicílico. Nos
casos moderados e graves, a opção prioritária é a fototerapia ultravioleta B
(UVB) ou ultravioleta A (PUVA), assim como medicamentos orais sistêmicos. A SBD
inova ao propor que seja agregado ao PCDT os chamados imunobiológicos e
terapias-alvo, considerados os tratamentos mais modernos, pois atuam como
anticorpos, bloqueando a proteína que causa a inflamação.
Apesar de não ter
cura, é possível reduzir o aparecimento de episódios da doença em seus
portadores, alertam os especialistas. Para tanto, recomenda-se a adoção de
hábitos de vida saudáveis, como: alimentação equilibrada, prática de atividade
física, não fumar e evitar situações de estresse emocional. Também é
recomendado o uso de hidratante e controlar a exposição diária ao sol. No
entanto, alerta Ricardo Romiti, "é essencial sempre contar com suporte de
médico dermatologista para fazer o diagnóstico e acompanhar o paciente para
fazer ajustes na terapêutica, caso necessário".
O
Consenso Brasileiro de Psoríase 2020 e Algoritmo de Tratamento da Sociedade
Brasileira de Dermatologia foi elaborado sob a coordenação dos especialistas
Sérgio Palma (PE), Ricardo Romiti (SP), André Vicente E. de Carvalho (RS) e
Gleison V. Duarte (BA). O documento tem 35 capítulos e reúne a produção de 80
colaboradores, que fizeram a estratificação de níveis de evidência e seu grau
de recomendação sobre diferentes tópicos relacionados à doença.