Pesquisa
Nacional de Saúde, divulgada nesta quarta-feira (21), mostra que proporção de
obesos acima dos 20 anos mais que dobrou no Brasil
A pandemia está trazendo uma herança
incômoda para muita gente: o excesso de peso. Quem não engordou neste período,
ao menos conhece alguém ou ouviu algum relato de quilos a mais ganhos nos
últimos meses. Cenário delicado quando já se sabe que a obesidade é um fator de
risco elevado para quem contrai a COVID-19. De acordo com boletins
epidemiológicos do coronavírus de várias secretarias de saúde pelo Brasil, cerca
de 7% dos pacientes que morreram pela doença tinham a obesidade como fator de
risco.
Os números da Pesquisa Nacional de
Saúde, divulgados nesta quarta-feira (21/10) pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o universo de pessoas com esse
fator de risco já era enorme antes da pandemia. De acordo com a pesquisa, entre
2003 e 2019, mais do que dobrou a proporção de obesos na população com 20 anos
ou mais no país - saltando de 12,2% para 26,8%. Os números do IBGE também
mostram que um em cada quatro brasileiros de 18 anos ou mais estava obeso em
2019 - o que equivale a 41 milhões de pessoas.
Um estudo divulgado em julho, na página
da Associação Brasileira Para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica
(Abeso), mostrou que quanto maior o Índice de Massa Corporal (IMC) de uma
pessoa, maior é a probabilidade do quadro de COVID-19 se complicar. Quem tem um
IMC entre 30 e 35 kg/m2 apresenta um risco 1,4 vez maior que uma pessoa
saudável, enquanto indivíduos com IMC entre 35 e 40 kg/m2 têm 1,8 vez mais
risco. Já um paciente com IMC maior de 40 kg/m2, o risco se eleva para 2,6
vezes.
O cirurgião do aparelho digestivo
Caetano Marchesini, especialista em cirurgia bariátrica do Hospital Marcelino
Champagnat, em Curitiba, explica o porquê dessa relação perigosa entre
obesidade e coronavírus. “O excesso de gordura é uma inflamação crônica do
corpo, que leva à imunossupressão, à redução da capacidade do sistema
imunológico. Ou seja, com a imunidade afetada, o organismo do obeso tem mais
dificuldade em combater o vírus”, diz. Marchesini conta que, na época do vírus
H1N1, de 37 a 47% dos pacientes obesos infectados pelo vírus evoluíam a doença
para quadros mais graves. Agora, com o coronavírus, a estatística quase dobrou.
De 70 a 80% dos obesos infectados pela COVID-19 evoluem para sintomas graves da
doença.
Bariátrica
Uma das alternativas médicas para o
combate da obesidade, em pacientes com alto IMC, é a cirurgia bariátrica.
Marchesini conta que muitos pacientes obesos lhe procuraram preocupados em
emagrecer, por entenderem o risco que a obesidade lhes trazia frente ao
coronavírus.
O chef de cozinha Vavo Krieck, 48 anos,
passou pelo procedimento que seguiu todos os rigorosos protocolos de segurança
sanitária adotados pelo hospital. O paciente tinha 134 quilos (oito dos quais
ganhou na pandemia), mas já perdeu 20, após pouco mais de 45 dias da cirurgia.
“A pandemia serviu como um grande espelho na vida de todo mundo. Coisas que
antes a gente achava que conseguia controlar, o tempo em casa mostrou que não
dava mais pra varrer a sujeira para baixo do tapete. Eu achava que a hora que
eu quisesse, eu conseguiria emagrecer. Mas notei que não é bem assim”, diz
Vavo.
Além dos aspectos psicológicos, o chef
de cozinha ainda se deparou com outros problemas: hipertensão, pré-diabetes,
apneia e a falta de fôlego para brincar com os filhos gêmeos de cinco anos, que
agora estavam em tempo integral dentro de casa. Conversando com o
cardiologista, Vavo constatou que, no seu caso, a cirurgia bariátrica era a
opção mais indicada para emagrecer e melhorar a saúde. “Já estou praticando
atividade física três vezes por semana, meu fôlego já está melhorando, minha
pressão arterial voltou completamente ao normal. Não poderia ter tido decisão
melhor. Todos os aspectos da vida começaram a melhorar”, analisa o paciente.
Nutrição
Mas nem todas as pessoas acima do peso
necessitam de cirurgia bariátrica. De acordo com a nutricionista Andressa
Troles, da equipe de check up do Hospital Marcelino Champagnat, a cirurgia
começa a ser indicada para pessoas com IMC maior que 35 para pacientes com
comorbidades (diabetes, pressão alta) e 40 aos pacientes com obesidade mórbida.
Ainda assim, cada caso é analisado individualmente. Abaixo desse patamar, o
indicado é o controle nutricional. Desde o começo de setembro, ela vem
recebendo muitos pacientes relatando que aumentaram o peso na pandemia. Até
mesmo homens, que dificilmente procuravam ajuda com a alimentação, estão indo
para o consultório da nutricionista em busca de qualidade de vida. E, segundo
Andressa, eles costumam ser mais dedicados na dieta do que as mulheres em
geral.
As alegações no consultório de Andressa
para o ganho de peso são muitas: pacientes que tiveram que começar a fazer
comida em casa, outros que não sabiam cozinhar e partiram para o fast food,
alguns que comiam no restaurante da empresa, com cardápio balanceado e
passaram a improvisar em casa porque não dá tempo de cozinhar no intervalo de
almoço do home office. Outras, ainda, passaram a dar mais “porcarias” para as
crianças em casa e acompanharam a comilança. Sem contar a ansiedade, que muitos
descontaram na comida.
A média de ganho de peso por pessoa no
consultório da Andressa tem sido de 10 quilos na pandemia. É onde se encaixa a
paciente Aline Bento, de 29 anos. Com filho recém-nascido, ela “emendou” a
licença-maternidade na pandemia. Buscou acompanhamento nutricional e já sente
os resultados. “Ao contrário do que imaginava, me sinto mais disposta e meu
sono está melhor”, conta. Mas independente da quantidade ou do motivo, a
nutricionista dá algumas dicas que podem ser seguidas por qualquer pessoa que
queira emagrecer:
- Fazer trocas saudáveis – a bolacha
pela fruta com granola, cookies integrais, iogurte natural, por exemplo
- Aumentar o consumo de frutas e
verduras ao dia, entre 3 e 5 porções
- Troque tudo o que tem farinha branca
pela integral (pães, bolachas, macarrão, arroz)
- Acrescente ovos mexidos, frutas,
aveia, granola no café da manhã e lanches intermediários
- Adicione oleaginosas (castanhas) e
sementes na alimentação
- Não tem tempo pra cozinhar? Organize
para ir à feira ou ao supermercado no fim de semana. Cozinhe marmitas para a
semana toda (frango desfiado, carne moída, arroz integral, legumes diversos,
sopas) e congele para ir consumindo na semana
- Não quer ter trabalho com o preparo?
Ao invés de fast food, opte pelas marmitas fitness
Hospital Marcelino Champagnat