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sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Dia Nacional de Conscientização Sobre a Esclerose Múltipla chama atenção para a neurorreabilitação em tempos de COVID-19

 Aliado ao tratamento medicamentoso, a reabilitação é fundamental para reduzir a espasticidade, espasmo, fadiga, depressão entre diversos outros sintomas


30 de agosto é o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla (EM), uma doença neurológica, crônica e autoimune que faz com que as células de defesa do organismo ataquem o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares, que causam diversos sintomas debilitantes. No cenário atual, tendo a pandemia do novo coronavírus como pano de fundo, ainda existem dúvidas sobre como proceder com os tratamentos e reabilitações dos pacientes com EM.

De acordo com o Brazilian Committee for Treatment and Research in Multiple Sclerosis (BCTRIMS), o risco de pacientes com EM manifestarem a forma mais grave da COVID-19 permanece incerto, assim como se as medicações utilizadas no tratamento podem ou não aumentar o risco de desenvolver os sintomas mais graves. "Cada paciente e seu tratamento são únicos. O mais indicado é sempre manter o contato com o seu médico e entender os riscos e os cuidados. No caso de o tratamento ser feito com imunossupressores, é necessário entender que o seu sistema imunológico está com a atividade ou eficiência diminuída, o que facilita a contaminação. O mais importante é não parar o tratamento, seguir a orientação médica e tomar todos os cuidados necessários para esse momento", explica o médico neurologista Alexandre Kaup, médico do Centro de Bloqueio Neuroquímico do Hospital Albert Einstein.

Os medicamentos para a EM tem como objetivo reduzir as inflamações e os surtos ao longo dos anos, diminuindo o acúmulo de incapacidade durante a vida do paciente e deve ser prescrito pelo neurologista. "Atualmente, o que temos são medicamentos imunomoduladores, imunossupressores, os interferons e o acetato de glatirâmer que são utilizados para redução de surtos e estabilização da doença", complementa o médico que visam diminuir a agressão a mielina e reduzir a atividade do sistema imunológico do paciente. A pulsoterapia com corticoides é utilizada em caso de surtos.

Além do tratamento medicamentoso, parte importante do tratamento são as terapias de apoio complementares e a neurorreabilitação. Esses dois pilares do tratamento da EM são essenciais para a saúde do paciente, pois, enquanto a neurorreabilitação foca na adaptação, recuperação e prevenção dos sintomas e sequelas mais graves da EM, ao longo do tempo, as terapias de apoio promovem o bem-estar físico e emocional do paciente.

Dentre os sintomas mais comuns da EM estão:

• Fadiga: manifesta-se por um cansaço intenso e momentaneamente incapacitante;

• Alteração fonoaudiológicas: alterações ligadas à fala e à deglutição que podem surgir no início da doença ou no decorrer dos anos;

• Problemas de equilíbrio e coordenação: se manifestam com instabilidade ao caminhar, vertigem, náuseas e fraqueza geral;

• Espasticidade: rigidez por aumento da resistência ao movimento, principalmente nos membros inferiores. Pode se associar a sensação de queimação, formigamento e comumente à dor intensa;

• Transtornos emocionais: depressão, ansiedade, transtorno de humor e irritabilidade.

Em um cenário sem COVID-19, as terapias e a reabilitação para esses sintomas são feitas em consultórios e hospitais, mas o "novo normal" exige que algumas concessões sejam feitas. As terapias envolvendo psicologia, arteterapia, fonoaudiologia e até mesmo as fisioterapias ganharam uma ajuda da tecnologia para que os pacientes não fiquem desassistidos nesse momento, com sessões e dicas on-line para que eles continuem progredindo.

A Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) oferece, em sua aba de SPAbem no site da associação (http://abem.org.br/), uma lista completa de terapias que podem ser feitas de forma remota e com orientações de profissionais engajados. Em alguns casos específicos, como de pacientes com espasticidade que precisam fazer o uso da toxina botulínica A, não é possível fazer o tratamento de casa ou de forma remota, já que é necessário um profissional de saúde especializado para fazer as aplicações.

"Em linhas gerais, o que queremos deixar claro é que nenhum tratamento deve ser parado devido à pandemia sem orientação médica, principalmente as terapias que auxiliam na qualidade de vida dos pacientes e que mostram mais resultados quando seguidas de forma regular", explica Dr. Alexandre.

A recomendação é que os pacientes não saiam de casa sem necessidade, mas quando o fizerem, que tomem todos os cuidados necessários durante esse período, que inclui:

• Use a máscara durante todo o período fora de casa

• Evite tocar o rosto e os olhos

• Evite receber visitas

• Lave bem as mãos ou utilize álcool gel

• Quando retornar para a casa, tire os sapatos e a roupa e tome banho

• Converse com seu médico em caso de sintomas tanto da COVID-19 ou de um surto da Esclerose Múltipla

 

 

 

Referências

• Thompson AJ et al. 2018. Multiple sclerosis. Lancet; 21;391(10130):1622-1636.

• 3º Comunicado Brazilian Committee for Treatment and Research in Multiple Sclerosis: Epidemia do Coronavirus (COVID-19). Informações aos Pacientes. Disponível em [http://abem.org.br/wp-content/uploads/2020/08/BCTRIMS-COVID-19-Pacientes-versa%CC%83o-3.pdf] acesso em agosto de 2020.

• Associação Brasileira de Esclerose Múltipla. O que é Esclerose Múltipla. Disponível em [http://abem.org.br/esclerose/o-que-e-esclerose-multipla/] acesso em agosto de 2020.

• Dystonia UK. Botulinum toxin injections. Disponível em [http://www.dystonia.org.uk/botulinum-toxin-injections#:~:text=Your%20clinician%20will%20inject%20botulinum,for%20making%20the%20muscle%20contract.] acesso em agosto de 2020.

Ipsen


Banco de Sangue e policiais da ROTA de São Paulo se unem em prol da solidariedade

 

Até o dia 3 de setembro, a Campanha "ROTA da Solidariedade" está mobilizando policiais e familiares dos colaboradores do 1º Batalhão de Polícia de Choque - Rondas Ostensivas Tobias De Aguiar da Polícia Militar para a conscientização sobre a importância da doação de sangue.

A ação é uma parceria do Banco de Sangue de São Paulo e o Batalhão da ROTA com o objetivo de aumentar os estoques sanguíneos, que apresentam queda de 30% neste período. A situação está cada vez mais crítica para os tipos O+, A- e O-. A expectativa é receber cerca de 800 doações ao longo da campanha.

"Neste cenário em que as doações se encontram em baixa, receber esse convite nos trouxe um alívio, pois muitos colaboradores que transitam pelo local certamente serão sensibilizados. Agora, os heróis de farda salvarão vidas também por meio da doação de sangue", diz Bibiana Alves, líder de captação do Banco de Sangue de São Paulo.

As doações de sangue na ROTA acontecem até o dia 3 de setembro, das 8h às 14h, no 1º Batalhão de Polícia de Choque - Tobias De Aguiar, localizado na Avenida Tiradentes, 440, no bairro Luz. As coletas são destinadas aos policiais da unidade e aos familiares.

Requisitos básicos para doação de sangue:

• Apresentar um documento oficial com foto (RG, CNH, etc.) em bom estado de conservação;

• Ter idade entre 16 e 69 anos desde que a primeira doação seja realizada até os 60 anos (menores de idade precisam de autorização e presença dos pais no momento da doação);

• Estar em boas condições de saúde;

• Pesar no mínimo 50 kg;

• Não ter feito uso de bebida alcoólica nas últimas 12 horas;

• Após o almoço ou ingestão de alimentos gordurosos, aguardar 3 horas. Não é necessário estar em jejum;

• Se fez tatuagem e/ou piercing, aguardar 12 meses. Exceto para região genital e língua (12 meses após a retirada);

• Se passou por endoscopia ou procedimento endoscópico, aguardar 6 meses;

• Não ter tido gripe ou resfriado nos últimos 30 dias;

• Não ter tido Sífilis, Doença de Chagas ou AIDS;

• Não ter diabetes em uso de insulina;

Consulte a equipe do banco de sangue em casos de hipertensão, uso de medicamentos e cirurgias.

Critérios específicos para o CORONAVÍRUS:

• Candidatos que apresentaram sintomas de gripe e/ou resfriado devem aguardar 30 dias após cessarem os sintomas para realizar doação de sangue;

• Candidatos que viajaram para o exterior devem aguardar 14 dias após a data de retorno para realizar doação de sangue;

• Candidatos à doação de sangue que tiveram contato, nos últimos 30 dias, com pessoas que apresentaram diagnóstico clínico e/ou laboratorial de infecções pelos vírus SARS, MERS e/ou 2019-nCoV, bem como aqueles que tiveram contato com casos suspeitos em avaliação, deverão ser considerados inaptos pelo período de 14 dias após o último contato com essas pessoas;

• Candidatos à doação de sangue que foram infectados pelos SARS, ERS e/ou 2019-nCoV, após diagnóstico clínico e/ou laboratorial, deverão ser considerados inaptos por um período de 30 dias após a completa recuperação (assintomáticos e sem sequelas que contraindique a doação).

 

Serviço:

 

Banco de Sangue de São Paulo

Unidade Paraíso

Endereço: Rua Tomas Carvalhal, 711 - Paraíso

Tel.: (11) 3373-2000

Atendimento: Segunda a sexta, das 8h às 17h, e sábado, das 08h às 16h Estacionamento gratuito Hotel Matsubara - Rua Tomas Carvalhal, 480

 

Unidade Hospital Edmundo Vasconcelos

Endereço: Rua Borges Lagoa, 1450 - Vila Clementino

Tel.: (11) 5080-4435

Atendimento: Segunda a sábado, das 8h ao 12h

Estacionamento gratuito.


Tabagismo é fator de risco para doenças da coluna

Fumar aumenta em 30% o risco de dores nas costas


Dia 29 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A data, criada em 1986, visa a conscientização sobre os diversos riscos deste mau hábito para a saúde coletiva. Dentre alguns dos males causados pelo tabagismo, destacam-se aqueles relacionados à coluna vertebral. “Fumar contribui para a degeneração dos discos vertebrais, agravando os casos de hérnias de disco, bem como sobrecarregando as articulações, musculatura e ligamentos da região”, aponta Juliano Fratezi, médico ortopedista especialista em coluna, pós-graduado em Dor pelo IEP- Hospital Sírio Libanês e membro da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC) e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).  

O especialista explica que as substâncias presentes no cigarro diminuem a quantidade de oxigênio distribuídas nos tecidos do corpo humano. “Essa falta de oxigênio causada pela alta concentração de uma outra substância chamada carboxi-hemoglobina leva à diminuição de nutrientes dos discos, induzindo a essa degeneração”, afirma Fratezi.  

Diversos estudos ao longo dos anos analisam essa relação. Alguns deles apontam que quanto maior a quantidade de cigarros e o tempo de uso, maior o impacto na saúde dos discos. Um exemplo é  a pesquisa publicada em 2012  e que reuniu especialistas de diferentes países, que apontou tanto a degeneração dos discos como a perda óssea nas vértebras provocadas pela exposição ao tabaco. Um outro estudo publicado no Annals of Rheumatic Diseases em 2014  e realizado com 13 mil pessoas concluiu que fumar aumenta em 30% o risco de um indivíduo apresentar dor na costas. “Há, ainda, indícios de que as substâncias encontradas no cigarro alteram a forma como o cérebro do paciente responde aos estímulos de dor, diminuindo esse limiar”, explica o especialista em coluna e dor.  “Estes dados reforçam a preocupação que o paciente e o médico devem ter com o tabagismo enquanto fator de risco para as doenças da coluna”, reforça o médico Juliano Fratezi.

O ortopedista alerta, ainda, para a recuperação dos pacientes quando estes largam o hábito de fumar. “É possível identificar uma melhora no quadro de dor quando comparamos aos que continuam fumando”, revela Fratezi, que ainda aponta alguns dos motivos que podem contribuir para este fator: “Muitas vezes, esses pacientes incluem na sua nova rotina a prática de atividades físicas, elevando ainda mais o nível de substâncias que ativam o prazer e diminuem a dor”, ressalta o especialista. 

 



Juliano Fratezi - médico ortopedista, especialista em coluna e pós-graduado em dor pelo IEP-Hospital Sírio Libanês, especialista em neuromodulação invasiva no tratamento da dor pelo INDOR-DF, membro da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC) e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).

Instagram: @drjulianofratezi - https://www.instagram.com/drjulianofratezi/

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70% dos casos de Doença de Chagas no Brasil se devem à transmissão via oral e açaí contaminado é um dos principais vilões


Estudo avalia 2.470 casos da doença transmitida via oral na América Latina, principalmente na Bacia Amazônica

 

Pela primeira vez, um estudo resume a distribuição geográfica, a fonte de infecção e a letalidade da doença de Chagas aguda transmitida via oral. Todos os 2.470 casos relatados desde 1965 ocorreram na América Latina e foram causados principalmente pela ingestão de açaí contaminado. A taxa de letalidade foi de aproximadamente 1%. O estudo – Case-fatality from orally-transmitted acute Chagas disease: a systematic review and metanalysis – (Letalidade por doença de Chagas aguda transmitida por via oral: uma revisão sistemática e metanálise) foi publicado no dia 9 de agosto na Clinical Infectious Diseases (CID – Doenças Infecciosas Clínicas), revista da Associação Americana de Doenças Infecciosas.

Segundo um dos autores do estudo, Miguel Morita Fernandes Silva, cardiologista da Quanta Diagnóstico por Imagem e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), os resultados oferecem informações para políticas públicas que podem ajudar a reduzir o impacto da doença de Chagas sobre a população. Como sempre, a prevenção é fundamental.

Embora a infecção por vetor (o inseto conhecido como “barbeiro”, que tem o Trypanosoma cruzi, parasita que causa a doença,) já tenha sido a mais comum, atualmente, no Brasil, a transmissão alimentar é responsável por até 70% dos casos. “Nas últimas duas décadas, os casos agudos de doença de Chagas relacionados ao consumo de alimentos contaminados ocorreram com maior frequência na Bacia Amazônica, em áreas com alta produção e consumo de açaí”, explica Dr. Morita. Quase metade dos casos foi diagnosticada no Pará, principal região produtora de açaí do mundo. Há como prevenir a contaminação e há medidas até obrigatórias em alguns estados, como Amapá e Pará, mas, segundo o estudo, nenhum programa de fiscalização por órgãos governamentais foi implementado para controlar a produção. 

Cerca de 10% da produção brasileira de açaí é exportada, o que corresponde a seis mil toneladas de celulose de açaí. Aproximadamente 90% dessa produção são destinados aos Estados Unidos e ao Japão. Até onde se sabe, no entanto, até o momento não há relato de doença de Chagas adquirida por via oral fora da América Latina. 

Outra população sob risco de contaminação, porém, são os viajantes que visitam a América Latina, onde é consumido o suco fresco do açaí com potencial de contaminação: “É importante que os consultores de saúde em viagens aconselhem os visitantes a evitar alimentos que tenham potencial contaminante ou a se certificar da origem e da segurança do alimento”, alerta o autor do estudo. Casos relatados de doença adquirida oralmente na Venezuela, Colômbia, Bolívia e Guiana Francesa não estavam relacionados ao consumo de açaí, mas de produtos mais populares nesses países, como majo, goiaba e manga.

 

Prevenção

Dr. Miguel Morita alerta ainda que o mal de Chagas é considerado uma doença negligenciada e que a transmissão oral da doença pode ser evitada com o controle do processamento de alimentos. Geralmente, o suco de açaí é preparado manualmente, durante a noite, quando os triatomíneos (“barbeiros”) são atraídos pela luz. “A contaminação pode ocorrer pela maceração dos triatomíneos no processamento da fruta ou pela deposição de suas fezes”, conta. Outra fonte de contaminação pode ser a da água usada no processamento da polpa por secreções de marsupiais infectados (os marsupiais são mamíferos que também podem ser contaminados pela doença). 

O governo brasileiro já emitiu um conjunto de regulamentos para prevenir a contaminação de alimentos com T. cruzi. Por exemplo, o "branqueamento", que consiste em submeter os frutos do açaí e do bacaba a uma temperatura de 80°C por 10 segundos e depois resfriá-los à temperatura ambiente. Outra ação preventiva é a pasteurização da bebida processada e posterior resfriamento. Infelizmente, segundo o estudo, não há programas de fiscalização por órgãos governamentais para controlar a produção de açaí. 

A doença de Chagas atinge 6 milhões de pessoas em todo o mundo e custa mais de 7 bilhões de dólares por ano para os sistemas de saúde. Embora seja há muito reconhecida como uma doença endêmica, restrita a países em desenvolvimento, a doença alcançou outras regiões do mundo nas últimas duas décadas, afetando imigrantes na Europa e nos Estados Unidos. Na América Latina, a doença causa cerca de 10 mil mortes por ano. Como nenhum tratamento específico se mostrou eficaz na prevenção de cardiopatias na doença de Chagas crônica, a detecção precoce e o tratamento na fase aguda são essenciais para reduzir seu impacto. Quando detectada e tratada adequadamente, na fase aguda a doença pode se resolver em 50-80% dos casos. No entanto, muitas vezes a doença não é detectada na fase aguda, o que resulta em altas taxas de letalidade, conforme relatado em alguns surtos no Brasil. 

As principais causas de morte entre pacientes com doença de Chagas aguda são miocardite e encefalite. Na manifestação crônica da doença, 20-30% das pessoas infectadas desenvolvem complicações cardíacas, como a insuficiência cardíaca, e a morte súbita é responsável por 55-60% das mortes e fenômenos tromboembólicos por 10-15%.

 

 



Quanta Diagnóstico por Imagem

www.quantadiagnostico.com.br

Imunoterapia é aprovada no Brasil para tratamento de câncer de fígado, um dos mais letais

 A combinação de atezolizumabe e bevacizumabe reduziu o risco de morte em 42% na comparação com o tratamento-padrão


Dois meses depois da FDA, a agência regulatória americana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de aprovar o uso da imunoterapia atezolizumabe associada ao antiangiogênico bevacizumabe, ambos da Roche, para a primeira linha de tratamento do carcinoma hepatocelular (câncer de fígado) metastático, irresecável ou sem tratamento prévio. O Global Cancer Observatory estima 700 mil mortes ao ano causadas pela doença, sendo o quarto tipo de câncer mais letal no mundo. Atualmente, a American Cancer Society aponta que somente 18% dos pacientes diagnosticados com câncer de fígado estarão vivos em cinco anos. No Brasil, foram 9.711 mortes em 2015, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).

O estudo de fase III IMbrave150, publicado em maio no periódico The New England Journal of Medicine, demonstrou que a combinação de atezolizumabe com bevacizumabe foi capaz de proporcionar um ganho significativo de sobrevida global e sobrevida livre de progressão, reduzindo o risco de morte em 42% comparado ao sorafenibe, terapia-alvo aprovada em 2009. O perfil de segurança da combinação foi consistente com os dos medicamentos em monoterapia e novos efeitos adversos ou inesperados não foram identificados.

De acordo com o oncologista Gustavo Fernandes, diretor do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, a quimioterapia convencional não tem benefício para esses pacientes. Já a terapia-alvo trouxe benefícios por muitos anos, mas foi superada pela combinação de imunoterapia e antiangiogênico largamente, com taxa de resposta muito superior, além de ganho de sobrevida global em um ano. Assim como em outras doenças em que a imunoterapia foi ativa, é real a possibilidade de que uma proporção dos pacientes esteja bem e com doença controlada em longo prazo, por anos. "É uma forte evidência de novo padrão de tratamento com potencial de transformar a história natural da doença", considera.

"É um grande progresso a aprovação de uma nova terapia sistêmica para o carcinoma hepatocelular avançado, associada a desfechos ainda melhores do que aqueles observados previamente com outros medicamentos", avalia Paulo Lisboa Bittencourt, coordenador da Unidade de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital Português-Bahia e presidente do Instituto Brasileiro do Fígado.

O hepatologista explica que a doença acomete principalmente pessoas com cirrose (98% dos casos, segundo um estudo brasileiro de 2009), causada por hepatites virais B e C, gordura no fígado (esteatose) ou consumo abusivo de álcool. Bittencourt acrescenta que a cirrose e o câncer de fígado não apresentam sintomas nos estágios iniciais. Levantamento recente do Datasus revela que 62% dos brasileiros com carcinoma hepatocelular tiveram diagnóstico tardio. A maioria deles nem sabia ser portador de cirrose.

"Quem tem carcinoma hepatocelular não tem apenas um tumor, mas duas doenças: câncer e cirrose. A depender do seu estágio, o tratamento pode incluir cirurgia, transplante de fígado, radiologia intervencionista e terapia sistêmica. No estágio avançado, apenas a terapia sistêmica tem evidência de benefício", completa o médico.

Atezolizumabe em combinação com bevacizumabe é o primeiro e único regime de imunoterapia aprovado para o câncer de fígado. "Hoje mais de 50% dos diferentes tipos de câncer podem ser tratados com imunoterapia e esse percentual aumentará ainda mais nos próximos anos", acredita o oncologista Gustavo Fernandes.

A Roche possui um programa de desenvolvimento para o atezolizumabe, incluindo estudos de fase III em andamento, em diferentes tipos de câncer de pulmão, geniturinário, pele, mama, gastrintestinal, ginecológico e de cabeça e pescoço. Esses estudos avaliam o atezolizumabe isoladamente ou em combinação com outros medicamentos.



Roche

http://www.roche.com.br


Incontinência Urinária, um problema que tem solução

Incontinência urinária é a perda involuntária de urina. Segundo a Sociedade Internacional de Incontinência (ICS), o fenômeno acomete tanto os homens como as mulheres; porém, é muito mais comum no sexo feminino e torna-se mais frequente com o envelhecimento. A perda urinária determina, além do constrangimento, uma piora significativa na qualidade de vida em razão de promover o isolamento social, restrição ao trabalho, ao lazer e alteração do humor.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, 35% das mulheres na pós-menopausa apresentam incontinência urinária de esforço. Entre as pessoas acima de 65 anos, esse número pode chegar a mais de 60%.

Segundo a Sociedade Americana de Urologia, aproximadamente um terço das mulheres adultas nos Estados Unidos relatam perdas urinárias, porém acredita-se que este número seja bem mais elevado, porque muitas pessoas não contam a ninguém sobre seus sintomas. Elas ficam envergonhadas ou pensam que nada pode ser feito, sofrendo em silêncio.

Vários são os fatores de risco para incontinência urinária:

Raça: mulheres brancas têm maior probabilidade de manifestar incontinência urinária de esforço em comparação com mulheres afro-americanas e asiáticas;

Obesidade: o aumento de peso determina uma maior pressão do intestino sobre a bexiga e os músculos do períneo;

• Algumas Doenças: Neurológicas (esclerose múltipla, doença de Parkinson, Acidente Vascular Cerebral, tumor cerebral ou uma lesão na coluna vertebral), Diabetes;

• Hábitos Alimentares que envolvam excesso de bebidas e/ou alimentos ricos em cafeína (chás, mates, refrigerantes, energéticos, pimentas, cítricos, chocolates, condimentos, etc);

• Uso de medicamentos para o controle de doenças cardíacas e pressão arterial, além de sedativos e relaxantes musculares;

• Doenças Transitórias: Infecção do trato urinário ou vagina, obstipação intestinal e estresse emocional;

Condição pré-existente ou antecedente que possa ter gerado um dano anatômico ou neurológico: gestações, partos, traumas, acidente vascular cerebral, doenças renais ou cardiovasculares, apneia do sono, envelhecimento, menopausa, histerectomia (cirurgia para retirar o útero/ovários), etc.

Os principais tipos de incontinência urinária nas mulheres, a saber, são:

• Incontinência Urinária de Esforço: A Incontinência Urinária de Esforço (IUE) é definida, segundo a ICS, como a perda involuntária da urina pelo meato uretral, secundária ao aumento da pressão abdominal, na ausência de contração do detrusor (músculo da bexiga), como por exemplo: ao tossir, espirrar, pular, andar, mudar de posição e rir intensamente. É o tipo mais comum de Incontinência Urinária e pode alcançar mais de 50 % das mulheres ao longo da vida. A perda urinária é resultado da falência da musculatura perineal e esfincteriana (estruturas musculares que atuam em conter a urina entre os intervalos miccionais).

 

Incontinência Urinária de Urgência: A Incontinência Urinária de Urgência é a perda de urina involuntária, precedida de súbito desejo miccional (bexiga hiperativa), sem relação com o esforço físico, geralmente associada a aumento da frequência miccional diurna e noturna. Estima-se que a incontinência urinária de urgência pura esteja presente em até um quarto das mulheres incontinentes. As pacientes normalmente relatam que percebem o desejo e não conseguem chegar ao banheiro, molhando a roupa.

• Incontinência Urinária Mista: A Incontinência Urinária Mista é a associação de sinais e sintomas da Incontinência de Esforço e de Urgência.

O diagnóstico da incontinência e seu tipo é realizado por uma análise detalhada do histórico clínico, somado a um exame físico dos genitais e solicitação de exames de urina, imagem - como ultrassonografia - e, em alguns casos, indica-se o exame endoscópico da bexiga (cistoscopia) e/ou o Exame Urodinâmico (exame que mostra se a bexiga consegue cumprir sua função: armazenar urina sob baixa pressão e proporcionar adequado esvaziamento). Recomenda-se também a elaboração de um diário miccional pelo paciente, que fará o relato da quantidade de líquidos ingeridos, volume urinado e seus respectivos horários por um determinado período.

O tratamento adequado será instituído após firmado o tipo de incontinência e pode envolver uma ou mais medidas terapêuticas, como:

• Mudanças comportamentais do estilo de vida e de hábitos alimentares;

• Controle da ingesta hídrica (horários e volumes);

• Programar horários para micções a cada 2-3 horas;

• Instituir fisioterapia para fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico e esfincteriana;

• Tratar infecções urinárias e vaginais;

• Melhora das condições do epitélio vaginal, com reposição hormonal, caso não tenha contraindicação ginecológica;

• Controle de doenças associadas (Neurológicas, Diabetes, Hipertensão, entre outras);

• Uso de medicações específicas: existem várias medicações de via oral e a toxina botulínica (Botox) para injeção intravesical em ambiente hospitalar;

• Tratamento Cirúrgico: existem várias técnicas, desde minimamente invasivas até a correção, dos defeitos anatômicos encontrados ("bexiga caída");

• Neuroestimuladores, aparelho (implantado cirurgicamente) que estimula nervos próximos à coluna, através de impulsos elétricos e que tem o objetivo de controlar a bexiga.

Não tenha vergonha de abordar o tema com seu médico. Ele saberá lhe orientar e tratar da melhor forma. Lembre-se: Incontinência Urinária tem tratamento.



 

Dr. Marco Aurélio Lipay - Doutor em Cirurgia (Urologia) pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), Titular em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia, Membro Correspondente da Associação Americana e Latino Americano de Urologia e Autor do Livro "Genética Oncológica Aplicada à Urologia".


Mudanças de temperatura afetam o sistema imunológico

 Os mais vulneráveis são crianças, idosos e portadores de doenças crônicas



Após o Brasil passar por uma onda histórica de frio, com temperaturas negativas e neve na região Sul, os dias de sol e calor voltam a surgir. Com isso, espirros, tosses e alergias também aparecem. Em épocas de variações climáticas, é preciso saber como proteger o sistema imunológico, principalmente durante a pandemia de Covid-19.

"O tempo frio e o aumento da poluição lesionam diretamente a mucosa do nariz, ressecando-a. Isto aumenta o risco de invasão de vírus e bactérias, e pode desencadear crises de asma, rinite e até ataques cardiovasculares", explica o pneumologista da Doctoralia, Ciro Kirchenchtejn .

Além do tempo frio, o confinamento causado pelo coronavírus faz com que a exposição ao sol diminua, interferindo diretamente na produção de vitamina D, essencial para o bom funcionamento do sistema imunológico. "Se durante o isolamento o indivíduo aumentar o consumo de álcool ou tabaco, também pode ter seu sistema imunológico prejudicado", alerta o pneumologista.

Ainda segundo o especialista, é importante reforçar a atenção aos hábitos que afetam diretamente o bom funcionamento no nosso corpo. "Ao invés de consumir produtos industrializados, as pessoas devem dar preferência aos alimentos in natura, fontes diretas de fibras e vitaminas que garantem a integridade das nossas defesas. Crianças, idosos e portadores de doenças crônicas merecem cuidados redobrados, pois são os mais vulneráveis neste período", revela Kirchenchtejn.

Para ajudar na proteção, é importante estar com a saúde em dia. "Todos devem ser vacinados para os agentes mais comuns, como a gripe e o pneumococo, e manter acompanhamento médico, a fim de garantir a estabilidade e a melhora das doenças crônicas", reforça o pneumologista.

Coronavírus

O frio pode aumentar a resistência do vírus no meio externo, como em corrimões, mesas e balcões. "Por isso, é fundamental manter o uso de máscaras e a higiene frequente das mãos, principalmente antes de levá-las ao rosto, além do isolamento social, pois a transmissibilidade é ainda maior com a junção de tempo frio e aglomeração em locais fechados", orienta o Dr. Ciro Kirchenchtejn.


Como tratar a Doença Celíaca por meio da alimentação?

Nutricionista do My Nutri, app criado pela n2b, fala sobre o distúrbio digestivo que pode ser confundido com outras doenças por conta dos sintomas


Atingindo quase 1 milhão de brasileiros, a Doença Celíaca hoje está presente em 1% da população mundial e é caracterizada pela intolerância permanente ao glúten, ocasionando na inflamação constante e intensa da mucosa do intestino após a ingestão de um alimento que apresente glúten em sua composição.

"O glúten é definido como uma proteína presente no trigo, cevada e centeio, ou seja, quando uma pessoa é diagnosticada com intolerância ao glúten, ao ingerir um alimento que apresente esta proteína, é desencadeado uma reação autoimune no organismo, que leva ao ataque nas paredes do nosso intestino, de forma intensa e constante", comenta Aryane Emerick, nutricionista do My Nutri.

Com a complexidade dessas doenças, a nutricionista explica: "É preciso ficar atento aos rótulos de cada alimento, verificando se há presença de glúten ou não. Além disso, é importante lembrar que o nosso intestino desempenha muitas funções e se ocorre agressões constantes a este órgão, isso pode ocasionar em outras doenças, principalmente na saúde mental e física".

Segundo Aryane, as causas da doença celíaca são: genética, imunológica e ambiental. "A maioria dos casos ocorrem na infância, entretanto, há casos de indivíduos que apresentam a intolerância na vida adulta e apresentam como sintomas: Diarréia, vômitos, perda de peso, dor de cabeça, dor articular, além de fraqueza", completa a profissional.

A nutricionista alerta que por os sintomas serem bem comuns, as pessoas acabam confundindo com outras doenças. "Neste caso específico há a necessidade de um médico, mas especificamente um gastroenterologista, para avaliar e através de um exame mais específico fechar o diagnóstico dessa intolerância.", recomenda Aryane.

Pessoas que desenvolvem esse distúrbio digestivo apresentam uma diminuição das microvilosidades na mucosa do intestino, que associados ao processo de inflamação intensa, pode auxiliar na diminuição da produção da enzima lactase no nosso organismo, gerando um quadro de intolerância à lactose.

"O tratamento da doença celíaca é através da alimentação, então o ideal é ficar sempre atento aos rótulos dos alimentos e excluir alimentos que contenham glúten. Para não passar vontade de comer algumas coisas, é possível buscar opções e adaptar receitas convencionais", finaliza Aryane.

 

 

 

Aryane Emerick - nutricionista chefe da n2b, formada pelo Centro Universitário São Camilo (junho/2017), pós graduada em Nutrição Clínica Funcional pela VP Consultoria (fev/2020) e pós graduanda em MBA de Gestão em Saúde no Centro Universitário São Camilo

 

N2B

http://n2bbrasil.com


29.08 DIA NACIONAL DO COMBATE AO FUMO

COMO O TABAGISMO PODE AFETAR A FERTILIDADE?

Especialista da Criogênesis esclarece questões relacionadas ao tema


Em 29 de agosto comemora-se o Dia Nacional do Combate ao Fumo. Criada em 1986 pela Lei Federal 7.488, a data tem como objetivo reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população para os danos causados pelo tabaco. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de cigarro é responsável pela morte de 2 em cada três fumantes, além de trazer diversos prejuízos à saúde.

As substâncias presentes nos cigarros podem provocar doenças cardíacas, respiratórias e ainda afetar a fertilidade masculina e feminina. "Alguns estudos apontam que mulheres fumantes não possuem uma capacidade fisiológica de gerar um bebê tão eficientemente quanto as não-fumantes. Além disso, as taxas de infertilidade em fumantes de ambos os sexos são cerca de duas vezes maiores que as taxa de infertilidade encontrada em não-fumantes", comenta Dr. Renato de Oliveira, ginecologista da Criogênesis.

Estudos realizados em animais apontam uma diminuição no tamanho dos ovários, além de alteração do crescimento, número e amadurecimento dos óvulos produzidos - eventos fundamentais para a reprodução humana. Em seres humanos, pesquisas demonstram a presença de cotinina - metabólito da nicotina - no líquido folicular de mulheres que fumam. Fumantes passivas - que inalam fumaça de terceiros -, também apresentaram doses da substância.

O especialista alerta que o consumo de tabaco diminui a produção de espermatozoides e provoca alterações em seu DNA. Ou seja, homens fumantes têm chances de produzir uma quantidade menor de espermatozoides saudáveis, com a motilidade reduzida e alterações na sua morfologia. Diminuem também a quantidade de protamina, proteína responsável pela formação de cromossomos durante a fase da fecundação.

Com isso, abortos espontâneos e taxas de deficiências no nascimento são maiores entre as pacientes fumantes, mesmo em casos de tabaco sem fumaça. "As mulheres que fumam são mais propensas a conceber uma gravidez cromossomicamente insalubre, como por exemplo, bebês com síndrome de Down, gravidez ectópica e parto prematuro", ressalta o Dr. Renato.

O cigarro também compromete a vascularização da circulação placentária (que é extremamente necessária para o desenvolvimento adequado do feto), propiciando graus variados de sofrimento fetal.

Mesmo nos tratamentos de fertilidade, como a fertilização in vitro (FIV), os danos causados pelo tabaco podem levar a sérios impactos negativos. Fumantes do sexo feminino precisam de mais medicamentos estimuladores do ovário durante a fertilização e possuem menos óvulos. Além disso, as taxas de gravidez são 30% menores em comparação com as pacientes de FIV que não fumam.

"Engravidar sendo fumante ativo ou passivo causa consequências danosas à saúde do bebê. Além do risco já mencionado de aborto e de gravidez ectópica, caso a gravidez vá adiante, a fertilidade do próprio feto pode ser prejudicada no futuro. Caso seja uma menina, sua reserva ovariana pode ser diminuída e, no caso de menino, é possível que ele se torne infértil no futuro. Pela própria saúde e pela saúde dos seus descendentes, é preciso parar de fumar antes de engravidar", conclui o profissional.

 


Criogênesis

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Mutação não hereditária atua como terapia gênica natural em paciente com doença rara

 

 Pesquisadores do Centro de Terapia Celular da USP identificaram uma alteração não herdada em células do sangue de paciente com síndrome de deficiência da GATA2 que pode ter impedido a falência da medula óssea e outras manifestações clínicas (tecido pulmonar de paciente com síndrome da deficiência de GATA2, no qual é possível notar proteinólise alveolar e infiltrado inflamatório linfoplasmacítico; imagem: CTC/divulgação)

 

Pesquisadores vinculados ao Centro de Terapia Celular (CTC) da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, identificaram, pela primeira vez, uma mutação não hereditária em células do sangue de um paciente com síndrome de deficiência da GATA2 – doença rara causada por uma mutação herdada no gene que codifica a proteína homônima.

A mutação não hereditária (somática) pode ter atuado como uma terapia gênica natural, impedindo que o processo de renovação celular do sangue (hematopoiese) fosse prejudicado pela doença e que o paciente desenvolvesse as manifestações clínicas típicas, como falência da medula óssea, surdez e obstrução do sistema linfático (linfedema), estimam os pesquisadores.

Os resultados do estudo, publicado na revista Blood com destaque na capa e no editorial, abrem a perspectiva de utilização de terapia gênica e de mudanças no aconselhamento genético de famílias com a doença hereditária.

“Ao identificar um paciente com mutação germinativa [herdada] na proteína GATA2 é preciso pesquisar a família, porque pode haver casos silenciosos”, diz à Agência FAPESP Luiz Fernando Bazzo Catto, primeiro autor do estudo.

Catto realiza doutorado na USP de Ribeirão Preto sob a orientação do professor Rodrigo Calado, coautor do artigo e integrante do CTC – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP.

O paciente foi identificado por meio do atendimento médico de seus dois filhos no Hemocentro de Ribeirão Preto.

Um dos filhos foi diagnosticado com anemia aplástica moderada – em que o organismo deixa de produzir uma quantidade suficiente de novas células sanguíneas – e artrite psoriática. O quadro de falência da medula óssea e a consequente queda na produção de células do sistema imune, como linfócitos e monócitos, se agravaram nos cinco anos seguintes, e ele faleceu com 27 anos por infecção pulmonar.

O sequenciamento do DNA a partir de leucócitos e fibroblastos da pele do jovem após a morte revelou que ele apresentava uma mutação germinativa no gene da GATA2 e confirmou o diagnóstico de deficiência da proteína.

Os resultados do sequenciamento de leucócitos e fibroblastos da pele do segundo filho, atendido na instituição pela primeira vez aos 25 anos e com histórico de infecções pulmonares recorrentes, hipotireoidismo, trombose e surdez, também indicaram a presença de mutação germinativa no mesmo local do gene.

A fim de identificar de qual genitor herdaram a mutação, os pesquisadores sequenciaram o DNA da mãe e do pai dos dois irmãos. Os resultados indicaram que a mãe não apresentava a alteração e o pai, com 61 anos, possuía uma mutação idêntica à dos filhos, tanto nos espermatozoides como em fibroblastos da pele. Porém, não apresentava manifestações clínicas da doença e as contagens sanguíneas e de linfócitos estavam dentro da faixa normal.

“Com essa descoberta surgiu a dúvida se o pai tinha transmitido a mutação para os filhos ou se adquiriu, mas não passou para eles”, conta Catto.

Para elucidar essa questão, foi sequenciado o DNA da medula óssea do pai para estimar a porcentagem de células do sangue normais, que fez com que não apresentasse manifestações clínicas da deficiência de GATA2, e as de remanescentes, semelhantes às dos filhos.

Os resultados do sequenciamento de última geração mostraram que 93% dos leucócitos do pai apresentavam a mutação somática que confere proteção contra as manifestações clínicas da deficiência da GATA2 e os 7% restantes carregavam a mutação associada à doença rara. “Esses 7% restantes são remanescentes do clone original”, explica Catto.

Perspectivas de tratamento

Os pesquisadores também avaliaram se a mutação somática identificada no pai era capaz de induzir a produção de células normais do sangue por um longo período. Para isso, sequenciaram linfócitos T, que têm uma longa vida útil.

Os resultados das análises mostraram que a mutação somática ocorreu no início da vida dessas células e do desenvolvimento de células-tronco hematopoiéticas – com potencial para a formação do sangue.

“É muito provável que o pai adquiriu essa mutação somática no sangue há muito tempo”, estima Catto.

Já para avaliar se as células sanguíneas do paciente são capazes de manter a atividade também por um longo tempo foi medido o comprimento telomérico de leucócitos do sangue periférico. Os telômeros são estruturas existentes nas pontas dos cromossomos que servem para proteger o DNA. Toda vez que a célula se divide, essas estruturas diminuem de tamanho, até um momento em que a célula não consegue mais se proliferar e morre ou entra em senescência. Mas os resultados da pesquisa indicaram que os telômeros dos leucócitos analisados eram longos.

“Isso indica que essas células sanguíneas são capazes de manter a atividade por um longo tempo, sem serem exauridas”, explica Catto.

Uma das hipóteses levantadas no estudo é que a existência da mutação somática em células sanguíneas e a recuperação do processo de renovação celular do sangue promovido por ela podem ter contribuído para o paciente não apresentar manifestações extra-hematológicas da síndrome de deficiência de GATA2, como surdez, linfedema e trombose. Dessa forma, a recuperação precoce da hematopoese em pacientes com a doença por transplante ou, futuramente, por terapia gênica pode ser benéfica e evitaria outras complicações clínicas, sugerem os autores do estudo.

“O paciente fez uma terapia gênica natural. Basicamente, ele fez um ensaio experimental que abre a perspectiva, agora, de mimetizar esse fenômeno em estudos de terapia gênica em pacientes com GATA2 em médio prazo”, avalia Calado.

Além de contribuições para avanço no tratamento da doença e no aconselhamento genético de pacientes, o estudo também amplia o entendimento da biologia das células-tronco hematopoiéticas, afirma Calado.

“Os resultados do estudo permitem avançar no entendimento de como as células-tronco conseguem se recuperar, consertando um defeito genético inicial”, ressalta.

O artigo Somatic genetic rescue in hematopoietic cells in GATA2 deficiency (DOI: 10.1182/blood.2020005538), de Luiz Fernando B. Catto, Gustavo Borges, André L. Pinto, Diego V. Clé, Fernando Chahud, Barbara A. Santana, Flavia S. Donaires e Rodrigo T. Calado, pode ser lido por assinantes da revista Blood em https://ashpublications.org/blood/article-abstract/136/8/1002/461035/Somatic-genetic-rescue-in-hematopoietic-cells-in?redirectedFrom=fulltext.

E o editorial Natural gene therapy in hematopoietic disorders: GATA too, de autoria de Marjolijn C. Jongmans e Roland P. Kuiper, pode ser lido em https://ashpublications.org/blood/article/136/8/923/463248/Natural-gene-therapy-in-hematopoietic-disorders.
 

 

Elton Alisson

Agência FAPESP 

https://agencia.fapesp.br/mutacao-nao-hereditaria-atua-como-terapia-genica-natural-em-paciente-com-doenca-rara/33987/

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