DRC afeta 10% da população mundial e é a
principal causa de transplantes de rim
Celebrado neste ano em 12 de março, o Dia Mundial do
Rim marca a realização de ações globais com o objetivo de divulgar informações
relacionadas à prevenção das doenças renais. O foco da campanha de 2015 é
alertar a população sobre a importância da adoção de hábitos que garantem a
saúde dos rins.
Segundo a médica nefrologista e presidente da Sociedade
Brasileira de Nefrologia (SBN), Carmen Tzanno, levar uma vida saudável é uma
das formas mais eficientes de prevenir a doença renal crônica (DRC),
caracterizada pela perda progressiva e irreversível das funções renais.
“A DRC é a causa mais comum de transplante de rim, já
que o órgão vai tendo seu funcionamento prejudicado. Ele perde progressivamente
a capacidade de filtrar as toxinas do corpo, até que não haja outra opção além
da diálise ou o transplante”, salienta Carmen.
Problema
global
A
nefrologista explica que a DRC afeta cerca de 10% de toda a população mundial,
mas esse número aumenta muito conforme o envelhecimento. Em pacientes que estão
entre os 65 e 74 anos a incidência chega a ser de um em cada cinco homens e uma
em cada quatro mulheres. Indo além, constata-se a estatística de que metade da
população idosa acima de 75 anos possui DRC em algum estágio.
Dados
como estes confirmam a importância de campanhas de conscientização sobre a
adoção de hábitos saudáveis. Com a idade, é natural que nossa função renal seja
prejudicada, por isso é vital ter um estilo de vida que afaste problemas como
obesidade, diabetes e principalmente hipertensão arterial, a principal causa de
DRC.
Qualidade
de tratamento
O
avanço da doença renal crônica faz com que o paciente passe a depender de
diálise, tratamento que substitui as funções de filtragem do órgão. Com o
envelhecimento da população brasileira é natural que cada vez mais pacientes
procurem clínicas especializadas.
Atualmente,
os pacientes renais possuem duas opções básicas enquanto esperam por um
transplante – a hemodiálise e a diálise peritoneal. Na primeira e mais
conhecida, uma máquina faz esse trabalho em sessões de filtragem do sangue, que
podem durar até quatro horas, repetidas três vezes por semana. Por conta disso,
é comum que as terapias às quais são sujeitos os pacientes renais crônicos
sejam associadas à perda de liberdade e qualidade de vida.
Na
diálise peritoneal, por sua vez, é utilizada uma membrana do próprio corpo para
filtrar toxinas. Após uma pequena cirurgia ambulatorial para a introdução de um
cateter no abdômen, chamado de acesso, o tratamento começa com uma solução de
diálise peritoneal. Esse líquido flui para dentro e para fora da cavidade
peritoneal através do cateter, retirando as toxinas. A solução que contém os
resíduos é drenada do peritônio e, após algumas horas, substituída por uma
solução limpa.
O presidente da Federação Nacional das Associações de
Pacientes Renais e Transplantados do Brasil (Fenapar), Renato de Jesus Padilha,
explica que dessa forma os ganhos de liberdade são enormes. “Após um processo
de treinamento na unidade de diálise, o paciente pode assumir seu próprio
tratamento, fazendo a substituição do fluído peritoneal em sua própria
residência. Assim ele pode até mesmo viajar.”
Dificuldade
de acesso
O
presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante
(ABCDT), Hélio Vida Cassi, conta que existem entraves jurídicos que podem
comprometer o acesso de um número cada vez maior de pacientes renais a
tratamentos de qualidade. O valor pago pelo governo pela sessão da hemodiálise
está há dois anos sem reajuste.
“No
último, em março de 2014, o valor foi fixado em R$ 179,03. Já naquela época
havia a necessidade de uma recomposição emergencial de reembolso por sessão que
chegasse a pelo menos R$ 232. O mesmo se aplica à diálise peritoneal, já que
houve um reajuste nos procedimentos envolvidos, como a implementação de
cateter, mas não no tratamento em si”, afirma.
Ele
explica que os custos das clínicas sobem muito mais do que esse repasse do
governo. Um exemplo é o gasto com honorários de médicos e outros funcionários.
“Se compararmos o aumento do salário mínimo e da hemodiálise no período entre
1999 e 2014 vemos que o salário aumentou 432%, contra um acumulado de apenas
91% do procedimento”, diz Cassi.
A
mesma discrepância aparece no comparativo entre o aumento do número de clínicas
e o de pacientes. No período entre 2000 e 2014 o montante de pacientes renais
subiu 134%. O de clínicas disponíveis para atender a essa população, por sua
vez, apenas 41,98%.
Melhores
condições
Em
março de 2014 o Ministério da Saúde publicou a portaria nº 389/14, propondo que
as clínicas prestadoras do SUS façam o atendimento ambulatorial pré-diálise com
uma equipe multiprofissional, formada por médico nefrologista, psicólogo,
assistente social e nutricionista. Outra meta fixada é que em dois anos pelo
menos 25% dos pacientes renais sejam tratados com diálise peritoneal.
Para o presidente
da ABCDT, as propostas de tratamento integral são muito positivas para a
população, mas insustentáveis financeiramente nos parâmetros atuais. “Seria um
avanço enorme em relação à prevenção e ao tratamento das doenças renais no
Brasil, sem dúvida. Mas é fundamental que o Ministério perceba que as condições
às quais as clínicas são submetidas inviabilizam totalmente que a portaria
nº389/14 seja colocada em prática”, finaliza.