Escrevi um artigo no mês passado, em um dos maiores
jornais do país, questionando este “novo” normal e recebi muitas mensagens de
pessoas concordando e poucos discordando.
Na sua concepção, que é este “novo” normal? Dizem
que após a pandemia e a quarentena voltaremos mais conscientes, mais
sustentáveis, mais digitais e com mais discernimento de algumas atitudes.
Muitos, que puderam ficar em casa, acabaram
estudando via internet, ajudando os seus filhos na educação em casa, comprando
via aplicativos do celular, ajudando as lojas e restaurantes do seu bairro,
comprando de pessoas que faziam comida, etc. E, além de tudo, fazendo muitas
doações. Segundo o Monitor das Doações da ABCR (https://www.monitordasdoacoes.org.br),
chegamos a R$ 5,9 bilhões de reais doados. Só o sistema financeiro os bancos e
quem trabalha com o dinheiro, acabou doando cerca de 30% deste valor; o setor
de alimentos e bebidas 13%; as empresas de mineração 9%; e as campanhas de
doação e lives foram responsáveis por 8%. E ainda, 5% doados por pessoas e
famílias em sistemas de “vaquinhas” virtuais, como as plataformas Sharity ou a
Kickante.
Mas o questionamento não é em relação a estas
mudanças de comportamento durante a pandemia, pois realmente nunca tínhamos
passado por uma situação parecida com esta nestes tempos modernos. Temos, na
verdade, que perguntar ou ficar indignados pois não podemos chamar de normal os
tempos antes da quarentena. Se chamarmos o antes de normal, estamos aceitando e
consolidando a enorme desigualdade social; a morosidade pelas questões
ambientais como o desmatamento e o aquecimento global; a crescente polarização,
ódio e linchamento nas redes sociais; o racismo em todos os seus níveis; a
preocupação do crescimento pelo crescimento, sem o foco na humanidade; o
consumo inconsciente; entre outros grandes desafios das nossas gerações.
Estas “normalidades” podem ser aceitas por pessoas
que acreditam em um mundo que não se pode mudar, influenciar, mobilizar ou
normalizar. “Isso é coisa de sonhador, Marcus”, já me disseram várias vezes. “O
mundo é assim e ponto”. “O sistema funciona assim”. “Não dá para mudar”.
“Cresça e seja adulto, Naka”. “Mudar para quê? Se está bom assim”. Pois é,
muitas destas frases que já escutamos e que continuamos “normalmente” ouvindo.
Anormalidades, não é?
E o mais estranho é que continuamos assistindo nas
telas pessoas inconformadas com estes “normais” como em Matrix e Star Wars, ou
ainda, nas séries 3% e Expresso do Amanhã, da Netflix. Talvez seja exagero
cinematográfico e mercadológico uma revolução armada, mas muito interessante
focar o direcionamento para um verdadeiro normal em busca de reais melhorias
para todos e para o planeta.
Neste final de junho e começo de julho tivemos
várias conferências e webinares de organizações que estão nesta trilha em busca
desta “Normal Idade” (era do normal) como a Conferência do Instituto Ethos (https://www.conferenciaethos.org);
o Fórum Impacta Mais ON, realizado pelo ICE, Impacta HUB São Paulo e Vox
Capital, que você pode assistir alguns dos debates em https://www.youtube.com/c/FórumdeInvestimentoseNegóciosdeImpacto;
o Festival ABCR, que enfatizou as doações e as ações de captação de recursos no
país (https://festivalabcr.org.br);
além das “pandemias” de LIVES como o Diálogos Envolverde (https://envolverde.cartacapital.com.br/dialogos/);
e muitos mais. Ou seja, tem muita gente fazendo, debatendo e assistindo este
movimento que busca um normal real. E temos parâmetros, objetivos e postulados
para esta temática que muitos acham utopia.
Sim, será NORMAL quando conseguirmos fazer com que
todos conheçam, entendam e pratiquem os Direitos Humanos e os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Nestes documentos está o que,
racionalmente, muitos países e pessoas se juntaram para falar o que seria
normal para as pessoas e planeta. São metas, indicadores e paradigmas para
serem trabalhados. Gosto de falar que é um “sonho comum” da humanidade. Temos
que evoluir todos juntos, regenerar o planeta e buscar soluções inclusivas,
equitativas, em larga escala e para todos.
Buscar um normal de verdade, talvez seja este
“propósito” que muita gente está procurando alcançar em livros, cursos, workshops
e palestras. Fazer acontecer um normal de verdade é o que temos que
realizar no nosso dia a dia. Em cada escolha, em cada compra, em cada ação
nossa.
Ah, comece já parando de falar deste conceito
“novo” normal!
Marcus Nakagawa - professor da ESPM; coordenador do
Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro
da Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de
vida. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos e 101 Dias com
Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).
@ProfNaka