Oftalmologistas alertam para os riscos à visão com
o aumento do tempo em frente às telas de smartphones, tablets, TVs e
computadores
Com as normas de distanciamento social necessárias
para o combate à pandemia da COVID-19, cada vez mais as pessoas, adultos e
crianças, estão usando smartphones, tablets, TVs e computadores, seja para o
trabalho, no chamado home office, seja para trabalhos escolares ou diversão e
passatempo. A quarentena trouxe novos hábitos (ou acentuou ainda mais os
existentes), como o uso excessivo de equipamentos eletrônicos. No entanto, essa
nova rotina reforça um fenômeno já detectado anteriormente com o aumento do uso
de computadores e que vem se acentuando: a Síndrome Visual Relacionada a
Computadores (SVRC), uma série de sintomas visuais, entre os quais cansaço,
sensação de corpo estranho nos olhos, ardência, dor, irritação, vermelhidão,
ressecamento e turvação.
O problema é que a mesma tecnologia que ajuda a
manter o trabalho e os estudos em dia, também pode provocar ou agravar
distúrbios oculares. As crianças, que antes tinham em tablets, computadores e
smartphones uma fonte de diversão, passaram a utilizar esses aparelhos também
para aulas e comunicação com parentes e amigos distantes, aumentando a
quantidade de horas diante das telas. De acordo com a Sociedade Brasileira de
Oftalmologia (SOB), estima-se que até 90% dos usuários de computador por mais
de três horas diárias apresentam algum tipo de sintoma relacionados à SRVC.
Uma das principais causas desse cansaço visual é o
ressecamento ocular, a chamada Síndrome do Olho Seco. A diminuição do piscar,
associada a outras condições ambientais, oculares e sistêmicas, com o ar
condicionado, ventiladores, pouca ingestão de líquidos, uso de medicamentos
(diuréticos, betabloqueadores) e o fumo, podem contribuir para a falta de
lubrificação dos olhos e agravar a SVRC.
Números – Relatório
da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o uso constante de tecnologia
está agravando uma condição que já vem sendo considerada pelo organismo uma
epidemia globalizada: a miopia. Segundo a OMS, em 2050, cerca de 52% da
população mundial terá desenvolvido a doença. E apesar do estudo não ter
mostrado ainda um quadro alarmante para o Brasil, ele destaca que a prevalência
da miopia e da alta miopia já está avançando aqui no país mais do que a média
global mundial. Enquanto no âmbito mundial estima-se, que entre 2020 e 2050,
49% desenvolverão a miopia, aproximadamente 596,51 milhões de pessoas; no
Brasil os números projetam um aumento de 6,8 milhões casos para 12,9 milhões,
ou seja, 89% de crescimento.
Um estudo publicado recentemente na Ophthalmology,
a revista da Academia Americana de Oftalmologia, trouxe evidências de que pelo
menos parte do aumento mundial da incidência de miopia, dificuldade em enxergar
ao longe, tem a ver com o uso excessivo de eletrônicos. No Brasil, em 2014 um
estudo realizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia já mostrava que 21%
das crianças entre 9 e 13 anos que utilizavam computador, videogame ou afins
por seis horas ininterruptas desenvolveram algum grau de miopia.
Os oftalmologistas estão receosos que a necessidade
de adaptação dos hábitos de trabalho, estudo e diversão, motivada pela
quarentena imposta pelo combate ao Covid-19 possa acelerar esse processo.
De acordo com Dra. Aline Ruppert, do HCLOE, empresa
do Grupo Opty, a luz desses aparelhos pode ocasionar danos à visão. “Já foi
comprovado por estudos que o efeito da radiação emitida pela luz azul de TVs,
celulares, computadores e tablets pode gerar nas células da retina uma fototoxicidade,
uma lesão semelhante à queimadura solar na pele”, afirma a especialista em
retina e glaucoma cirúrgicos.
Recomendações –
Sabendo-se que a maioria dos indivíduos pisca de 10 a 15 vezes por minuto – e
que estudos mostram que esta taxa pode diminuir até 60%, quando o usuário está
em frente a uma tela –, recomenda-se que pequenas pausas de 5 a 10 minutos por
hora sejam feitas pelo usuário. Além disso, os turnos de 4 horas no computador,
smartphone e tablets devem ser interrompidos para pausas maiores. Para evitar
ainda mais desconforto visual, sob prescrição médica, é indicado o uso de
colírio hidratante (sem cortisona) de 2 a 4 vezes por dia.
Para cada idade existe uma recomendação do tempo
ideal para a utilização dos eletrônicos. O oftalmologista pode orientar os pais
quanto a esses limites. Normalmente, recomendam-se atividades ao ar livre como
forma de evitar ou frear o desenvolvimento da miopia, uma vez que esse problema
de refração está relacionado não somente a fatores genéticos, mas também com aspectos
ambientais/comportamentais. No entanto, em tempos de pandemia, intercalar as
atividades em frente às telas com outras que não exijam tanto da visão é a
indicação.
Para quem usa lente de contato, o ideal, durante
esse período de isolamento, é deixar as lentes de lado e usar os óculos. Em
caso de graus altos, se essa opção não for possível, é importante ter o cuidado
redobrado ao lavar as mãos, com água e sabão, antes de colocar ou retirar as
lentes de contato, além de higienizar adequadamente, com os produtos indicados,
as lentes e o estojo.
O diagnóstico de problemas visuais gerados pela
exposição excessiva a tela de eletrônicos é feito em consultas periódicas com
um especialista. “Ao sinal de qualquer incômodo, o recomendado é realizar uma
avaliação com o oftalmologista para indicação do tratamento que proporcione
conforto e proteção à luz. Muitos consultórios estão trabalhando com
teleorientação, para facilitar o acesso aos médicos”, diz a oftalmologista. Ela
também afirma que é possível encontrar no mercado, inclusive, lentes
fotossensíveis que se ajustam à luminosidade do ambiente”.
Dicas para o dia a dia
- Em tempos de pandemia, na impossibilidade de sair de casa para realizar
passeios ao ar livre, intercale as atividades em frente às telas com
outras que não exijam tanto da visão, como brincadeira com os filhos,
alguma tarefa doméstica e hobbies.
- Realizar intervalos frequentes enquanto estiverem utilizando esses
equipamentos. A cada 20 minutos, retirar o olhar da tela e focalizar
objetos distantes, por cerca de 20 segundos.
- Ajustar as configurações de brilho e contraste das telas também é
uma alternativa para preservar a saúde dos olhos.
- Monitore crianças e jovens para não aproximarem demais dos olhos os
celulares, tablets e computadores — eles devem ser mantidos a uma
distância mínima de 30 cm da face.
Grupo Opty